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GRAVAÇÕES DE MACHADO
Em gravação, Renan Calheiros articula golpe e ‘passar a borracha’ na Lava Jato
Artur Lins
Estudante de História/UFRJ

O presidente do senado, e atual vice-presidente da República, Renan Calheiros teve um áudio seu com Sérgio Machado divulgado. Nele a conspiração golpista toma mais detalhes, bem como o medo de Aécio de ser atingido pela Lava Jato é repetido. Neste áudio, com o que foi revelado, há continuidade do trabalho de Jucá em prol de um pacto de impunidade.

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A crise política brasileira dá novos passos. Há três dias, a Folha de São Paulo divulgou uma gravação entre o ex-ministro do planejamento Romero Jucá (PMDB) e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, em que está revelada a articulação do golpe institucional contra o PT – organizada pelos principais partidos burgueses da oposição, pelo próprio PMDB e pelo Poder Judiciário – e a decisão de frear as delações premiadas da Operação Lava Jato para não atingir os corruptos e golpistas do Congresso.

Nessa quarta (25) a Folha de São Paulo divulgou mais dois áudios, um com Sarney e outro de uma conversa entre Sérgio Machado e o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB), que comprova mais uma vez a articulação do golpe, os acordos para derrubar o governo Dilma e a tentativa desesperada de frear a Operação Lava Jato devido a ela acertar muitos políticos de diversos partidos, inclusive o PSDB.

O pacto nacional golpista entre os políticos e o Judiciário

Durante quase toda a gravação, Renan Calheiros e Sérgio Machado insistem que o governo Dilma é insustentável e que ele não é mais competente para resolver a crise econômica. Para eles a saída é derrubar Dilma e “passar a borracha no Brasil”, para isso formando um “pacto” nacional entre a oposição de direita, a ex-base aliada de direita do PT e o Poder Judiciário para conformar um governo ilegítimo.
Machado insiste que o governo Dilma não se sustenta mais e que “ela (Dilma) só tem três saídas: licença, renúncia ou o impeachment. E vai ser rápido”, mas para isso era necessária a articulação com os demais partidos burgueses e com os ministros do STF, para que esses últimos não interferissem no processo de impeachment. Renan sugere uma negociação com membros do STF para a transição do governo Dilma.

Na articulação do golpe Renan Calheiros expressa cautela, pois à época ainda estava muito recente a medida coercitiva de Lula por Sérgio Moro, o que causou a indignação de um setor da sociedade que não era petista, mas que via corretamente naquele processo medidas ilegais e inconstitucionais contra o ex-presidente.

Nesse sentido, Renan esperava que um cenário de instabilidade social pudesse explodir no Brasil depois do PT ser “desaparelhado do poder”. Machado destacou sua preocupação com a resposta da militância petista, que naquele momento se levantou indignada, e o apoio do setor progressista não-petista contra o golpe, indicando que isso poderia ser um entrave aos planos golpistas. Renan concorda com a preocupação de Machado caracterizando o setor progressista como “legalistas”.

Lava Jato: o calcanhar de Aquiles dos golpistas e todo regime de uma democracia do suborno

No entanto, os lúcidos golpistas sabiam dos riscos de um governo ilegítimo, governado em quase sua totalidade por políticos corruptos, imerso numa profunda crise política e com uma recessão econômica que não mostra sinais de melhora. Nesse sentido, para salvar e manter o governo golpista para poder realizar os ataques contra a população, Machado insiste que “precisa ser feito algo no Brasil para poder mudar esse jogo, porque ninguém vai aguentar” e Renan Calheiros propõe a mudança na lei da delação premiada, segundo ele: “antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas (...). Primeiro não pode fazer delação preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação e estabelece isso”.

Dessa maneira, impede-se que um indivíduo preso se torne delator, freando o principal instrumento da operação Lava Jato e salvar a pele de quase todos os políticos golpistas de serem presos ou incriminados, e dessa forma enfraquecer as decisões arbitrárias e inconstitucionais do Judiciário em prol de construir um novo governo mais funcional aos ataques que o judiciário defende, um pacto de impunidade pela manutenção da “velha classe política” no lugar de uma nova, que os tiraria dos esquema de corrupção, para, no lugar colocar outros.

