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DIA 2 DE ABRIL
Uma juventude revolucionária para dar fim ao racismo e ao capitalismo
Jenifer Tristan
Estudante da UFABC
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Desde pequena sentia que algo tinha de errado comigo, zoações na escola por causa do cabelo, apelidos racistas. Prendia o cabelo o máximo possível, alisava, puxava, trançava e, pelos processos químicos, muitas vezes ficava com dores e feridas na cabeça, tudo isso para que fosse aceita.

É muito triste, mas infelizmente natural ouvir dizer que vários colegas de escola ao longo dos anos foram presos ou mesmo que morreram nas mãos da polícia. Sempre pensava que poderia ser eu a próxima, meu irmão, primos, quem será o próximo? A gente vai vivendo e crescendo sem muita perspectiva de vida, e, além do mais, não se aceitando, tentando buscar alternativas que nos levam muitas vezes ao crime e à morte, por termos uma vida desprovida de sentidos.

A gente cansa de ver sempre os nossos serem exterminados pela polícia, cansa de viver na marginalidade, sem acesso à educação, sem o direito à cultura (uma mínima fuga para expressar nossa revolta) como Rap, pichação e outras formas de expressão. Sempre que fazemos isso mais uma vez somos silenciados e muitas vezes pra sempre. Quem não se lembra de Rafael Braga, o único preso nas mobilizações de junho de 2013? Preso por ser negro e ousar bradar sua voz. E poderia ser qualquer negrx…

Somos uma juventude que cresceu vendo nossas mães se matando de trabalhar, fazendo faxina e cozinhando em casa de bacana, para depois chegar em casa cansada sem ter ânimo para fazer a sua própria comida, limpar sua própria casa e quem dirá cuidar de si mesma.

A gente que é negro sabe que a polícia na rua anda com a mira apontada na nossa cabeça, que nos dão educação de baixa ou quase nenhuma qualidade para que a gente cresça e não consiga se localizar e não saibamos dos nossos direitos. O discurso de meritocracia pega forma mesmo quando as condições são tão desiguais. Filho de rico estuda nos melhores colégios, enquanto a gente estuda sem ao menos papel higiênico e giz na escola.

Sempre soube que era necessário fazer algo, não sabia exatamente o quê. Construímos um grupo ainda secundarista para descobrir e pensar juntos como acabar com o capitalismo, a gente era contra as opressões e principalmente contra o racismo, porque éramos uma maioria negra, mas sabíamos que tínhamos que lutar com os brancos e principalmente com os trabalhadores.

Fui analisando e vendo que o racismo estrutural da nossa sociedade é justamente para nos manter na mais baixa localização social e sem perspectiva e ter que aceitar os piores postos de trabalho. Ser mulher negra e ainda receber um salário menor é uma injustiça de cada dia. Em quais postos de trabalho estão os negrxs? Nas universidades quase não tem!

Uma história de luta para uma vida em luta!

Por isso fui buscar onde os negrxs estavam na história e me surpreendi ao descobrir que a história do meu povo é de muita luta e que ao longo dos anos, aliás, desde a escravidão, estamos nessa terra resistindo. Então, decidi que assim como os que me antecederam iria também me colocar de pé nessa luta.

Todos nós jovens que sofremos com o preconceito e as mazelas do capitalismo devemos estar juntxs, unificar nossas fortalezas, contra o sistema capitalista que nos oprime, divide e quer nos manter no "nosso lugar". Mas o nosso lugar é na luta, e nossa tarefa é construir, neste país, uma forte juventude que diga basta ao racismo, aos preconceitos, a miséria e exploração, pois é nossa tarefa tomar partido!
Nos morros e periferias a situação é tensa e a miséria fala alto, a única coisa que se tem de apoio é a solidariedade entre os moradores, pois ali o estado é de exceção.
E a gente que é jovem vai acumulando tanto ódio de ser menosprezado, de não ver perspectiva de crescimento de vida e de transformação, ódio esse que às vezes é canalizado pelo tráfico, que dá a falsa ilusão de ascensão social, com motos, carro, dinheiro, pois, já que vai viver pouco, que seja aproveitando o mínimo. Mas essa saída é muito fraca, pois não liberta o conjunto dos nossos irmãos que em todos os lugares do país sofrem como nós.

O gatilho da polícia que mata os negros existe para defender a burguesia, a mesma classe social que agora está querendo empurrar desemprego, inflação e muito mais nas costas dos trabalhadores, para que sejam eles que paguem pela crise econômica. A mesma polícia defende os políticos, porque os políticos burgueses defendem o mundo como ele é hoje e não estão interessados em mudar Alckmin acabou de dizer que os professores não vão ganhar o bônus. Não tem dinheiro para os profissionais da educação, mas tem para a PM, que assassina e humilha a população negra e pobre, deu até aumento! A juventude não pode aceitar!
Mas tudo isso transformei em ódio bom, ódio que deve se voltar em primeiro lugar contra o impechament e as manobras golpistas hoje articuladas pela direita branca e herdeira dos latifundiários, mas também contra todos os ataques do governo do PT que com ajustes ataca em primeiro lugar a juventude negra que sofre com trabalho precário e morre nas chacinas policiais, esse ódio que me motiva a me organizar, se eles estão bem aliados do lado de lá, estejamos aqui também organizados e à altura de nos enfrentarmos, pois somos maioria, somos a juventude negra que saiu para as ruas em Junho de 2013, que ocupou escolas para defender seu direito ao futuro, direito esse que também querem nos arrancar. Vamos deixar que nos roubem também isso, ou construiremos com a nossa classe a aliança revolucionária e explosiva única capaz de por abaixo todo esse sistema?

Nós não temos compromisso algum com esse mundo de miséria! Já dizia Malcolm X, um dos maiores líderes da luta antiracista, que “sem racismo não há capitalismo”. Mas gente, existe uma saída. A vida está apenas começando, estamos apenas conhecendo nossas próprias forças. Mas a história nos ensina que a saída é apostar na luta de classes, e nessa luta nossos únicos aliados são os trabalhadores, para defendermos juntos uma perspectiva socialista. É hora de acabar com o racismo! É hora de varrer o capitalismo do mundo! É hora de juntar forças com os trabalhadores! E organizar em todos os lugares onde estamos a faísca da revolução que no Brasil será negra.
Todos os jovens precisam ouvir ao chamado de nossa época: É TEMPO de se organizar! É tempo de tomar partido! É tempo de agarrar com unhas e dentes o nosso futuro e dizer a partir daqui nós é que iremos construí-lo, com a moral dos panteras que se organizaram num partido em luta contra o racismo, a polícia e o estado, com o Rosa Parks que não cede e reivindica seus direitos, e ainda como os escravos haitianos, que rebelados apontaram seus fuzis contra seus senhores e diante da sua condição de escravização não se calaram, mas transformaram o que era sua prisão em LUTA!

Para esta tarefa apaixonante e combativa de destruir o capitalismo e o conjunto das opressões, convido todos a irem, no dia 02/04 no lançamento da juventude, construir no país uma forte luta que irá impor medo aos patrões, medo às direções e reitorias dos centros de estudo, pois aqui nasce a juventude que irá subverter a ordem e construir a revolução!

 
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