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EDITORIAL INTERNACIONAL
Aplaudindo ataques de Temer, imperialismo prefere austeridade com novas eleições
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

Após adotar uma cobertura factual durante a votação do Senado sobre o início do processo de impeachment da presidenta afastada Dilma Rousseff, a imprensa internacional começa a adotar um tom mais crítico a respeito do governo Temer.

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O Financial Times, o The New York Times e o The Economist, insuspeitos defensores dos monopólios imperialistas, dizem preferir eleições gerais antecipadas (para presidente e o Congresso), e que Temer não é o “melhor pivô” para seus interesses. Essa desconfiança diante de Temer não é programática: todos eles se entusiasmam pela “Ponte para o Futuro”. Mas sabem que os ataques neoliberais exigidos precisam de mãos legítimas para serem aplicadas sem um risco explosivo na luta de classes.

A revista britânica The Economist afirmou, em sua nova edição, que o apelo do presidente interino Michel Temer em favor de reformas econômicas no país pode se transformar em uma "luta difícil". “Depois de cinco anos de domínio inepto de Dilma, o Brasil sofre a pior recessão desde 1930. O PIB provavelmente diminuirá 7,5% somando-se 2015 e 2016; as taxas de desemprego e de inflação rondam os 10%. O déficit orçamentário supera os 10%.” Segundo a revista, os congressistas estão relutantes em votar cortes de gastos e aumentos de impostos em ano eleitoral, e podem "resistir ao aperto de cinto necessário, especialmente [tendo em vista] a corrida para importantes eleições locais de outubro".

Esse portavoz das finanças imperialistas não mede esforços para transmitir seu interesse: privatizações, abertura de capitais, reformas neoliberais. Entretanto, Temer "carece de legitimidade eleitoral para executar as reformas estruturais radicais, como as pensões generosas, as leis trabalhistas rígidas, os impostos bizantinos" e o sistema eleitoral. Avalia que “Michel Temer tem ideias melhores que Dilma Rousseff para a economia. Porém, isso não quer dizer que ele será bem sucedido”.

Na matéria principal da seção internacional, o New York Times publicou que a primeira escolha de Temer para ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação era um criacionista (que se opõe à teoria de evolução das espécies) e que ele próprio (Temer) é o primeiro líder brasileiro em décadas que não incluiu mulheres em seu gabinete. Em editorial publicado nesta quinta-feira (12), o jornal americano disse que Dilma estaria "pagando um preço desproporcionalmente grande por irregularidades administrativas enquanto vários de seus detratores mais ardentes são acusados de crimes mais escandalosos". Mesmo apoiando as medidas austeritárias que pretende o gabinete dos ajustes de Temer, desconfia de que o que se busca é por fim à Lava Jato. “Isso seria indefensável”, conclui, defendendo eleições gerais.

Em editorial, o jornal britânico Financial Times diz que o Brasil tem pela frente uma crise tripla: austeridade, seguir a Lava Jato e fazer a reforma política para restrição de partidos. “Em um mundo perfeito, o Brasil enfrentaria esta crise tripla com novas eleições em primeiro lugar”, diz, para limpar o Congresso e ter um novo presidente podendo ajustar com a chancela do voto. Aplaude Henrique Meirelles e Ilan Goldfajn, executivo do Itaú e provável presidente do BC, mas questiona se Temer “está à altura do desafio de enfrentar três crises simultâneas”. O problema é que já começa com um impeachment de base jurídica contestável, que “os partidários de Dilma chamam de golpe, uma narrativa que certamente será desenvolvida na oposição, minando ainda mais a administração de Temer”.

O resultado está longe de ser perfeito. Ainda assim, é o que se tem. Temer é um negociador hábil e, por enquanto, conta com o apoio do Congresso e do empresariado. Se ele pode colocar a economia numa base mais segura e deixar a limpeza da corrupção continuar, ele também deixará um legado considerável”.

O jornal norte-americano Los Angeles Times afirmou que o novo governo terá de superar as "acusações de que tomou o poder ilegitimamente e, ao mesmo tempo, enfrentar a pior recessão do Brasil em décadas". Em sua edição, o jornal britânico The Guardian disse que Michel Temer prometeu restaurar a confiança na maior economia da América Latina, mas para realizar a tarefa nomeou um ministério "visivelmente branco" em uma das nações "mais etnicamente diversas do mundo".