A preocupação de Sérgio Machado está centrada, na gravação, no temor de ser preso – através do procurador-geral da República Rodrigo Janot, que segundo Machado, queria desvincular sua investigação do STF para que o juiz Sérgio Moro passasse a investigar seu caso – e nas delações premiadas da Odebrecht, da OAS e do ex-senador petista Delcídio do Amaral, esse último citado por Renan Calheiros como o “mais perigoso do mundo”, pois essas delações atingiriam eles e quase todos os políticos em casos de corrupção, dessa maneira desestabilizando o governo golpista e junto dele vários pilares do regime desde 1988.

Machado insiste que ele não pode ser julgado por Moro, porque provavelmente ele o prenderia e o forçaria a fazer uma delação premiada que prejudicaria a estabilidade do governo golpista, porque segundo ele: “Isso não é análise, ele (Janot) está insinuando para as pessoas que eu devo fazer aquela coisa toda (delação) (...). E isso não dá, quebra tudo que está sendo feito”. E para solucionar seu problema, Machado insiste para Renan Calheiros que Romero Jucá e o ex-presidente do PMDB José Sarney precisam ajuda-lo para que “isso tudo que está sendo feito”, ou seja, o golpe, não fosse por água abaixo, e para isso ele não poderia ser preso.

Segundo outra gravação divulgada pela Folha entre Sarney e Machado, José Sarney deixou claro que concordava em impedir que Machado fosse investigado por Moro. “O tempo é a seu favor. Aquele negócio que você disse ontem é muito procedente. Não deixar você voltar para lá (Curitiba)”, disse Sarney.

Um partido muito citado na gravação foi o PSDB, tanto na articulação do golpe quanto com a preocupação dos tucanos em salvar sua pele também das delações premiadas das empresas envolvidas na Lava Jato e principalmente de Delcídio do Amaral. Machado disse “que o PSDB se convenceu que seria o próximo da vez” e Renan responde que Aécio Neves confirmou isso para ele nos acordos do golpe dizendo: “Aécio está com medo e perguntou se não dava para eu descobrir: Renan queria que você visse pra mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa”. Machado reitera dizendo: “Fui do PSDB dez anos. Não sobra ninguém, Renan.”, evidenciando o caráter endêmico da corrupção dentro do PSDB.

Rapidamente após a divulgação dos áudios de Renan os líderes tanto do PSDB como do PT se apressaram em declarar que não viam crime algum nas articulações do presidente do Senado contra a Lava Jato. Em meio à luta política, há peças chave, Renan entre elas, que todos, até o último momento blindam, e ainda mais quando ele trabalha para a impunidade geral.

Uma nova Constituinte para enfrentar os golpistas e o Judiciário

O Esquerda Diário sempre denunciou o caráter golpista do processo de impeachment, agora comprovado através dos diálogos entre os golpistas Renan Calheiros, Sérgio Machado e Romero Jucá, e também viemos apontando seus principais atores na articulação do golpe – Poder Judiciário, PMDB, oposição de direita, Globo e FIESP – contra o PT para impor ao país um governo abertamente neoliberal e autoritário, e implementar o programa político que foi derrotado nas urnas em 2014 e implementado parcialmente por Dilma, rasgando suas promessas eleitorais, mas não com a pressa que o “mercado” lhe demandava.

O que se evidencia nessa crise política, além da corrupção generalizada no Congresso, é uma profunda crise do regime, onde não há saída progressista para o problema nos marcos das instituições do Estado, como o golpista e autoritário Poder Judiciário, que se coloca cada vez mais como árbitro da crise política, fazendo de tudo para salvar esse regime enlameado, escolhendo quem punir e quem salvar conforme seus interesses políticos, sem a menor preocupação de mostrar uma mínima coerência sequer, como na declaração recente de Gilmar Mendes que o escandaloso áudio de Jucá não oferecia nenhum indício de obstrução da justiça, como disse Delcídio, sua própria gravação era coisa da “Disney” comparada.

Todos estes “podres poderes” estão realizando uma espécie de Constituinte oculta e pela direita, nos bastidores, um somatória de "contra-reformas" sem declarar, alterando muitas “regras do jogo”, desde poder reprimir, sem autorização judicial, a jovens que ocupam escolas, a mudanças nas aposentadorias, nos direitos dos trabalhadores, nos gastos constitucionais com saúde e educação. Contra os privilégios de uma casta de juízes, procuradores, de políticos, defendemos uma nova Constituinte imposta pela luta que elimine a autonomia do Poder Judiciário e os altos privilégios dos juízes e políticos, e que todo juiz seja eleito pelo voto popular, dentre outras medidas que levem à mudança das regras do jogo e que não fiquemos mais reféns das artimanhas obscuras dos capitalistas e dos instrumentos de controle do Estado burguês.

 
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