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JUVENTUDE NEGRA
O pós EECUN e as apaixonantes tarefas da Juventude Negra num país em crise
Letícia Parks
Odete Assis
Mestranda em Literatura Brasileira na UFMG

Há uma semana do Encontro de Estudantes e Coletivos Universitários Negros, greves e ocupações eclodem por todo o país e o novo governo golpista de Temer já mostra que quer fazer dos negros suas principais vítimas.

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A quantidade de coletivos e estudantes negros presentes no EECUN mostram uma fortaleza para todos os negros

Nós da Faísca estivemos presentes no EECUN no final de semana passado, junto a estudantes que compareceram a partir dos cursos que estudamos e atuamos, como os Centros Acadêmicos de Letras e Pedagogia da USP. No total, foram quase 1500 inscrições de estudantes e coletivos universitários negros de todo o país, mostrando que existe uma forte reorganização do movimento negro a nível nacional, um importante passo rumo à necessária batalha contra o novo governo golpista de ataques e cortes que já começamos a testemunhar na primeira semana de exercício.

Essa experiência estéticamente incrível para aqueles como nós que são forçados pelo elitismo da universidade a engolir uma universidade tão branca, faz ver também a grande potencialidade que esse encontro teve de organizar nossas tarefas e batalhas para que atuássemos com um só punho contra os ataques na educação, principalmente a não implementação de cotas e as retiradas de direitos de permanência, que são um ataque frontal contra a entrada e permanência dos jovens negros na universidade. Nossas faculdades estão em greve, e como parte desse combate, organizamos junto a outros setores da Universidade um ato por cotas nessa semana, uma demonstração na rua do que já faz parte da Pauta da greve, que também luta por Cotas.

Dentre os inimigos de Temer estão os gastos com educação, mas também a camada de direitos sociais que a burguesia decidiu não mais pagar para garantir seus altos lucros e o pagamento da dívida interna, que vai direto ao bolso dos banqueiros. A agenda do novo governo golpista de Temer conta, portanto, com duros ataques à educação, mas também à previdência social, aos direitos trabalhistas, à saúde e à cultura, que acaba de perder um Ministério.

Já vimos que, apesar dos mais duros ataques, a juventude negra tem sido ponta de lança dos combates contra cada um deles, a começar pelos secundaristas que ocuparam bravamente suas escolas no final do ano passado em SP e que agora voltam a ocupar em outros estados, como o RJ, CE, também em SP e mais recentemente em RS e PR. A cor dos que são submetidos às escolas-prisão é majoritariamente negra, e por isso a resistência aos cortes e ataques não poderia ser diferente. As fotos dos ocupantes das escolas e universidades mostra que essa luta tem cor e pauta negra: lutam pelo direito à educação dos mais pobres, pelo direito às cotas nas universidades em greve e cursos ocupados na USP, UNICAMP e UNESP. Essa mobilização da qual fazemos parte nas estaduais paulistas podem apontar o caminho para uma luta nacional pela educação e contra os cortes, e por isso o espaço do EECUN também poderia ter servido como mecanismo organizador dos negros como vanguarda dessa luta.

Os negros tem se colocado também como vanguarda da luta contra os ataques internacionalmente, e sabemos que isso se deve a grande urgência que sentimos em tomar o nosso destino em nossas mãos. Confiamos na juventude para ser um sinal aos trabalhadores de que é preciso lutar contra cada ataque, e confiamos mais ainda nos jovens e trabalhadores negros que decididamente tomarão o destino da sociedade em suas mãos, contra o capitalismo e a burguesia, internacional e historicamente racista.

Os entraves do Encontro para a realização dessa tarefa

Apesar do encontro contar com essa camada imensa de jovens negros extremamente politizados e interessados em se organizar contra o racismo, ele contou com uma linha política de organização do encontro que, lamentavelmente, continha uma série de problemas, apesar do êxito organizativo em organizar o espaço, a comida e o abrigo a todos. A quantidade de pessoas no encontro mostra o espaço que existe para o movimento negro, a quantidade de jovens negros que tem despertado para a vida política e querem encontrar referências e ponto de apoio, que vão a esquerda após acompanhar cada um dos ataques contra nós em todo o mundo, mas também agora que ficou claro que o PT jamais esteve para defender nossos interesses, tendo tentado até o fim mostrar aos golpistas que estava disposto a rifar nossos direitos para permanecer no poder.

