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Esquerda Diário e partido: leninismo no século XXI
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

Entrando em sua quarta semana, o Esquerda Diário já dá passos profundos no Brasil para expressar a voz daqueles que são silenciados pelas corporações midiáticas da burguesia (O Globo, Estadão ou Folha de S. Paulo, que se dizem “paladinos da democracia”). Sendo acompanhado nas redes sociais por mais de 14.000 pessoas diariamente e numa dinâmica crescente, esta rede político-periodística da esquerda revolucionária internacional não tem precedentes, e se expande por toda a América Latina: desde a Argentina ao Chile, do Brasil ao México.

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Importantes partidos oriundos da esquerda revolucionária que resolveram o problema de conquistar uma massa crítica mínima e se apresentavam a eleições com distinto sucesso, careciam de instrumentos para conseguir uma base de influência "orgânica". Aproveitavam espaços ocasionais produto da crise dos governos e regimes burgueses, mas de nenhuma maneira conseguiam uma esfera de influência própria permanente (como foi o caso do periódico Rouge da LCR de Daniel Bensaïd durante o Maio Francês em 1968, ou o jornal do grupo WRP de Gerry Healy na década de 70, que apesar do êxito imediato, não se sustentaram no tempo).

O problema de conquistar influência própria permanente é um dos principais problemas estratégicos para uma organização política, e mais ainda para os que reivindicam a tradição revolucionária, já que se trata de saber como fundir as idéias da revolução social com as massas trabalhadoras, para que os trabalhadores transformem seu peso social esmagador na sociedade moderna em peso político hegemônico sobre as demais classes oprimidas.

Quando em 1921 o marxista italiano Antonio Gramsci transformou em diário o L’Ordine Nuovo chegou a falar de um “jornalismo integral”, ou seja, um “jornalismo que não queira apenas satisfazer todas as necessidades de seu público, mas que pretende criar e desenvolver estas necessidades e, em certo sentido, gerar seu público e aumentar progressivamente sua área de influência”. Um jornal que, permanecendo fiel ao programa da esquerda operária, “assegure ao partido uma tribuna legal que lhe permita chegar, de modo contínuo e sistemático, a amplas massas”.

De fato, é interessante refletir que o portal digital Publico.es foi o instrumento que projetou a figura de Pablo Iglesias e do Podemos, que em menos de um mês de criação conseguiu 11% dos votos (ultrapassando a Izquierda Unida, principal grupo à esquerda do PSOE). Igualmente importante notar que esta projeção eleitoral se deu em base a um discurso “nem de direita nem de esquerda”, um programa econômico abertamente socialdemocrata, a reivindicação de empresários como os que “levam o país adiante”, aplausos ao Papa Francisco, a negação a reivindicar o direito de autodeterminação das nacionalidades oprimidas pelo Estado espanhol, elogios à política de Obama e até mesmo a defesa orgulhosa das associações militares franquistas, completamente imbuída da idéia de uma “esquerda sem sujeito”, sem qualquer ligação com a classe trabalhadora.

Nesse aspecto, o Esquerda Diário se apresenta como seu exato oposto: o primeiro diário digital de uma esquerda operária militante internacional, e que no Brasil tem no Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT) uma peça importante desta estratégia de fusão da esquerda com o movimento operário.

Leninismo no século XXI e a luta por orientar setores de massas

Como dizia o marxista italiano, o jornal “cumpre dois papéis: o de informação e de direção política geral”. E a ampliação de sua zona de influência dentro da classe trabalhadora é inseparável da orientação estratégica que move a política partidária. Daí que para Lênin o periódico deveria ser um organizador coletivo, um instrumento que pudesse dar uma orientação coerente em todos os acontecimentos e uma batalha unificada por suas idéias e seu programa revolucionário, fundado numa organização profundamente vinculada às principais estruturas dos trabalhadores.

