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POLÊMICA COM ESPAÇO SOCIALISTA
Ainda há tempo para uma política de independência de classe
Virgínia Guitzel
Travesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC
Maíra Machado
Professora da rede estadual em Santo André, diretora da APEOESP pela oposição e militante do MRT
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O show de horrores da votação do Impeachment demonstrou, sem sombra de dúvidas, que quem está por trás deste golpe institucional é a direita abertamente reacionária e conservadora. Os exemplos dessas posições eram diversos, mas chegaram ao ponto de reivindicar torturadores em meio a sessão da câmara. Contra os direitos democráticos, também não faltou a defesa da "família brasileira e dos bons costumes" contra os setores LGBT, as mulheres e a população negra para criar condições para atacar ainda mais os direitos dos trabalhadores e da juventude. Frente a este avanço do golpismo, já se noticiaram medidas para garantir a impunidade do conjunto do regime, anistiando Cunha, tirando Maluf da lista da Interpool e por aí vai.

Nesse contexto, é muito importante abrir um debate duro com as organizações da esquerda que insistem ou a não se posicionar claramente contra o golpe institucional em curso, ou tem assumido posições diretamente favoráveis ao impeachment. No caso do ABC paulista, a partir da importante plenária que fizemos recentemente, acreditamos que se faz necessário então, novamente polemizar com a posição dos companheiros do Espaço Socialista e seu abstencionismo sectário – ou seja, sua recusa a se posicionar frente à realidade nacional, quando toda a população discute a política nacional por todos os lados.

Um erro que marcará a esquerda

A plenária de base com organizações da esquerda de Santo André e região ocorreu um dia antes da reacionária votação do Impeachment e reuniu professores, estudantes da Federal do ABC, secundaristas, trabalhadores do judiciário, bancários, trabalhadores industriais e estudantes da Fundação Santo André. Com cerca de 70 pessoas, a plenária poderia ter sido um importante espaço de organização regional para responder a principal crise política do país dos últimos 20 anos e particularmente do avanço da direita e o golpe que se consumaria um dia depois dessa reunião. Assim como ter votado um sério plano de luta contra os ataques do PT, presentes nos mais de 1 milhão de postos de trabalho fechados na indústria só em 2015 e o desemprego massivo na juventude que já atinge mais de 20%, como parte de disputar a base da CUT que se utiliza dos ataques da direita para não organizar nenhuma luta séria.

Porém, novamente o abstencionismo sectário dos companheiros do Espaço Socialista levou a horas de discussão chegarem a lugar nenhum, pois defendiam que nenhuma posição política deveria ser votada, garantindo assim a suposta “unidade da esquerda”. Com o argumento de que uma "Frente Ampla" deveria ser construída, os lutadores da região não puderam expressar sua posição frente à principal discussão política colocada no cenário nacional, paralisando qualquer ação real dessa frente. Um discurso da "unidade", como sempre, por fora de uma política correta e contundente da esquerda. Desta maneira, o Espaço Socialista constribuiu para não preparar a vanguarda para o golpe que estava por vir e fez da plenária uma grande demagogia, um espaço infértil como muitas vezes são criticados os fóruns da esquerda, cheios de discursos vermelhos, mas nenhum plano sério para enfrentar os governos, a direita e a crise econômica.

Nenhuma posição pôde ser votada, já que claramente a maioria votaria contra o impeachment, o que seria um passo importante para romper a normalidade e construir ações à altura desse ataque ao conjunto dos trabalhadores e do povo pobre de nosso país. Essa postura foi burocrática até mesmo com o Renovar pela Luta, corrente sindical impulsionada pelo Espaço Socialista e independentes na categoria de professores e que é maioria na direção da subsede da Apeoesp em Santo André. O Renovar tem uma posição clara e pública contra o impeachment e os ataques do governo do PT, mas sofrendo dessa mesma pressão abstencionista se abstiveram de defender que alguma posição fosse tirada na plenária. Reivindicamos o posicionamento público do Renovar pela Luta, e avaliamos que é possível e necessário lutar contra o golpe sem defender esse governo.