Em nossa opinião, esses problemas foram:

Ausência de espaços de debate sobre a conjuntura nacional e as lutas em curso: como parte da política hegemônica do evento que era de vertente afrocentrista, foi deixado claro em uma série de intervenções que o golpe institucional que se constituiu no dia 12 de maio não importava aos organizadores do evento. Disseram que isso não seria debatido porque não importava aos negros se mudasse seu algoz. Concordamos que Dilma também foi algoz dos negros não apenas nacional como internacionalmente, tendo mantido as tropas instaladas no Haiti por Lula, mas para nós um governo que assume a presidência por um golpe de conteúdo racista, LGBTfóbico e de alusão a ditadores militares jamais poderia ser negligenciado por um Encontro como esse. Desde o primeiro dia de ameaça real de impeachment, nós do MRT e do Esquerda Diário nos posicionamos decididamente contra ele, denunciando a direita racista e genocida e exigindo que se construísse uma esquerda nova, capaz de responder a altura cada um desses ataques, sem atrelamento aos partidos da ordem como o PT, e sem nenhum medo de se dizer anticapitalista, pois sabemos que apesar de uma cara mais à direita, o que se expressa hoje em nosso país é a mesma burguesia faminta que há mais de um século explora e oprime trabalhadores em todo o mundo, o que só foi capaz de conquistar com base à escravidão e à fundação do racismo como justificativa dela.

Falta de espaços de debate coletivo e formulação de ideias a partir de experiências de base: não houve durante todo o encontro nenhum espaço em moldes de rodas de conversa, grupos de debate ou trabalho, que conseguissem dar espaço para que os estudantes concentrados ali pudessem compartilhar com outros de regiões diferentes suas dificuldades, batalhas e ideias. A ausência desse espaço e o privilégio a mesas com professores – e até com o Reitor da UFRJ, que lamentamos que tenha sido convidado por ser mantenedor da terceirização na Universidade – trata o debate político como um espaço de “especialistas”, como se aqueles que não tem graduação, mestrado ou doutorado não tivessem a mesma qualidade para debater que alguém que tem. A ausência desse espaço também impediu que houvesse, antes das delegações irem embora, a possibilidade de que se conhecessem e definissem espaços de atuação em comum, que faria certamente com que fôssemos mais fortes e mais certeiros em cada uma de nossas batalhas;

Ausência de espaço para ideias divergentes: esse problema se situou desde a convocação do evento, que vetava a participação de partidos políticos e permitia o financiamento de instituições privadas ao evento. Ficou claro durante os espaços e principalmente durante a intervenção de Letícia, que as posições divergentes ao afrocentrismo não seriam toleradas e que haveria tentativa de silenciamento desses setores. A composição das mesas também garantiu, em imensa maioria, que apenas os setores alinhados com o afrocentrismo pudessem falar, além de ter sido reportado ao Esquerda Diário que trabalhos com vertente marxista haviam sido barrados do Encontro, que contou com um espaço de apresentação de trabalhos. Ao buscar a comissão organizadora para tratar esse problema e tentar organizar uma roda de conversa que debatesse os problemas, por exemplo, de conjuntura nacional, que passaram ao largo de todo o evento, membros da comissão disseram que isso não seria feito porque faria daquele espaço mais um espaço antidemocrático de movimento estudantil. Na verdade, a ausência de posições divergentes e o veto a elas caracteriza bem um tipo de espaço que ao se ausentar do debate político e do posicionamento político, criam uma atmosfera de passividade que colabora com o silêncio em relação ao golpe. Num encontro com 1500 pessoas teria sido fundamental que houvesse espaço para que os não diretamente ligados à organização pudessem fazer valer suas opiniões, apresentar propostas e deliberar a respeito dessas propostas. Parte de nossas propostas eram, por exemplo, homenagear Luana Barbosa e a punição de seus assassinos, repudiar os assassinatos e as chachinas no RJ e SP, posicionar-se a favor das mobilizações de secundaristas e de universitários, exigir o fim do vestibular e da polícia assassina do Brasil.

Infelizmente, não tivemos espaço para levar essas propostas adiante, e fazemos portanto um convite nesse artigo, e Com base a esses apontamentos, fazemos um convite fraternal aos que participaram do encontro para debater com essas ideias e pensarmos medidas de nos enfrentar contra essa direita, contra os filisteus da democracia Ptista, exigindo que as centrais sindicais e estudantis rompam sua subordinação aos governos e que se funde uma nova esquerda, consequente com as pautas dxs negrxs e, apenas assim, verdadeiramente revolucionária.

 
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