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INFORME ESPECIAL
Exploração e precariedade: assim vivem os refugiados sírios na Turquia
Josefina L. Martínez
Madrid | @josefinamar14

Do total de refugiados sírios residindo atualmente na Turquia, apenas 10% vive em acampamentos de refugiados, enquanto o resto sobrevive em centros urbanos, sem conhecer o idioma, trabalhando de forma ilegal e sem estudos. Segundo um estudo da universidade de Hacettepe de Ankara, em novembro de 2014, 53% dos sírios na Turquia eram menores de 18 anos e 75% eram mulheres e crianças. O acordo entre a UE e a Turquia aumentará a cifra de refugiados sírios na Turquia. Como será a vida na Turquia para os refugiados expulsos da Europa? Por que fogem da Turquia e tentam chegar à Europa arriscando suas vidas?

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Foto: Refugiados seguem chegando à Grécia ainda que sejam deportados para a Turquia. Stratis Balaskas, EFE

A vida nos campos de refugiados, um lugar sem esperanças

Nos 22 campos de refugiados que há atualmente na Turquia, as pessoas registradas devem pedir permissão para sair durante o dia e regressar antes da noite. Os campos são vigiados com fortes controles policiais, como se fossem cárceres com um regime de liberdade condicional por algumas horas.
As condições variam nos diferentes campos: em alguns, há refeitórios onde os refugiados recebem porções diárias de comida, em outros são divididas ajudas em dinheiro e as famílias compram e cozinham seus próprios alimentos.
Entretanto, embora o governo turco apresente esses campos como “exemplares”, a realidade é que a maioria dos refugiados sírios na Turquia não quer viver ali. Rechaçam os controles, a impossibilidade de ter um trabalho e ficar como párias, isolados do mundo.
Nesses campos, a vida de dezenas de milhares de pessoas se reduz à uma longa sucessão de dias sem ocupação. Algo que, por mais que muitos refugiados aceitem por um tempo curto, não se resignam que se transforme em sua vida. O número de pessoas que depois de ser admitidas em um campo abandonam rapidamente é muito alto, segundo estudo da universidade de Ankara.

Trabalho ilegal e exploração de menores

Em meados de janeiro de 2016, a Turquia modificou sua legislação e aprovou outorgar permissões de trabalho aos refugiados sírios, que até agora apenas podiam trabalhar de forma ilegal. A ONG Business & Human Rights Resource Centre (BHRRC) estima que entre 250 mil e 400 mil refugiados sírios trabalhavam ilegalmente na Turquia no final de 2015.
Com a nova legislação, as empresas poderão contratar legalmente refugiados sírios, mas apenas até 10% da planta, uma restrição que habilita a existência de contratação ilegal de refugiados de forma massiva.
A Turquia é uma das maiores exportadoras de têxteis do mundo, e a maioria de seus produtos é dirigida à UE. Marcas como Burberry, Hugo Boss, Marks & Spencer, Super dry, GAP, Espirit e muitas outras trabalham com provedores de oficinas têxteis nesse país.
A ONG BHRRC perguntou às principais marcas europeias que trabalham na Turquia se haviam investigado a existência de trabalho ilegal de menores sírios em suas oficinas. A maioria das marcas se negou a responder o questionário. Apenas em dois casos responderam afirmativamente.

“Tive que deixar a escola e procurar um trabalho”

Adil é um refugiado sírio de 16 anos, que trabalha na economia informal da Turquia. A família de Adil chegou em 2012 à Turquia escapando das bombas em Alepo.
Segundo Humans Right Watch, 400 mil crianças sírias não têm acesso à educação na Turquia e muitos deles terminam trabalhando no mercado informal.
“Quando comecei a escola, esperávamos que meu pai conseguisse um trabalho [na economia informal], mas não conseguiu encontrar nada” comentava Adil em uma reportagem de Al Jazeera.
“Minhas irmãs são muito jovens, e a menor era ainda uma criancinha quando chegamos à Turquia, por isso minha mãe também não podia trabalhar. Tive que deixar a escola e procurar um trabalho”. Adil trabalha como assistente em um comércio faz 3 anos, ganhando menos da metade do salário mínimo turco que era, em média, 344 euros.
As crianças sírias refugiadas são “mais fácil de manipular, têm menos demandas e definitivamente são mais baratas que qualquer outro trabalhador. As crianças aprendem a língua mais facilmente e adquirem as habilidades que requerem os trabalhos básicos de forma mais rápida”, assegurava o diretor do Centro de Políticas Migratórias da Universidade de Hacettepe a Al Jazeera.

Salários mais baixos e precariedade

O trabalho de refugiados sírios é uma norma em setores como agricultura, têxtil e construção, setores com um alto grau de precariedade. A Turquia tem 10% de desemprego e o trabalho ilegal dos refugiados sírios pressiona à baixa dos salários dos trabalhadores nativos, que em alguns setores como a metalurgia vêm levando adiante novos fenômenos de luta e organização.
56% dos nativos turcos entrevistados no mesmo estudo da universidade responderam afirmativamente à seguinte proposição: “Os sírios ficam com nossos trabalhos”. O mercado de trabalho informal e o trabalho ilegal dos refugiados sírios levaram a um aumento da xenofobia e da discriminação contra os refugiados sírios na Turquia, algo que é utilizado pelas próprias patronais e pelo governo para dividir os trabalhadores e debilitá-los.
O pacto da UE com a Turquia fecha as portas da Europa aos refugiados sírios que fogem da guerra e condena milhões de pessoas a uma vida de precariedade, trabalho ilegal, exploração de menores e discriminação social. Isso ocorre em um país onde o governo aumentou suas políticas repressoras contra a oposição, censurando a imprensa e massacrando o povo curdo. Assim viverão os refugiados que a União Europeia expulsa da Turquia.

Tradução: Vitória Camargo

 
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