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FRANÇA 19M
Radicalizam-se as manifestações na França e continua a repressão
Diego Lotito
Madri | @diegolotito

Paris, quarta-feira 18 de maio. Centenas de agentes da polícia francesa e seu “sindicato” Alliance se mobilizam na Praça da República. Também o fazem fora dos postos de polícia em outras cidades da França para denunciar a “violência contra a polícia nos protestos” e o chamam de “o ódio anti polícia”.

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A manifestação policial foi uma provocação dupla. Por um lado, porque em Paris foi realizada nada menos que na praça que havia servido como sede oficial do Nuit Debout. Por outro lado, porque se dá no marco da maior ofensiva repressiva já vivida na França desde as manifestações de 2005, na qual resultou as “forças da ordem” em um profundo desprestígio aos olhos da população.

A escalada repressiva do governo de Hollande parece estar tendo efeito contrário: vem ascendendo ainda mais a chama da indignação.

A resposta não demorou frente à provocação policial. Apesar da proibição, centenas de pessoas atenderam a um improvisado chamado a uma contra marcha. Cantando “policiais por todos os lados, justiça em nenhuma parte”, desafiaram a manifestação da polícia, sustentando faixas com denuncias a brutalidade da ação policial.

Também lembrando Zyed e Bouna, dois adolescentes que morreram em 2005, quando se esconderam da polícia em uma subestação elétrica na periferia de Paris, e ao jovem ativista ambiental Rémi Fraisse, que foi assassinado por uma granada da polícia durante uma manifestação no bosque de Sivens em 2014.

Depois de uma pequena manifestação na praça ao redor do meio dia, dispersada pela polícia com bombas de gás lacrimogêneo, um pequeno grupo da contra manifestação partiu até o canal Saint Martin (no norte da cidade), um carro da polícia oi incendiado no caminho. Entretanto, a maioria dos manifestantes ficaram na praça, conscientes de que o centro do protesto anti policial era ali.

Tudo leva a pensar que o governo criou deliberadamente as condições para que tivessem lugar ações minoritárias de “vandalismo”, com o objetivo de criminalizar o movimento e conseguissem recuperar seu profundo desprestígio político.
A notícia da viatura ardendo em chamas correu como uma faísca em rastro de pólvora nas redes sociais e a própria polícia difundiu as imagens do veículo incinerado com a intenção de denunciar os “violentos” e enaltecer os agentes reunidos na Praça da República. Ao tomar consciência dos fatos, rodeados por fumaça azul e laranja - as cores do “sindicato” policial Alliance-, os policiais reunidos na praça cantaram em coro “a polícia está enojada”, ao ritmo da música “Highway to Hell” do AC/DC. Toda uma metáfora da moral com que se prepara a polícia para intervir na jornada de luta dessa quinta em diante.

Na praça o “sindicato” policial Alliance projetou um vídeo em uma tela gigante na qual mostrava imagens de manifestantes lançando pedras, fogos de artifício e coquetéis molotov contra a polícia, acompanhadas de uma dramática trilha sonora. Mas o vídeo também continha imagens dos atentados de novembro de 2015 em Paris, assim como de multidões saudando a polícia depois dos atentados de janeiro do ano anterior. “Frente ao terrorismo, somos a última defesa”, essa era a mensagem do vídeo.

Mas sim, essas imagens seriam muito bem recebidas e aceitas pela maioria da população há poucos meses atrás, agora não é essa a situação. Porque, depois de seis anos de retrocesso social, o clima ideológico e político na França essa mudando em ritmos acelerados desde que o governo de Hollande se propôs impor a nova reforma trabalhista à base de repressão e decretos.

Como escrevia há poucos dias Juan Chingo desde Paris para a rede internacional La Izquierda Diario, “nada é mais claro que a mudança de atitude dos CRS (Companhias Republicanas de Segurança), o esquadrão especial da polícia foi encarregado de lidar com os conflitos sociais. Uma das coisas mais duvidosas do 11 de janeiro de 2015, foi que o ‘peuple de gauche’ [o ‘povo de esquerda’, base social histórica do Partido Socialista Francês – NdR] que compartilha de forma cada vez mais simbólica os valores de 68(...) aplaudidos nas ruas os CRS, os robocops repressivos que em maio eram considerados como nazistas (CRS=SS foi um dos grandes slogans desse movimento.

Hoje, assim como a décadas os setores da periferia odeiam os “flics” (policiais franceses) pela repressão e descriminação que são submetidos só pela sua aparência física ou racial, os CRS começaram a ser odiados pela “peuple de gauche” que assiste atônito a um nível de repressão e provocação policial sistemático em especial contra a juventude estudantil e secundarista”. E nada mostra melhor este amplo sentimento antirrepressivo que um canto que voltou com força nas manifestações populares: “Todo mundo odeia os flics” (a polícia)
Segundo o Ministério do Interior da França, a polícia realizou 1.300 detenções desde o inicio dos protestos contra a reforma trabalhista. Depois da quantidade de detenções, prisões preventivas, toneladas de gás lacrimogêneo lançadas nos manifestantes, espancamentos, golpes, fraturas e até a perda de um olho de um manifestante que são, atualmente, o cenário habitual de qualquer manifestação, dificilmente a cínica mensagem policial irá convencer a maioria da população de que seu papel é “proteger os cidadãos”.

Nesse 19 de maio, há uma nova jornada nacional de luta na França e, previsivelmente, o termômetro do protesto social subirá novamente vários graus. O retorno da luta de classes, os sintomas de radicalização e a perda de legitimidade das forças repressivas, juntamente com um grau elevado de mobilização atual, sem dúvida terão consequências estratégicas para os próximos combates de classe na França.

 
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