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O RATM VOLTARÁ?
Rage Against the Trump (Fúria contra Trump)
Salvador Soler

Faz vários meses que vem acontecendo as prévias para a eleição presidencial de 2016 nos EUA. Uma de suas pré-candidaturas vem sendo motivo de análise e controvérsias em nível mundial. Trata-se de Donald Trump, o republicano ultraconservador, xenófobo, racista, milionário e fiel representante dos capitais norte-americanos.

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Existe um setor muito importante da sociedade norte-americana, principalmente entre a juventude e os trabalhadores, que vê em Trump uma verdadeira ameaça. Este setor vem demonstrando seu repúdio de diversas maneiras, entre elas o apoio eleitoral a Bernie Sanders, candidato democrata e suposto socialista, inclusive manifestações públicas e greves.

Sem entrar em uma radiografia das eleições nos Estados Unidos, vale mencionar como a banda de rock em questão conseguiu ser um canal de expressão de jovens, trabalhadoras e trabalhadores do país norte-americano.

A fúria contra a máquina.

Rage Against The Machine (RATM) nasceu em Los Angeles com a fusão do rap, o rock, a contundência do funk e com um pronunciado pensamento anticapitalista nos anos 90.

O nome da banda faz alusão ao sistema capitalista como a “máquina”, tomando as práticas dos primeiros movimentos operários, como o ludismo na Inglaterra do século XIX, que destruíam as máquinas em sinal de protesto contra o que os escravizava.

Seus anos como conjunto musical estiveram atravessados por apresentações em cenários pouco convencionais. Dedicaram-se a levar suas apresentações as ruas e locais onde se desenvolviam o protesto social, com várias de seus recitais terminando com a repressão policial.

Pode-se notar a combinação entre a arte e atividade política da banda em suas letras, em apoio a inúmeras lutas operárias, causas democráticas, contra o racismo, a xenofobia e a criminalização dos protestos.

A participação mais importante da banda foi junto ao movimento “No Global”, que teve sua expressão máxima em Seattle, onde seria celebrada a reunião de Cúpula da Organização Mundial do Comércio em 1999. Naquela reunião tomariam parte os CEO das empresas mais importantes do mundo para discutir um novo modelo de exploração a nível global.

Nesse movimento confluíram centros acadêmicos, sindicatos, ONGs, grupos anarquistas, religiosos e ecologistas, todos eles com uma grande composição de jovens dispostos a lutar contra um sistema que vinha para subjugá-los ainda mais, o neoliberalismo.

Em Seattle, em setembro daquele ano, 40 mil pessoas enfrentaram-se com a polícia durante quatro dias, até fazer fracassar a dita Cúpula. Amplos setores da juventude e da classe trabalhadora haviam dito “Basta!” ao neoliberalismo, porém não puderam apresentar uma saída para além de mostrar seu enojamento.

Mais do que isso, o vocalista Zack de la Rocha apoiou a EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional, não só contribuindo economicamente, mas também sendo parte ativa das mobilizações em Chiapas.

Esse movimento foi um símbolo para as juventudes norte-americana e mexicana nesses anos, abrindo novos debates e polêmicas sobre qual pode ser uma saída positiva para exploração do homem pelo homem.

Uma menção que ilustra bem é que a banda, em sua passagem pela Argentina, ofereceu sua solidariedade a fábrica Zanon de Neuquén, expropriada, gerida e colocada em funcionamento por seus trabalhadores. Zack de la Rocha fez uma entrevista com os operários de Zanon desenvolvendo um diálogo muito fraterno. Ademais, deu espaço aos operários para levar sua luta ao cenário mundial no marco em que se discutia a expropriação no congresso e nas ruas de Neuquén.

Sua ira é seu dom

As letras do RATM abarcam distintas temáticas, porém sempre com um corte anticapitalista. Algumas delas são, por exemplo, contra as intervenções militares estadounidenses, reivindicando rebeliões contra a opressão como foram as intifadas na Palestina, como pode notar-se no música War Within a Breath.

É deles a música Voice of the Voiceless, dedicado ao escritor, jornalista e ativista Mummia Abu Jamal, acusado de assassinato de um policial e condenado a morte pelo estado norte-americano devido a sua ligação com os Panteras Negras e seus escritos de conteúdo altamente anti-capitalista e de denúncia política.

RATM organizou atos e apresentações na porta dos julgamentos cada vez que que se tocava adiante o caso de Mummia, para pedir sua liberação imediata, conseguindo que se postergasse seu último ato. O repúdio social e da juventude frente o caso de Mummia Abu Jamal foi muito sentido nos EUA e no mundo.

Guerrilla Radio e No Shelter são canções que denunciam o estado atual do sistema, o consumismo, o marketing e, sobretudo, como se sustenta o capitalismo: Através do trabalho precários e superexplorado de milhões de pessoas em todo o mundo.

Também dedicaram-se a reivindicar personagens políticos importantes para os jovens e para aqueles que aspiram por um mundo diferente, sem exploração, como por exemplo a Che Guevara, levando uma bandeira com sua cara a cada show. Também reivindicaram intelectuais como Noam Chomsky, com incidência na juventude norte-americana e no mundo ou artistas com Victor Jara, ícone da arte de protesto chilena e uma das primeiras vítimas da ditadura de Pinochet.

Tomemos o poder

Se bem que ainda não se anunciou de forma oficial o retorno, é sintomático que vários meios de comunicação do mundo estão divulgando a notícia lançada pelo site Heavier Metal. Na matéria citam uma previsão sarcástica em um vídeo da banda do ano 2000, anos em que parecia uma utopia pensar nisso a sério, e eles a ridicularizavam.

No vídeo de “Sleep Now in The Fire", publicado em 2000, pode-se ver um seguidor de Donald Trump que leva um cartaz defendendo sua candidatura para presidente, temida e impensável naquela época mas que hoje é uma cruel e perigosa realidade. Se bem que não foi uma previsão aleatória, já que Trump participou de uma breve campanha presidencial com o Partido da Reforma, entre outubro de 1999 e fevereiro de 2000.

O vídeo ria-se do mundo de Wall Street e o culto ao dinheiro. Porém aquela paródia transformou-se em realidade. Os músicos vem a possibilidade como uma ameaça para o povo trabalhador dos EUA e, segundo informou até o momento o site Heavier Metal, voltaram a juntar-se para atacar o projeto racista de Trump.

O mesmo site revelou que os planos de Tom Morello, Zack de la Rocha, Tim Commerford e Brad Wilk prevem apresentar-se ao vivo no dia 18 de julho, em frente a convenção republicana que decidirá o candidato deste partido, para voltar a pronunciar-se com seus métodos de protesto, que já são uma marca registrada e como fizeram durante seus 20 anos de trajetória.

Ainda que não seja oficial o anúncio do regresso, fica claro que a juventude estudantil e trabalhadora, como já vem fazendo na França contra a reforma trabalhista, no Brasil contra o impeachment, na Argentina e Chile pela educação pública, volta a mostrar sua necessidade de referenciar-se em expressões artísticas que consigam ajudá-los a canalizar sua “fúria contra a máquina” que os oprime. Sua “ira é seu dom”.

Tradução: Pedro Rebucci de Melo

 
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