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HISTÓRIA DO MOVIMENTO OPERÁRIO
Pravda: um jornal operário para a conquista do poder
Claudia Ferri

Diante de mais um aniversario da primeira publicação do jornal operário Pravda em 1912, uma reflexão sobre a visão que tinha Lenin sobre esta ferramenta de noticias e o desenvolvimento da Revolução Russa e seu legado na atualidade.

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Se tem algo que deve-se reconhecer sobre Lenin é sua perspicácia para ler e estudar os momentos políticos e econômicos da Russia e atuar em consequência disso. Por isso, a iniciativa de impulsionar um jornal destinado a influenciar com ideias marxistas a grande massa de operários e camponeses, a quem começavam a despertar sua consciência de classe, foi mérito seu. O Pravda (A verdade), jornal dos bolcheviques em seus anos de ascenso, cumpriu esta função durante mais de uma década, abraçando a causa revolucionaria e organizando a classe trabalhadora em um pais atrasado e extenso, dominado por uma monarquia ancestral.

Neste mês completam-se 104 anos do lançamento do Pravda de Lenin, uma simples data que serve para pensar a importância dos jornais e diários operários no passado e presente. Nesta primeira parte analisaremos o que pensava Lenin sobre a imprensa e a época do auge do Pravda nos anos precedentes a Revolução Russa.
Lenin e a imprensa: os primeiros passos

No começo do seculo XX o movimento revolucionário era ainda muito pequeno para ter influência na realidade politica da Russia. O Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR), criado em 1898, era formado por um grupo de intelectuais marxistas e alguns poucos operários que atuavam, em sua maioria, desde o exílio já que o autoritarismo do regime Czarista perseguia incansavelmente todo militante opositor. Esta organização apresentava um mosaico de personalidades que preocupava Lenin, que via um grande problema na falta de unidade teórica dentro do partido. Por isso escreveu "Por onde começar?", artigo onde levantava a urgência de publicar um jornal nacional que chegasse a toda Russia e que organizasse coletivamente todos os grupos socialdemocratas dispersos. Naqueles anos o país estava atravessando uma etapa de grande politização social com milhares de jovens se apropriando das ideias marxistas. Mas os que brigavam pela difusão destas ideias formavam parte do "marxismo legalista" que tinha abandonado a luta teórica e politica há muito tempo. Combater a vulgarização e a deturpação do marxismo era tarefa fundamental da imprensa leninista. Lenin travou uma importante luta contra os economicistas defensores da luta sindical, separada da organização política dos trabalhadores.

O projeto de Lenin vai tomar forma em dezembro de 1900 quando se publica pela primeira vez o Iskra (A faísca) em Munique (Alemanha) que buscou combinar sua forma propagandista, de agitador entre as massas e de organizador das ideias que foram cada vez mais conhecidas. O jornal como organizador não foi somente uma politica voltada para o dirigente bolchevique mas também, uma definição estratégica para a construção do partido que prepararia a insurreição. A função da imprensa operaria já tomava a atenção de Lenin desde antes da criação do POSDR. Destinou vários anos de sua vida a estudar sua relevância e inserção na classe operaria emergente, por isso quando ganha sua linha de criar um jornal como Iskra – que adquire certa periodicidade - começa a produzir um importante trabalho politico nas próprias entranhas da Russia proletária que assentaria as bases para o desenvolvimento dos anos posteriores.

A publicação entrava no país de forma clandestina e os militantes locais distribuíam sob o lema: " uma faísca pode acender a chama", assim foi adquirindo prestigio entre os operários. O jornal devia ter uma linguagem clara mas que permitisse, ao mesmo tempo, elevar o nível dos trabalhadores; por isso propôs, em 1902, que Trotsky se somasse ao Comitê de Redação do Iskra, quem, ao mesmo tempo em que tornaria o conteúdo do jornal mais atrativo, inclinava a balança a seu favor fazendo frente ao bando dos velhos marxistas que haviam se transformado em grandes conformistas (Plekhanov, Zasulich e Axelrod). Enquanto Lenin se tornava o diretor politico do jornal, sua companheira Nadehzda Krupskaia era a responsável por manter as relações com os comitês russos que nutriam o jornal de noticias e denuncias operarias.

Anos mais tarde a luta fracional fez com que Lenin abandonasse o comitê de redação pela crescente influencia que estavam tendo os mencheviques. Apos a derrota da insurreição de 1905 se aprofundaram ainda mais as diferenças estratégicas dentro do POSDR, a reação recobrava forças frente as massas dispersas. Mas como já havia previsto Trotsky, o desenvolvimento da industria russa levaria a uma nova etapa de ascenso revolucionário do movimento operário.

