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MBL CONTRA A EDUCAÇÃO
Estudante na escola bota medo na direita
Flávia Toledo
São Paulo

Eu costumo escrever sobre as bizarrices que Kim Kataguiri fala, e esse texto estou escrevendo numa situação especial. A última lastimosa coluna do menino dos olhos da direita foi sobre as ocupações de escolas, e eu estou escrevendo esse texto diretamente da ocupação do prédio de Letras da USP, ocupado durante nossa greve por contratação de professores e funcionários, cotas raciais e permanência estudantil.

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O discurso dele não merece mais do que um parágrafo, apenas pra contextualizar. Critica as ocupações porque “atrapalham o funcionamento normal das aulas”, “impedem os estudantes que querem estudar de estudarem”, “são políticas”. O mesmo discurso que a direita usa pra deslegitimar qualquer processo de luta que se enfrente com a precarização das condições de trabalho, estudo e de vida.

Começo limpando um campo. Obviamente as ocupações e greves não permitem o funcionamento “normal” das aulas. É pra isso que utilizamos esses métodos, afinal de contas. Mas se optamos por ocupar uma escola ou faculdade é exatamente porque o funcionamento não está normal. Considerar normal que estudantes passem fome na escola por não ter merenda, ou que, como ocorre na Letras, matérias não sejam oferecidas pela insuficiência de professores diz muito sobre qual a concepção de educação que esse setor tem.

Para a direita de Kataguiri, educação não é direito, nem deve ser pra todos. Se alguém não pode pagar para almoçar todos os dias, pensa esse setor, talvez a escola não seja mesmo o seu lugar – que vá trabalhar em qualquer função precarizada e deixe que o conhecimento se mantenha entre aqueles que devem seguir dominando o mundo. Contratar professores e funcionários para que as universidades públicas possam atender decentemente todos os seus alunos de graduação e para que haja pesquisa de qualidade não seria tão necessário se não houvesse “tanta” gente na universidade. Mantivessem apenas os filhos da elite, a minúscula parcela da população que deve dirigir a política e o Estado burgueses. Se houver poucos estudantes na universidade, oras, gasta-se bem menos com professores e funcionários.

Ocupar pra reivindicar uma educação de qualidade, que atenda aos nossos interesses e não o interesse daqueles que nos querem massa de manobra, mão de obra barata e agentes passivos em meio a uma profunda crise que quer tirar nosso sangue e suor, é o oposto de não querer estudar. É desejar profundamente o conhecimento. É a forma mais gritante de dizer que queremos, sim, nos apropriarmos plenamente do que o mundo cria e, acima de tudo, criar o novo.

Existe uma lógica de educação que não nos contempla. Uma educação que não forma, mas deforma. Deforma a realidade para que queiramos entregar a nossa vida ao cartão de ponto e trabalhar exaustivamente sem que isso faça sentido algum para nós. Pois é pra isso que somos formados: para virar uma mão de obra dispensável e robotizada, que não pense, apenas siga gerando lucro para os patrões e ao final do dia agradeça pelas migalhas que lhe foram entregues enquanto a maior parte do seu tempo lhe foi roubado.

E por isso as ocupações botam tanto medo na direita. Tem uma juventude enfurecida no país, dizendo que não vai aceitar a vida de gado que querem nos impor. Queremos acessar e produzir conhecimento. Queremos desenvolver todas as nossas potencialidades e talentos, queremos avançar e melhorar tudo aquilo que está à nossa volta. E a cada luta que se inicia, avança rapidamente a consciência de que é preciso mudar todo esse sistema que aí está. Que a educação que nos oferecem é precarizada exatamente para que não consigamos nos organizar pra destruir o conjunto de coisas que nos tolhem a vida.

As ocupações assustam tanto Kim Kataguiri porque nenhum estudante que provou, na prática, que a educação é melhor quando ele está à frente dela junto com os trabalhadores cai no seu discurso furado de privatização e terceirização. Porque vamos fazer de tudo pra espalhar a experiência incrível que temos ocupando nossos espaços, e quando uma experiência dessa chega no ouvido de operários, a ideia de que é possível controlar toda a produção começa a circular. E isso é um perigo para os patrões. É um perigo para todos aqueles que sabem que são completamente inúteis e, portanto, dispensáveis. Nós não: somos o motor de tudo.

É disso que Kim e sua velha direita têm medo, e por isso rosnam para aqueles que lutam: a luta, e só ela, muda a vida. E quem aprende a lutar só para quando terminar de passar por cima daqueles que a exploram e oprimem.

Então, o recado que nós, estudantes que ocupamos e fazemos greve nesse momento em todo o país, queremos dar é muito simples: agradeçam-nos pelo transtorno. Estamos lutando por uma melhor educação. E isso é só o começo.

 
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