O único governo que reconheceu sem capuzes o golpe institucional no Brasil foi o do argentino Macri (repudiado pela figura mais importante da esquerda argentina, Nicolás Del Caño). O governo chileno manifestou “preocupação”, o Uruguai se negou a reconhecer, e o novo dono do Itamaraty, o tucano Serra, foi obrigado a lançar nota oficial contra o eixo de países composto por Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador e Nicarágua “rejeitando declarações que propagam falsidades” acerca de um golpe. Já a Ministra das Relações Exteriores da Rússia, María Zajárova, afirmou que “é inaceitável a interferência externa na atual situação política do Brasil”.

Esse desconforto em ter um ajustador sem legitimidade nas urnas, e um gabinete tecnocrático unicamente para atacar os trabalhadores com mais força do que já vinha fazendo Dilma, mistura-se com a exigência de que se passe das palavras aos atos. "Só discurso de boas intenções não é mais suficiente. Precisa ter medidas concretas para que esse sentimento positivo dure", disse Alessandro Zema, copresidente do banco Morgan Stanley. Com “otimismo cauteloso”, o presidente do Deutsche Bank Bernardo Parnes diz que "O novo governo tem um ministro da Fazenda capaz, tem o benefício da dúvida, mas precisa implementar medidas com rapidez."

O empresariado e as finanças ficaram eufóricos com o discurso de posse de Temer, uma liturgia neoliberal de ataques a la década 90, a renovação geopolítica de relações com os EUA e a UE e um obscurantismo digno de uma Encíclica Papal. Mas para isso querem um Mauricio Macri tupiniquim, e não um Temer com 2% de aprovação. Nem mesmo se sente seguro com um Congresso que deixa tão claro a corrupção inerente ao sistema capitalista, votando ajustes por Deus, a família e os torturadores. O dilema existencial do imperialismo é aproveitar ao máximo o que Temer e seu gabinete reacionário puderem tirar, reservando-se a opinião de que para evitar a luta de classes é preciso desviar as mobilizações, que podem aumentar, para uma saída de eleições gerais, curiosamente a mesma saída dada pela esquerda Lava Jato do PSTU e do PSOL.

Abaixo golpista Temer, por uma nova Constituinte que questione todo o regime político

Queremos derrubar os golpistas e seus ajustes. Mas não para retroceder à conciliação com os mesmos golpistas, que Lula, Dilma e o PT tentaram até o último momento. Nosso “Fora Temer golpista” não se confunde com o “volta Dilma” dos ex-governistas, porque a tarefa de derrubar Temer deve abrir caminho para um questionamento cada vez mais profundo ao sistema político podre, e ao sistema econômico capitalista que ele serve para proteger. Eleições gerais beneficiariam apenas aos que estão preocupados com a falta de legitimidade do governo Temer, e que querem um banho eleitoral para avalizar os ataques que ele já anuncia.

Que Lula tenha lançado a palavra de ordem “oposição responsável e pacífica”; que o líder do PT no Senado garanta de antemão que "não querem incendiar" o país, que as centrais governistas CUT e CTB não tenham usado seu peso social para impedir o golpe: tudo isso só reforça que não é nessas direções que devemos confiar, e que a luta contra o golpe já consumado e seus agressivos ataques se transforma imediatamente na luta pelo futuro de todos nós.

A estrutura política que sustenta o golpe, desde o Judiciário e o parlamento até o imperialismo, querem preservar o regime político dos ajustes, com Temer agora, e se for insuficiente, inclusive com novas eleições gerais. De nossa parte, não queremos preservar esse regime capitalista, e sim colocar abaixo o governo usurpador, em conjunto com as instituições reacionárias que pavimentaram seu caminho ao poder. A Câmara Federal e o Senado, ao lado do agora todo-poderoso Judiciário, pilares de um Estado que beneficia um punhado de exploradores, e impõe miséria, opressão e humilhações de todo tipo ao grosso do povo brasileiro.

Como dissemos em editorial, defendemos uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana que nos desvencilhe de uma Constituição aplaudida por Temer e seus comparsas mas que foi tutelada pelos militares, cria superpoderes arbitrários ao judiciário, que ajuda a que tenhamos um parlamento tão reacionário, e assim em uma nova Constituição contra todo este regime imponha pela luta dos trabalhadores que todos os juízes sejam eleitos, revogáveis e recebam o mesmo salário de uma professora, e o mesmo para os políticos de alto escalão, que faça os capitalistas pagarem pela crise, expulse o imperialismo e contribua para que os trabalhadores assumam nas mãos a luta por uma forma superior de governo, um governo dos trabalhadores anticapitalista.

 
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