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ÁUDIOS DO GOLPE
Vazamento de áudios do golpe: a impunidade dos políticos era um dos objetivos do PMDB
Guilherme de Almeida Soares
São Paulo

A mídia e a PF vazaram hoje um áudio de várias semanas atrás que mostram como para o PMDB o golpe conformava parte de uma operação de salvamento dos políticos, incluindo Lula e o PSDB. A celeridade com que a mídia e o "partido judiciário" revelaram áudios de Lula e Dilma destoa da morosidade atual. Mostrando mais uma vez, como as notícias, denúncias, veem à tona conforme seus desígnios golpistas.

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Em conversa ocorrida em março passado, o ministro do Planejamento, senador licenciado Romero Jucá (PMDB-RR), sugeriu ao ex-presidente da Transpetro Sergio Machado que uma mudança no governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria" representada pela Operação Lava Jato.

De acordo com a conversa vazada entre Sergio Machado e Romero Jucá divulgada pela Folha de São Paulo hoje pela manhã, Romero Jucá fala pra Sergio Machado "Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?".

Gravados de forma oculta, os diálogos entre Machado e Jucá ocorreram semanas antes da votação na Câmara que desencadeou o impeachment da presidente Dilma Rousseff. De acordo com o Romero Jucá e Sergio Machado, a saída para que ambos não fossem punidos era o Impeachment da Dilma. De acordo com o próprio áudio vazado entre os dois, ambos concluem que a saída para a impunidade é o impeachment.

Machado passou a procurou líderes do PMDB porque temia que as apurações contra ele fossem enviadas de Brasília, onde tramitam no STF, para a vara do juiz Sergio Moro, em Curitiba. Em um dos trechos, Machado afirma a Jucá: "O Janot está a fim de pegar vocês [Jucá e seu padrinho político, o presidente do Senado, Renan Calheiros]. E acha que sou o caminho. [...] Ele acha que eu sou o caixa de vocês". A visão de Machado, o envio do seu caso para Curitiba seria uma estratégia para que ele fizesse uma delação e incriminasse lideres do PMDB e com isso pediu que fosse montada uma "estrutura" para protegê-lo.

De acordo com o mesmo, as novas delações na Lava Jato não deixariam "pedra sobre pedra". Jucá concordou que o caso de Machado "não pode ficar na mão deste Moro". Perante isso, o atual ministro afirmou que seria uma resposta política para evitar o caso caísse nas mãos de Sergio Moro. "Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria", diz Jucá, um dos articulares do impeachment da Dilma.
"Eu acho que a gente precisa articular uma ação política", concordou Jucá, que orientou Machado a se reunir com o presidente do Senado, Renan Calheiros e com o ex-presidente José Sarney.

Jucá acrescentou que um governo de Michel Temer deveria construir um pacto nacional "com o Supremo, com tudo". Na conversa entre Romero Jucá e Sergio Machado, de acordo com as próprias palavras de Machado "a solução mais fácil era botar o Michel [Temer]" e depois fala "É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional". Na versão de Jucá ao aliado, a saída de Dilma levaria ao fim de pressões da imprensa e de outros setores pela continuidade das investigações da Lava Jato.

Ao contrário da propaganda, o golpe não visava o fim da corrupção, muito pelo contrário

Ao contrário do que a direita tentou passar durante todo este processo, a manobra reacionária do impeachment da Dilma nunca teve o propósito de combater a corrupção. Como havíamos denunciando em diversos textos neste site, o golpe institucional além de ser um mecanismo para passar ataques aos trabalhadores muito mais forte do que o PT já estava realizando, foi um meio dos tradicionais políticos burgueses de mudar um esquema de corrupção por outros.
Além disso, os interesses por trás do impeachment era em primeiro lugar abrir espaço para uma política mais privatizante e pró-imperialista, bem como intensificar os ataques aos trabalhadores. O afastamento posterior do ex-presidente da Câmera dos Deputados Eduardo Cunha veio para passar uma imagem de que setores do Legislativo e principalmente o Judiciário estariam, através da Lava-Jato, punindo não somente o PT mas também outros setores. Não está descartado um cenário como o da operação "Mãos Limpas" italiana, que alterou a política italiana mas não resultou em quase nenhuma prisão. Porém, até então a Lava Jato tem mostrado limites até mesmo para avançar a um "mãos limpas", já que tem servido muito mais para catapultar e moralizar o PSDB como principal partido da ordem, sem atingir nenhum de seus membros importantes, ou no máximo atingindo Aécio "de raspão". Por trás da lógica de que o problema são "algumas maças podres" e não a "macieira inteira", a intenção destes mesmos é salvar este regime político podre e seus jogadores, e assim armar novos esquemas de corrupção envolvendo mais fortemente o imperialismo, que não à tona deu cursos e treinamento a vários membros do judiciário brasileiro, inclusive Sérgio Moro.

