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PARADA LGBT 2016
Orgulho e Resistência: O que é para nós a Parada LGBT
Marie Castañeda
Estudante de Ciências Sociais na UFRN
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Ontem foi a 20ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, a hora das LGBTs brilharem na Paulista e tornar impossível dizer que não existimos. As sensações, emoções e vontates foram tantas, subir no ônibus e reconhecer em alguns olhares os planos do dia, vozes exaltadas, roupas chamativas (ou não) e muito close. O metrô vira uma sensação: em duplas, trios e grupos as LGBTs vão se juntando, alguns gritos agudos, uma barulheira e sorrisos. Tantos sorrisos. Uma sensação engraçada de pertencimento e liberdade e a vontade de gritar a todo tempo que somos sim LGBTs, tão tão tão LGBTs que não tem reacionário que aguente. E estes que nos engulam.

Subindo as escadas do metrô a dimensão do que é a Parada LGBT toma mais corpo, mal dá pra se mexer e novamente: é tanta LGBT. Nessa hora nós não nos aguentamos e começamos a cantar: “as bi, as gay, as trava, sapatão, tá tudo organizada pra fazer revolução”! E as cabeças se voltavam pra nós, sorriam, batiam palmas e a ansiedade de chegar na Avenida não cessava.

17 trios elétricos e mais de 2 milhões de pessoas. Música no último volume e outra vez os sorrisos e uma energia que toma o corpo todo. Não é apenas umas festa a céu aberto. É a nossa vez de mostrar que existimos, resistimos e vamos sim fechar a Paulista para dançar, nos divertir, beijar e evidenciar novamente que não aguentamos mais viver encarcerados, escondidos e intimidados.

E assim, para começar a fazer jus aos gritos entalados em nossas gargantas todos os dias, a cada metro encontrávamos mais algum pequeno grupo de amigos com cartazes como “Nome Social é Direito”, “Ana Valadão não me representa”, “Contra a Cultura do Estupro”. E muitas, mas muitas faixas contra Temer, o Presidente Golpista. Gosto de pensar que em cada rebolada, Temer, Bolsonada, Feliciano e Malafaia tremeram um pouco.

Ou seja, foi impossível tornar a Parada LGBT de 2016 uma festa a céu aberto esvaziada de manifestações políticas, ainda que tenha sido essa a imposição da Organização da Parada. Até porque, Viviane Beleboni, uma modelo trans que já havia performado ano passado crucificada e denunciando o assassinato das LGBTs no Brasil, este ano estava a frente de um carro vestida de “Medo”, um figurino sobre a justiça com os olhos e rosto cobertos pela Bíblia e pela bancada evangélica e também uma mordaça na boca.

Ainda que seja absurdo dizer que não existe nada de político em 2 milhões de LGBTs celebrando seu Orgulho na Paulista. E levantando como um todo a Lei de Identidade de Gênero. Parte dos nossos recados estão dados e a percepção de quantos somos os que resistem cotidianamente à LGBTfobia, para nós próprios agora é real. 2 milhões exercendo em uma tarde de domingo sua sexualidade e seu gênero livremente. Quão perigoso e potente é isso?

Mas ao mesmo tempo, insuficiente pela dimensão de ataques que estamos sofrendo por parte do Governo Temer e sua corja reacionária. Mais do nunca, é necessário que as LGBTs conheçam sua própria história de resistência e luta e que figuras como Marsha P Johnson, travesti, negra e trabalhadora da Revolta de Stonewall, se torne conhecida de verdade. O estopim da nossa luta foi nesta Revolta de 1969 em Nova York, foram as mulheres trans, travestis e lésbicas causando um levante de três dias ininterruptos, prendendo a polícia em um bar e atiando fogo. Na Parada LGBT de 1986 na Inglaterra, quando após a história greve de mineiros apoiada por um grupo de Lésbicas e Gays, foram justamente estes que se juntaram à luta LGBT. Não podemos ser reféns do Pink Money.

E nesta manhã seguinte a Parada LGBT, na qual o Orgulho de ser Lésbica e fazer parte disto ainda não deixou meu sorriso, eu não quero medir esforços para que a cada LGBT assassinada, cada voz naqueles 2 milhões ecoe. Porque não aceitamos mais viver assim. E é urgente que nos coloquemos ao lado das Mulheres, Negras, Trabalhadoras: não dá mais!

 
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