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TURQUIA
Crianças refugiadas: exploração e precariedade depois de fugir das bombas
Diego Sacchi

Os sírios que fogem da guerra e conseguem “asilo” em outro país são condenados à marginalidade e exploração. Uma situação que afeta especialmente as crianças refugiadas na Turquia.

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(Foto * Ahmed Deeb para The Guardian)

A notícia do bombardeio sobre o campo de refugiados em Sarmada nesta quinta-feira (na fronteira da Síria com a Turquia) causou comoção. Segundo os últimos dados, 30 civis, a maioria mulheres e crianças, morreram no ataque e dezenas ficaram feridos. As imagens mostram as condições que têm que suportar e a barbárie a qual estão expostos quem foge da guerra que destruiu suas famílias e cidades.

O interdito aberto entre os principais organismos internacionais e governos que intervêm militarmente na região, mostram claramente o cinismo imperante frente às condições que vivem os refugiados. Numa passada de pano e responsabilidades entre eles, a ONU acusa o governo Sírio e a Rússia; Rússia à algum grupo extremista; o governo Sírio diz “não fomos nós”, deixando claro que todos têm suas mãos sujas. Os drones e aviões imperialistas (sejam estadunidenses ou da Europa) têm bombardeado casas e hospitais, as bombas turcas caem sobre os civis que fogem na direção das fronteiras, tudo em nome da “guerra contra o terrorismo” que, longe de chegar ao ápice, continua assolando a região.

Mas isso é só uma parte do que vivem os refugiados. No La Izquierda Diario pode ser encontrada ampla cobertura dessa crise migratória, acentuada pelas políticas racistas e xenófobas dos governos imperialistas europeus.

Nas fronteiras com a Turquia existem 22 campos de refugiados atualmente. As pessoas registradas devem pedir permissão para sair durante o dia e regressar antes de anoitecer e vivem vigiados com forte aparato policial, como se estivessem detidos. A ganância e a exploração capitalistas recebem os milhares de refugiados que conseguem cruzar.

As crianças refugiadas a mão de obra barata nas oficinas turcas

A Turquia é um dos maiores exportadores têxteis do mundo. Marcas como Burberry, HUGO BOSS, Marks & Spencer, Super dry, GAP, Espirit e muitas outras trabalham com fornecedores de oficinas têxteis desse país. Conforme vemos, várias dessas oficinas utilizam jovens e crianças refugiadas como mão de obra barata.

Segundo detalha o diário britânico The Guardian, um informe da UNICEF disse que mais da metade dos 2,7 milhões de refugiados sírios registrados na Turquia são crianças e quase 80% deles não estão na escola. Um informe da ONG Business & Human Rights Resource Centre (BHRRC) estima que entre 250 000 e 400 000 refugiados sírios trabalhavam ilegalmente na Turquia no final de 2015.

Uma mostra da situação que vivem estas crianças é descrita pelo mesmo diário britânico. Hamza, uma crianças síria de 13 anos, se senta em frente a uma máquina de costura em um armazém sombrio no sul da Turquia, onde trabalha 12 horas por dia, seis dias por semana. O gerente da fábrica o descreve da seguinte forma: “Ele pode fazer 400 sapatos por dia”. Assim como Hamza, outras crianças sírias trabalham nesta fábrica chegando a ser um terço da planta. Seu salário diário é de menos de 10 euros, muito menos que o preço de venda de cada par de sapatos que fazem.

Ilegalidade e precariedade para milhões de refugiados

Estas crianças se veem obrigadas a trabalhar nessas condições porque, com sorte, seus pais poderão conseguir um trabalho que está longe de garantir o mínimo para viver.

Uma pesquisa de Hayata Destek, uma organização não governamental turca que trabalha com os imigrantes sírios, mostra que dos sírios em Estambul, 60% das famílias têm renda entre 500 e 1 500 liras turcas por mês. “Mas quando observamos o que gastam no mês, é ao redor de 1 600 (liras turcas)”, disse Gonca Girit McDaniel, coordenador da Hayata Destek. “Estão gastando mais do que ganham, por que têm que pedir dinheiro emprestado ou deixar seus filhos trabalharem”.

O emprego de refugiados sírios é uma prática padrão em setores como agricultura, têxtil e construção, setores com um alto grau de precariedade, como descreve o informe realizado pelo La Izquierda Diario do Estado Espanhol. Zakariah descreve esta situação, um trabalhador sírio de 37 anos de idade que trabalha numa fábrica em Estambul. “ Não podemos obter uma permissão de trabalho”, diz, e agrega “é impossível. Se [os empregadores] nos ajudarem a obter uma permissão de trabalho, teriam que nos pagar como trabalhadores turcos, e é justamente isso o que não querem fazer”. Como resultado, para Zakariah, que ganha menos que um salário mínimo, é impossível alimentar seus seis filhos pequenos. Isto o obrigou a enviar seu filho mais velho Sayed, de 12 anos de idade, para trabalhar em uma oficina independente. “Gostaria que pudesse ir à escola”, diz Zakariah. “Se estivéssemos na Síria, não teríamos trabalho sob nenhuma circunstância. Mas meu salário é de apenas 1 200 liras turcas, e não se pode sobreviver com isso”.

Assim, enquanto funcionários de alto escalão e diplomatas arrancam os cabelos falando sobre o drama dos refugiados, mantêm as fronteira e firmam pactos, como da UE com a Turquia, que fecha as portas da Europa para os refugiados sírios que fogem da guerra. Ao mesmo tempo, esses mesmos governos, permitem uma vida de precariedade, trabalho ilegal, exploração de menores e discriminação social. Essa precariedade e exploração é utilizada pelas grandes empresas têxteis imperialistas para aumentar seus lucros ao custo do suor de milhares de crianças que fogem das bombas.

Tradução: Alexandre "Costela"

 
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