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CRISE POLÍTICA
Democracia dos ricos: Ditadura, Collor e Dilma
Rodrigo Tufão
diretor do sindicato das Metroviárias e Metroviários de SP e do Movimento Nossa Classe

A burguesia precisa reordenar os tabuleiros do jogo para continuar no comando, pois o que no passado oxigênou a ordem capitalista pós-ditadura militar, no presente apodrece.

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Assembleia na histórica Rua do Carmo, centro de São Paulo

Ao ver a atual crise política no país me vem algumas memórias de quando era criança. Me lembro o caminho que fazia da escola até a fábrica que meu pai trabalhava. O carro de som do sindicato na porta falando bem alto coisas que eu não entendia. A conversa do meu pai com outros trabalhadores depois do expediente no boteco. Sexta feira era realmente especial pra mim, afinal era dia de comer coxinha e tomar sorvete no bar.

Na televisão observava aquela massa verde amarela nas ruas de cara pintada, dando a impressão de que algo de grandioso estava acontecendo. Só não entendia o que era.

Aquele garoto mal sabia a grandiosidade dos fatos que ocorriam. Não imaginava o tamanho das greves metalúrgicas no fim dos anos 70, nem que um regime ditatorial comandado por empresários e militares estava em crise.

Não tinha ideia que em 1988 se fizera uma constituinte, que em 1992 o primeiro presidente eleito depois dessa constituinte estaria sendo impedido de exercer seu cargo.

Me pergunto constantemente o que esse processo que vivi quando criança tem a ver com a crise política de hoje.

Penso na crise do regime militar, agudizada com uma importante crise econômica que atingiu o mundo nos anos 70. Penso nos levantes de trabalhadores de Osasco ao ABC, de norte a sul do país.

Algumas conclusões são inevitáveis. A crise no regime é semelhante, tanto da ditadura militar quanto da democracia burguesa de agora.

A burguesia precisa reordenar os tabuleiros do jogo para continuar no comando, pois o que no passado oxigenou a ordem capitalista pós ditadura militar, no presente apodrece.

Aquele profundo processo de luta de classes do final dos 70, que acabou por derrubar a ditadura militar se fez de forma pactuada por suas direções. Se abriu algumas concessões democráticas, porém o caráter de classe do estado se manteve o mesmo.

Assim, com grande ajuda do PT a constituinte de 1988 acaba servindo para a burguesia reordenar os tabuleiros do jogo e continuar a dominar.

O impeachment de Collor vem no bafo dessas movimentações, com um regime novo pós-1988. Porém, o governo estava deslegitimado em eleições manipuladas, pra não dizer fraudadas. Não teria força o suficiente para implementar o projeto neoliberal dos anos 90. Privatizações, redução de salário...

Assim se fez o impeachment, como instrumento reacionário do estado burguês. Usado para desviar o descontentamento das massas e suas mobilizações, conseguiu de vez estabilizar o regime, levando a cabo todo processo de privatizações e ataques que os trabalhadores sofreram nos anos 90.

A crise hoje é justamente a crise do regime que se estabilizou com o impeachment de Collor pós ditadura militar. Porém começa pelo fim.

A crise no regime militar começa com grandes movimentações operárias. Após a derrotada as greves de 1980 se abre um período de "paz" onde o caminho para fazer uma transição pactuada ganha terreno com as diretas de 1984 e a constituinte de 1988, seguido das eleições de 1989 e uma nova crise desse novo regime com o processo de impeachment de Collor em 1992.

Se com o impeachment de Collor o regime se estabilizou, agora com o impeachment de Dilma o regime entra em crise novamente.

São formas diferentes de uma mesma crise: a crise do capitalismo atrasado brasileiro. Capitalismo incapaz de manter regimes estáveis durante longos períodos. Pois não pode fazer mínimas concessões democráticas para as massas, como saúde, educação, saneamento básico, moradia, emprego...

Um capitalismo miserável de uma burguesia que lucra com o atraso, que se satisfaz em ser um quintal de países ricos, sem independência, sem soberania. Uma sub-burguesia de um sub-país.

As saídas para estabilizar esse regime podre já estão colocadas. O impeachment ou novas eleições, são propostas que dão um respiro para a burguesia tentar montar um novo governo, forte o suficiente para aplicar duros ajustes contra os trabalhadores.

O PT apesar, de seu esforço em mostrar para as elites que Dilma é capaz de conduzir ataques de grande proporções, não parece ter esse capital político na atual conjuntura. Então não serve mais para os senhores da "casa grande".

Dificilmente Dilma terminará seu mandato, apesar do impeachment de agora estar perdendo força, pois um governo Temer/Cunha seria mais instável e incapaz de levar a frente os ajustes.

Resta uma alternativa para quem se reivindica revolucionário. Construir um campo independente dos trabalhadores: um campo que não vai cair na conversa de impeachment, nem na conversa de novas eleições, pois sabem que ambas as saídas não mudam o atual regime que vivemos, apenas ressuscitam a múmia.

Um campo que não vai defender esse governo corrupto, muito menos fazer coro com a oposição de direita igualmente corrupta. Enfim, uma política independente da burguesia, que chame uma assembléia constituinte livre e soberana para botar abaixo o atual regime. Fazer o que a burguesia e o PT não deixaram que se fizesse em 1988. Acelerar a experiência dos trabalhadores com esse estado capitalista e derrubá-lo.

Não é papel da esquerda apoiar o impeachment ou chamar novas eleições. Pois recompor esse regime é papel da burguesia.

O papel da esquerda é construir um campo político independente e acelerar a experiência das massas com o estado capitalista brasileiro. Estado que jamais fará concessões democráticas para os trabalhadores.

O papel da esquerda é fazer revolução. O papel da esquerda não é ser conselheira ou administrar o capitalismo. Para isso a burguesia já tem seus próprios funcionários.

 
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