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PANAMA PAPERS
Argentina: Todos enterrados na mesma lama
Eduardo Castilla
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Esta quarta-feira a agenda política e midiática esteve marcada pela continuidade e crescimento da “guerra suja” que acontece, de maneira crescente, há várias semanas.

Enquanto as declarações de Lázaro Báez frente ao juiz Sebastián Cassanello eram divulgadas quase por cadeia nacional, a Câmara dos Deputados da Nação entregava um salva-vidas de prata a Mauricio Macri, ao recusar a proposta apresentada pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT) para que o presidente explique neste recinto sua relação com as contas em paraísos fiscais.

Enquanto sofre tarifaços e demissões massivas, o país inteiro assiste ao espetáculo impune da casta política ligada ao grande capital, mergulhada junto a ela na lama da corrupção e da impunidade.

“Lázaro, se arrependa”

A historia bíblica relata no Novo Testamento como Cristo devolveu a vida a Lázaro. A frase “levanta-te e anda” é, por isso, universalmente conhecida.

Agora o conjunto do governismo, a grande mídia burguesa e uma porção substancial da casta judicial operam sob uma máxima similar: “Lázaro, declare e se arrependa”.
Nesta quarta-feira o fiscal Raúl Pleé reiterou que Báez poderia apoiar-se na “Lei do arrependido”. Sob esta norma – que o funcionário considera vigente – poderia “colaborar” com a causa. Pleé, é preciso lembrar, foi um dos fiscais que convocaram a mobilização um mês depois da morte de Alberto Nisman. Trata-se de um porta-voz e militante da ala mais abertamente anti-kirchnerista do “Partido Judicial”.

Por sua vez, Elisa Carrió deu o toque “moral” a esta pressão, afirmando que “o pior castigo para Lázaro Báez é ver seu filho preso”. O empresário de Santa Cruz poderia “salvar” Martín Báez se denunciasse seus verdadeiros chefes. “Tem que ir preso o próprio poder, não só seus empregados” arrematou Carrió.

A “confissão” que se espera seria aquela que permita culpar mais funcionários do governo anterior. Mas parece bem evidente que um setor da casta judicial e da grande mídia burguesa apontam diretamente contra Cristina Fernández de Kirchner que, segundo Graciela Ocaña, “poderia ir presa”.

Esta linha política e editorial pode-se perceber ontem já cedo. No La Nación, o jornalista Hugo Alconada Mon definiu a detenção de Báez como o “caminho mais direto para chegar aos Kirchner”.

Mas na primeira jornada de declarações, a operação parece ter fracassado. Nem Lázaro Báez, nem seu filho Martín nem o contador Daniel Pérez Gadín declararam. Apesar disto, ainda estamos longe de ter visto o fim da operação “arrependimento”.

Uma blindagem para Mauricio

Quase na mesma hora em que Báez declarava à justiça, tinha início a sessão da Câmara Nacional de Deputados.

Ali, em uma das primeiras votações, o bloco do Cambiemos (partido do governo macrista), com o aval massista e de outros partidos menores, recusou o pedido apresentado por Myriam Bregman (PTS/FIT) em nome da esquerda, para que Macri fosse ao Congresso explicar sua relação com as contas em paraísos fiscais reveladas pelo informe Panama Papers. Este pedido da esquerda foi acompanhado no recinto pelos deputados do kirchnerismo.

Seus deputados pouparam Macri de ter que fazer o que grande parte da sociedade lhe exige: dar a cara e explicar porque e como era parte de empresas radicadas em paraísos fiscais.

Com esta votação se busca, além disso, garantir que toda a “investigação” fique a cargo da Oficina Anticorrupção, presidida por Laura Alonso, a primeira – mas não a melhor – defensora de Macri na tarde de domingo passado.

Se confirma assim que as tentativas de garantir a impunidade ao grande empresariado e seus negócios não foram só uma “questão kirchnerista”, senão que abarcam o conjunto dos partidos políticos identificados com os interesses do grande capital.

Mas o escândalo desatado pelos Panama Papers não deixa de crescer. A mesma oposição que salvou a Macri de dar explicações no Congresso – como o Frente Renovador – se vê obrigada a pedir que o presidente apele em cadeia nacional para apresentar seu álibi diante do país.

Ontem também ficou conhecido que um artigo do New York Times assinalava Macri como um dos mais complicados à luz destas revelações. O paradoxal foi o fato de que jornais como Clarín e La Nación, acostumados a reproduzir quase acriticamente este tipo de notas durante o kirchnerismo, não tomaram nota do artigo em questão.

O que terminava evidente não podia ficar sem consequências. Eduardo Barcesat, reconhecido constitucionalista próximo ao kirchnerismo, denunciará Macri penalmente. Afirmou que o fato de ter uma sociedade offshore “ao menos pretende evadir impostos, e quando ocorre esta montagem, comete um delito de evasão fiscal agravada”.

Uma corrupção sistêmica

A “guerra suja” entre governismo e oposição acontece no terreno das acusações mútuas. Acusações que expõem com clareza a podridão de um regime político e social que não pode prescindir da corrupção em suas múltiplas formas.

Os amigos do poder contam com a bendição do mesmo, tanto no momento de iniciar os negócios como na hora de protegê-los. O “capitalismo de amigos” do kirchnerismo só tem matizes discursivos com o exercido pelo macrismo.

Que as denúncias de Lázaro Báez abram a possibilidade de implicar prisão para Cristina Fernández Kirchner não é somente produto de uma operação política senão que também um resultado de um sistema amplamente ramificado de corrupção. Os nomes de Ricardo Jaime, Amado Boudou, Julio de Vido, Felisa Miceli e agora Lázaro Báez, entre outros, são a expressão de um mecanismo de governo onde o enriquecimento individual de múltiplos funcionários e amigos do poder, esteve mediado por um discurso progressista.

Para o macrismo, o escândalo revelado pelos Panama Papers põe em questão seu discurso sobre a “transparência”. A votação de ontem na Câmara de Deputados tem um valor quase estratégico, ao ficar às claras, cada vez mais, que grande parte dos funcionários da nova administração estão nas listas dos paraísos fiscais.

A corrupção é congênita ao capitalismo. Por isso não pode ser combatida sem tocar na raiz de suas verdadeiras causas: o entrelaçamento completo do aparato estatal com os interesses desta minoria social que constitui a classe capitalista.

 
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