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PARTIDO JUDICIÁRIO
Generalizando a Lava Jato, limpando a cara do golpe
Allan Costa
Militante do Grupo de Negros Quilombo Vermelho - Luta negra anticapitalista

O novo momento da operação Lava Jato é de generalizar suas ações abrindo o leque de investigados, segue uma ofensiva contra o PT mas também atingindo Cunha, Aécio e vários opositores. Muito além da justiça, o que realmente está em jogo?

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O Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu na tarde de ontem (03) ao STF,que inclua o nome de 31 novos investigados na Operação Lava Jato. Entre os novos nomes, uma horda composta por ex-ministros, empresários, doleiros, lobistas e políticos das mais variadas legendas partidárias, entre eles se destacam o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, e o presidente da câmara dos deputados, Eduardo Cunha, à quem Janot se referiu como "um dos líderes de uma célula criminosa". O pedido baseou-se na delação do senador Delcidio do Amaral, cujo nome também está incluso no pedido de inquérito, e agora segue para ser avaliado pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato.

Depois de um curto hiato pós votação do impeachment na Câmara, onde parecia que esperava para ver o tamanho do estrago que ajudara a fazer e depois como isso cairia na opinião pública, o judiciário voltou à cena querendo mostrar trabalho. Mas o que pretende de fato o partido judiciário com essa generalização da Lava Jato neste momento?

Conforme já discutimos, após os deputados da Câmara protagonizarem um verdadeiro show de horrores na votação do impeachment, ficou muito difícil de esconder o golpismo e o caráter reacionário das instituições envolvidas nesse processo. As novas ações do judiciário, se somam às tentativas para tonar menos imunda a cara do golpe do qual ele mesmo foi um dos protagonistas e preparar terreno para que um novo governo Temer tenha mais legitimidade para fazer os ataques aos trabalhadores dos quais o imperialismo anda sedento.

Não se trata simplesmente apenas de um esforço para recobrar uma boa imagem para o judiciário, mas também uma limpeza de campos. Eduardo Cunha, no cenário cada vez mais real de afastamento de Dilma, se tornaria vice presidente da República, um vice presidente que carrega em sua ficha corrida denúncias e mais denúncias de esquemas de corrupção; o que deixa vários setores, principalmente do capital internacional, inseguros sobre o quanto será capaz o novo governo de fazer os ajustes necessários sem avivar um processo de insatisfação popular que desestabilizasse por ainda mais tempo a política por aqui e que, possivelmente, fugisse ao seu controle. Nesse caso, o judiciário parece não ter problemas em cortar algumas cabeças que acabam incomodando demais e de custo político tão alto para os interesses da burguesia.

Uma segunda possibilidade para explicar esse movimento do Judiciário é menos complexa: Pode tratar-se apenas de um "alarme falso" descarado de luta contra a corrupção. Aqui, o objetivo principal já teria sido atingido com saída de Dilma e as últimas ações parecem mais midiáticas para, aí sim, apenas lavar a cara e as mãos do próprio judiciário. Há de se esperar, mas nessa hipótese, dificilmente todos os envolvidos na extensa delação de Delcídio e nas investigações da Lava Jato seriam punidos. Um desfecho bastante corriqueiro e usual na política brasileira, mas talvez não o mais indicado para o momento.

Mas existe ainda a possibilidade de toda essa barca de denunciados ser apenas um acompanhamento para servir o prato principal. Com a queda de Dilma um importante espaço se abriria para manter a oposição de direita na ofensiva e ousando ir por mais. Neste caso o intuito seria o desmantelamento total do PT, como chegou a pedir o editorial do jornal Estado de S. Paulo do 18 de abril, logo após a votação do impeachment na Câmara. Para não dar na cara com uma ofensiva tão "exclusiva" contra o PT, o plano aqui seria se fantasiar de imparcial, eventualmente entregar um ou outro peão do tabuleiro, mas garantir o xeque-mate no petismo. A cobra que o petismo criou e à quem deu asas agora se volta contra ele mesmo. Mesmo que para dar caras de neutralidade também atinja Aécio, para aplauso de Serra e Alckmin.

De todas as formas, o que se desenha com os novos passos da Lava jato não é um cenário mais frutífero para as lutas dos trabalhadores, como interpretam alguns setores da esquerda brasileira. Parece óbvio que em nenhum cenário haverá uma "lava Jato até o final" que puna todos os culpados e limpe a corrupção do Brasil. O próprio exemplo da "Mãos Limpas" italiana que Sérgio Moro tanto elogia garantiu extensa impunidade após cumprir seu papel político. Tão pouco parece que o golpe do judiciário sobre o governo Dilma, fará com que um novo governo "mais frágil" surja, possibilitando que os trabalhadores avancem para um "fora todos". Pelo contrário, o que parece mais provável é um governo ainda mais fortalecido e pactuado com diversos setores da direita, dos patrões e da justiça para garantir os interesses da burguesia.

Nós trabalhadores não devemos criar ilusões de que esse sistema jurídico podre desde o berço e que sabe muito bem a quem serve possa ser uma saída para lutarmos pelos nossos direitos e contra essa casta política sanguessuga. Qualquer saída para os trabalhadores virá das forças de sua própria mobilização, com seus métodos tradicionais, aos quais as centrais sindicais governistas se negam a ir à luta contra o golpe verdadeiramente, convocando assembleias de base e organizando uma paralisação nacional real. Recuperar e colocar em ação esses métodos com radicalização da luta, greves, piquetes e ocupações construídos a partir das bases de trabalhadores é o único caminho para barrar de vez a ofensiva da direita.

 
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