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MBL E A BANCADA BBB
MBBBL: os novos meninos da direita e as velhas bancadas do Boi, da Bíblia e da Bala
Flávia Toledo
São Paulo

Tá cada vez mais difícil pro MBL se dizer “nova política”. Desde que surgiu, o grande discurso desse “movimento” é de que é preciso “mudar a política brasileira”. Se lançaram como os meninos que decidiram jogar um jogo de gente grande sem ligar muito pras regras. Adoravam dizer que não eram como os que nós víamos lá em cima. Eram diferentes, pensavam coisas novas, sabiam tudo de redes sociais e faziam vídeos engraçados pra jogar na internet. Tudo contra essa “velha política que está aí”. Ponto pra direita: quem não gosta de uma novidade?

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Mas o MBL de novo nunca teve nada. É um movimento que defende uma pauta liberal que quer jogar fora todos os direitos trabalhistas conquistados a duras penas, que quer garantir os que nos exploram sigam nos explorando e ganhando cada vez mais com isso, e que nós sigamos explorados e perdendo cada vez mais com isso. Absolutamente nada de novo no front.

A direita não é burra e sabe que suas figuras tradicionais geram asco em amplos setores. As múmias que votaram pelo impeachment naquele domingo em nada são carismáticas ou têm qualquer apelo popular. O impeachment jamais passaria se a sua grande figura fosse Jovair Arantes (PTB), o relator do processo, desconhecido por todos, com a típica cara de político corrupto que todos detestam, por exemplo. Ou mesmo Eduardo Cunha, um canalha de marca maior. A direita sabia que precisava de sangue e cara novos, e criou sua “ala jovem”, que desviava o sentimento de junho de 2013 e mostrava disposição de ocupar as ruas pelo impeachment. E moldou Kim Kataguiri e companhia, criou o MBL, o Vem Pra Rua, o Revoltados Online… Deu cara nova à sua velha política.

Mas uma farsa tão absolutamente falsa como essa não poderia durar muito. O MBL, que foi reivindicado pelos deputados da bancada da bala durante a votação, também se aliou a dois interessantes campos da política brasileira: a bancada da bíblia e a bancada do boi!

A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária), ao lado da bancada ruralista na defesa do impeachment, se aliou ao MBL para pressionar os parlamentares para que votassem sim. Junto a eles, setores fundamentalistas evangélicos, que também bateram palmas para o “movimento” naquele domingo. E os três grupos não pretendem desfazer a aliança, não! Têm reunião marcada para essa terça, 3 de maio, para planejar como influenciar as votações de agora no Senado.

#NãoÉSóPeloImpeachment #ÉPorAmplaRetiradaDeDireitos

Se enganam aqueles que pensam que essa aliança é meramente em defesa do impeachment. A aliança política entre esses setores é profunda. Todos defendem conjuntamente um Estado mínimo, o avanço de pautas conservadoras, a reforma trabalhista e a ampliação do ajuste fiscal.

O MBL vem anunciando há tempos: para sair da crise, o Brasil vai ter de ser rígido na adoção de uma nova “agenda econômica”. Mas é preciso saber ler o que esses caras falam. O “sair da crise” não é resolver as suas contas atrasadas, ou o encurtamento do seu salário ou a falta de merenda nas escolas. O “sair da crise” pra eles é a burguesia conseguir lucrar mais e mais. É ter gente querendo investir aqui no Brasil porque sabe que pode pagar o que quiser para os trabalhadores brasileiros por conta de uma legislação trabalhista mais fluida. A agenda pra sair da crise que MBL e as bancadas ruralista e evangélica defendem é a agenda de arrocho, ataques, cortes, precarização do trabalho, retirada de direitos da juventude e da classe trabalhadora.

Esses setores veem em Temer um “bom sinal”, pois há explícito interesse em aplicar mais e mais ataques, muitos mais do que o governo profundamente ajustador de Dilma, que contava com a pressão da sua base social para fazer concessões ao mesmo tempo que atacava. Sem nenhum atrelamento a movimentos sociais, Temer vai tentar passar como um trator por cima de todos os direitos, com cortes e ajustes avassaladores, como já adianta nessas semanas de articulação do possível futuro governo. E MBL, os ruralistas e fundamentalistas evangélicos estarão de braços dados para apoiar esse futuro governo golpista e garantir que os ataques cheguem como dois pés no peito da classe trabalhadora e da juventude.

Agora, me diga: como é possível acreditar que haja qualquer traço de nova política em um grupo que se alia à bancada do Boi, da Bala e da Bíblia? Estamos no Brasil. Um país de latifúndios, onde se mata gente a rodo por conflito de terras, com uma necessidade urgente de reforma agrária e demarcação, uma país cuja tradição latifundiária é responsável pelo genocídio da população indígena, por trabalho escravo (ontem e ainda hoje)... Um país de coronelismo, que tem eternos políticos que são praticamente donos dos seus estados de origem, como José Sarney. Um país com uma polícia que massacra nas favelas e periferias, que está sempre envolvida em chacinas e em mílicias, que vende proteção contra o crime organizado do qual ela própria faz parte, que genocida a população preta. Um país cujo Estado não é nem um pouco laico, com bancadas religiosas que impediram e impedem quaisquer avanços em direitos democráticos básicos, que são machistas, racistas e lgbtfóbicas, que historicamente oprimiram o povo negro e indígena.

Que nova política é possível de se fazer estando aliado ao que há de mais velho e podre na política brasileira? Não é possível. MBL não traz nada de novo em sua política. Traz os mesmos planos de ataques à classe trabalhadora e à juventude, a mesma falta de perspectiva para o futuro, o mesmo cinismo em cima do palanque que promete o mundo e tudo retira das nossas mãos. Logo veremos essas ainda novas caras emolduradas pelas mesmas gravatas puídas das câmaras de deputados e do Senado, nas mesmas bancadas BBB, “mamando nas tetas do Estado” que tanto defendem que seja mínimo (mas que dá o máximo de privilégios para esses mesmos canalhas).

A não ser que coloquemos abaixo tudo isso. Que lutemos contra esse golpe que está em curso e contra os ataques de todos os governos, desde as bases, com os métodos históricos que nos garantiram vitórias nos nossos locais de trabalho e estudo. Pra barrar articulações como essa, só na rua, juventude e trabalhadores, lutando por seus direitos, conformando uma forte mobilização nacional que imponha uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana no país, para podermos questionar cada um dos aspectos políticos, econômicos e sociais, acabar com os privilégios dos políticos, garantir a real laicidade do Estado e fazer com que todos os políticos ganhem igual a uma professora. Nova política é apenas com a classe trabalhadora e a juventude organizadas de forma independente de todos os governos e políticos burgueses.

 
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