Por trás desta ação que tem a intenção de impedir que aconteça qualquer questionamento real por parte dos trabalhadores e dos demais setores populares da sociedade. O que está em jogo é os interesses dos grandes empresários e banqueiros que vão sair ganhando com os ataques como a reforma da Previdência que o governo golpista de Michel Temer promete aplicar.
Por sua vez, não podemos confiar na Lava Jato, pois o seu real interesse não é combater a corrupção, mas sim substituir um ou outro político para atender a interesses políticos. Mesmo se avançasse mais claramente a um cenário "mãos limpas", seria para atacar a "classe política" para substituí-la por uma que seja mais serviçal aos interesses do imperialismo. E mesmo para isso tem muitos limites como apontamos acima. A prova mais viva disso é que colocando uma casta política que seja mais serviçal aos interesses do imperialismo, as gigantes potências imperialistas conseguiriam estar mais em vantagem contra empresas nacionais como a Transpetro que entrava, junto as empreiteiras, como grande concorrente no mercado internacional de construção e afretamento de navios petroleiros.

Os cenários ainda estão em aberto, mas claramente, pelo que se pode analisar dos áudios, o PMDB demonstra que sua intenção é salvar a todos os principais políticos e partidos da ordem. A Lava Jato já demonstrou ser uma farsa, ao sequer permitir a investigação do Senador tucano Aécio Neves envolvido no esquema de Furnas, porém o medo do PMDB com esta operação é de que se avance contra esta atual casta política para substituir por outra. Sabemos que esta não será a saída, pois esta "nova casta" política será tão corrupta quanto que a atual, sendo que a única diferença que serão mais "competentes" para aplicar os ataques contra os trabalhadores e demais setores populares da sociedade. De acordo com o próprio Juca Romero no áudio vazado "Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com ..." ("pena" que a PF e a Folha de São Paulo em sua divulgação interessada omitiram a continuação da frase).

É um absurdo que o Aécio Neves não seja sequer investigado, pois de acordo com o próprio áudio vazado: "O Aécio rapaz ... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB" e também coloca que "o primeiro a ser comido vai ser o Aécio". É mais uma prova de que se depender dos políticos golpistas, a corrupção no país vai sempre acabar na famosa "pizza". E se, o "partido judiciário" tiver que tocar algum tucano será Aécio, deixando sempre impunes, ilesos Serra e Alckmin como grandes expressões dos interesses imperialistas e da mão-dura contra o movimento de massas.

No final das contas, tudo não passou de ser um imenso acordão para salvar os políticos da ordem e principalmente para que volte tudo a calmaria. Pra que isso aconteça é preciso um grande acordão para salvar todo mundo. Nas palavras de Sergio Machado: "Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta á calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de São Paulo e a condução coercitiva ele para depor no caso da Lava Jato]".

Não existe nenhum combate a corrupção e á impunidade que venha nas mãos de Sergio Moro e do Judiciário golpista, todos envolvidos na corrupção deste podre regime político. Combater a impunidade dos políticos e juízes exige questionar o conjunto da Lava Jato e seu regime capitalista de privilégios, neste sentido a única saída de conseguir isso é lutar por uma assembléia constituinte livre e soberana imposta pela força da luta dos trabalhadores e demais setores populares da sociedade. De acordo com Diana Assunção, dirigente do Movimento Revolucionário de Trabalhadores e diretora do Sindicato dos trabalhadores da USP: "A conversa entre Romero Jucá e Sérgio Machado somente reafirma como o impeachment se tratava de uma operação onde pouco importava as acusações, se tratava de um golpe institucional. Um golpe no qual toda a casta política, incluindo o STF está envolvida em esquemas. Como parte do "partido judiciário" queriam trocar a classe política para criar uma nova que seja mais funcional a seus acordos com imperialismo. Quem aplaudiu o golpe pra combater a corrupção vê a cara do golpe. Quem aplaudiu como começo do "Fora todos" agora vê mais uma vez pelas mãos de quem "Dilma rodou". Quem comemora a Lava Jato quer o fortalecimento deste "partido judiciário" e suas mil e uma intenções. Por isso é preciso dizer abaixo este governo golpista de Michel Temer, por uma Assembleia Constituinte imposta pela luta. Enquanto a repressão avança nas escolas e contra os movimentos sociais, enquanto a corrupção se escancara, está em curso uma Constituinte oculta, executada pelo STF, por Janot, pelos parlamentares, por toda esta direita a quem o PT abriu o caminho. Estão fazendo uma constituinte de direita onde não temos voz, um projeto pra retirar nossos direitos, aumentar a repressão. A juventude e os trabalhadores, em suas lutas contra os ajustes, precisa levantar uma saída que não seja apenas pra mudar os "jogadores", mas pra mudar as regras do jogo. Por uma Assembleia Constituinte imposta pela luta."

 
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