Se os companheiros do Espaço Socialista ainda tinham dúvidas do giro à direita na superestrutura política que propõem Cunha, Bolsonaro e Feliciano, com um punhado de políticos corruptos passando por cima do sufrágio universal, questionamos novamente, se mantém sua política confortável de repetir "nem um nem outro" por fora da realidade concreta.

A luta contra o golpe em curso, de modo totalmente independente do PT e do governo, deve ser a tarefa número um dos trabalhadores da região. Só com nossos métodos, lutas, paralisações e greves é que poderemos impedir a ofensiva da direita, e não com a posição cômoda e despolitizada de que não importa o governo, os ataques terão sempre o mesmo peso. Essa política encobre o golpe e não ajuda a preparar os trabalhadores para responder aos grandes desafios que se abrirão.

Construir um 1 de Maio classista e independente ou se juntar à esquerda que avaliza o golpe?

Historicamente divergimos dos companheiros do Espaço Socialista em relação a análise e método rotineiros com que respondem aos problemas colocados na realidade para milhares de trabalhadores e jovens. Separar a luta econômica da luta política é um erro que em situações agudas como a que vivemos pode cobrar um preço muito alto, essa prática é muito antiga na esquerda brasileira e é oposta à necessidade de construir o novo, pois justamente não se apóia nas novas experiências da luta de classes como a nada rotineira luta dos estudantes secundaristas que sacudiram São Paulo e agora dão lição no Rio de Janeiro.

A adaptação que permite discutir horas para não votar política, fez com que fosse aprovada a ida ao 1o de maio na CSP-Conlutas, por fora de debater o significado e o conteúdo político deste ato. Ou seja, colocam sempre o “aparato” na frente da política e das necessidades dos trabalhadores e não questionam participar de um ato que levanta uma bandeira de “fora todos”, que na verdade apenas avaliza o golpe institucional contra Dilma mas de forma nenhuma irá ser potente contra o resto dos políticos da ordem, especialmente a direita de Temer e Cunha que já está se beneficiando com o golpe .

Nós do MRT que construímos a CSP-Conlutas no ABC fomos à plenária levar propostas que viemos defendendo nos fóruns do Espaço de Unidade e Ação e nas Executivas da Central pela independência política dos trabalhadores, o que significa não ser indiferente com as manobras da direita, ao mesmo tempo que seguimos lutando fortemente contra os ataques do PT, exigindo da CUT, CTB, UNE e da Marcha Mundial de Mulheres que rompam sua subordinação ao governo e organizem imediatamente um sério plano de lutas com assembleias e paralisações. Para construir uma saída independente, ou a 3ª via que tanto a esquerda gosta de reivindicar, é preciso se chocar com a burocracia da APEOESP, da CUT e da CTB, assim como a UNE e o Levante Popular da Juventude e exigir destes que rompam com a paralisia para organizar uma luta séria com a poderosa força dos trabalhadores e da juventude.

É urgente a mais ampla unidade da esquerda e dos setores coerentes dentro da CSP Conlutas, para lutar contra a linha da direção majoritária do PSTU que quer colocar a Conlutas como central adjunta dos apoiadores do impeachment, e nesse sentido batalhar para a central se dirigir às bases da CUT, com a chance inédita que temos hoje frente à crise do petismo, para desmascarar que não organizam com métodos dos trabalhadores a luta contra o golpe em curso, pois temem mais a classe operária e a juventude mobilizada do que o próprio golpe.

Chamamos os companheiros a reverem sua posição e a não marcharem junto à política golpista e sectária do PSTU, que hoje é a ala majoritária da Conlutas. Não é sob a bandeira do “Fora Todos” e “Eleições Gerais” que poderemos construir uma terceira via que possa combater esta direita e se enfrentar com o principal freio da luta de classes, as organizações de massas dirigidas pelos petistas. É urgente uma posição independente para que a esquerda não cave sua própria cova, sob as bandeiras da FIESP e do Bolsonaro, e enterre a possibilidade histórica que vivemos de fazer emergir uma saída independente para responder à crise atual. 

 
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