O Pravda e os anos de preparação

A década de 1910 começa com um novo despertar de lutas operarias e de radicalização dos estudantes: " Em 1911, 100.000 trabalhadores fazem greves parciais e esse numero aumenta para 400.000 no primeiro de maio. As descargas de metralhadoras no Lena, no mês de abril de 1912, que geraram um saldo de 150 mortos e 250 feridos, marcam uma nova etapa na luta operaria"(1). Os bolcheviques decidem atuar na Conferencia do partido, que acontece na primeira quinzena de janeiro de 1912, se aprofunda a cisão entre as frações e o Pravda se torna o órgão de publicação oficial. Este jornal havia sido publicado pela primeira vez em 1905, em 1908 era editado por Trotsky e tempos depois tomou a frente Kamenev. Sem duvida com os bolcheviques na direção foi quando atingiu seu auge. O jornal viajou de Viena a São Petesburgo e seu primeiro número foi publicado sob a direção de Lenin em 5 de maio de 1912(22 de abril no velho calendário). Antes de seu lançamento se fez uma massiva campanha de agitação nas fábricas para incentivar assinaturas públicas.

Foi a primeira vez que Pravda é publicado com legalidade, custava 2 copeques e tinha 4 páginas onde se mesclavam artigos econômicos, do movimento operário, greves e poemas proletários.

Entre paciência e a audácia, Lenin contribuiu muito não somente para a organização do partido como também da classe trabalhadora de conjunto. O Pravda denunciava o verdadeiro caráter de exploração do sistema capitalista e do autoritarismo do Czar ao mesmo tempo em que educava milhares de trabalhadores com consciência de classe.

Diferentemente do Iskra, que foi um jornal para os trabalhadores – que chegava a uma centena de leitores -, o Pravda de 1912 era um jornal feito pelos trabalhadores e dirigido a dezenas de milhares de trabalhadores da vanguarda. Correspondentes de toda Rússia enviavam 40 denúncias diárias de diferentes fábricas - endereçadas à reconhecida seção "informes de correspondentes" - e foram criados 327 grupos que apoiaram financeiramente a saída do Pravda através de coletas coletivas. Os correspondentes tinham uma importância fundamental porque atuaram como antenas transmissoras do estado de ânimo do proletariado, seus informes fortaleciam a consciência coletiva. Enquanto isso seus números eram reimpressos em impressoras clandestinas para difundir em outras cidades mais distantes.

Os trabalhadores russos fizeram seu o diário bolchevique e o identificavam como " nosso diário", o que permitiu com que a difusão crescesse: se o primeiro numero teve uma tiragem de 25 mil exemplares, nas semanas seguintes superou os 60 mil.

As trabalhadoras russas também denunciavam as condições de exploração e de opressão a que eram submetidas cotidianamente. Na seção especial intitulada " trabalho e vida das trabalhadoras" se informava sobre as manifestações e preparativos para a comemoração do Dia da Mulher e impulsionava a criação de organizações sindicais e politicas de mulheres.

O diário manteve a publicação entre 1912 e 1914 apesar das medidas judiciais, os fechamentos da imprensa, a detenção de militantes, as multas e os julgamentos. A perseguição policial e a forte campanha antibélica que vinha se gestando desde as paginas do Pravda levaram finalmente o Czar a encerrar a publicação em julho de 1914.

Junto com o fechamento seguiu-se um refluxo da organização operaria e do partido bolchevique já que a maioria de seus militantes foram presos, enviados para o exílio ou recrutados para a guerra.

Quando o movimento operário começou a recobrar novas forças, em 1916, o partido contava com apenas 5 mil militantes, a maioria de jovens (entre 18 e 30 anos). Estes homens e mulheres foram a vanguarda operaria revolucionaria que Lenin ansiava construir e que, ao longo de 1917, organizaram centenas de milhares nas fabricas e nos soviets, preparando a insurreição. Como veremos na segunda parte desta nota, o Pravda se converteu no "tribuno do povo" e em um organizador coletivo durante todo o processo revolucionário, mesmo depois de 1917. A imprensa leninista e a organização da vanguarda da classe operaria é uma discussão atual e por isso propomos de segui-la.

Leia a segunda parte desta nota: http://www.esquerdadiario.com.br/Pravda-um-jornal-para-a-conquista-do-poder-II-a-Revolucao-e-seu-legado

Referências:

1. Pierre Broué. O partido bolchevique. cap. II.
2. Ver carta de Lenin em Berna a “Shliapnikov 28/11/14 em Lenin XXXIX, 189 em Pierre Broué. O partido bolchevique. Cap. II.
Recomendamos as leituras de:
Lenin, Obras Selectas. Ediciones IPS.
Lenin y la Prensa. Cesar Coca

 
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