Mas o mais importante aqui é outro aspecto deste leninismo: a ambição de orientar diariamente a vida política de dezenas e até centenas de milhares de jovens e trabalhadores, mesmo sendo ainda uma minoria dentro da classe trabalhadora brasileira. Em 1904, em "Um passo adiante, dois passos atrás", Lênin trata exatamente da necessidade de "pensar como partido orientador de amplas massas", levando em consideração a diferença entre os militantes partidários e aqueles que colaboram com o partido, como primeiro passo para a tarefa de elevar o nível de atividade e consciência por todos os meios:

"Somos o partido da classe e, por isso, quase toda a classe (e em tempo de guerra, em época de guerra civil, a classe inteira) deve atuar sob a direção de nosso Partido, deve manter com nosso Partido a ligação mais estreita possível; mas seria (...) ’seguidismo’ acreditar que quase toda a classe ou a classe inteira possa algum dia, sob o capitalismo, elevar-se ao ponto de alcançar o grau de consciência e de atividade de seu destacamento de vanguarda, de seu Partido Social-Democrata. Nenhum social-democrata judicioso jamais pôs em dúvida que, sob o capitalismo, nem mesmo a organização sindical (mais accessível ao grau de consciência das camadas menos desenvolvidas) está em condições de englobar toda ou quase toda a classe operária. Esquecer a diferença que existe entre o destacamento de vanguarda e toda a massa que gravita em torno dele, esquecer o dever constante que tem o destacamento de vanguarda de elevar camadas cada vez mais amplas até seu avançado nível, seria apenas enganar a si próprio, fechar os olhos diante da imensidão de nossas tarefas, restringir nossas tarefas."

No Brasil é chave ter um instrumento que acelere a elevação do caráter consciente e ativo da experiência do proletariado nacional com a direção do PT de Lula e Dilma, que apesar de controlar a burocracia sindical e chefiar o Estado burguês, se acha em crise com a baixíssima popularidade do governo em função dos ajustes neoliberais, os escândalos de corrupção da Petrobrás e tendo triplicado o número de terceirizados em dez anos de governo.

Disso, fica clara a diferença entre os dois projetos de “dirigir-se a amplas massas”: um que afirma que mais importante que o programa político é o discurso (como diz Pablo Iglesias do Podemos, “95% do que define uma organização política é o dispositivo audiovisual”), e que em função da substituição da classe trabalhadora enquanto sujeito por uma soma de fenômenos quaisquer anula qualquer reflexão estratégica sobre hegemonia proletária, essencialmente socialdemocrata (aparatos eleitorais sem militância orgânica) descartando qualquer transformação revolucionária na sociedade (neste aspecto, igualmente se encontra o Syriza da Grécia); e outro, que vincula a militância orgânica nas estruturas e a projeção de um diário digital internacional como operações combinadas para a construção deste sujeito proletário hegemônico, que queira dotar-se de um partido político independente para vencer.

O Esquerda Diário que busca "conquistar influência de massas" pode intervir na realidade nacional, ainda que em pequena escala, como um acelerador da conclusão desta experiência de massas com o PT: a fusão do movimento operário com a esquerda revolucionária, o que não pode se dar sem a luta por inserir-se organicamente nos principais bastiões da classe trabalhadora industrial e dos serviços.

Partido e diário

Durante toda a década anterior foi comum aos chamados governos “pósneoliberais” (inspiração para Pablo Iglesias e o Podemos), desde o chavismo até Evo Morales, passando pelo kirchnerismo argentino e o petismo de Lula e Dilma no Brasil, agitarem o discurso da integração latinoamericana através do Mercosul e da UNASUR, contra as investidas dos EUA na região. Entretanto, esta “integração” pelas mãos dos exploradores nativos “progressistas” não foi além das disputas entre os interesses comerciais de cada burguesia nacional, impotente diante do imperialismo que instalou suas bases militares na Colômbia em 2009, aplicou o golpe militar em Honduras no mesmo ano e o golpe cívico no Paraguai em 2012.

A recente Cúpula das Américas e a recomposição dos Estados Unidos na América Latina (avançando nos acordos com a burocracia castrista para acabar com as conquistas restantes da Revolução Cubana), aproveitando-se do desespero econômico de Dilma para garantir uma nova subordinação do PT à Casa Branca, além de isolar o governo venezuelano, mostram como “progressismo” preparou o terreno para um “novo ciclo” de dominação norteamericano na América Latina.

Esta verdadeira integração não virá das mãos das burguesias nativas. A classe trabalhadora latinoamericana, que virou parte da “agenda política” internacional com a contração econômica, é a legítima herdeira da luta independente contra a ingerência imperialista, e para isso precisa conquistar a hegemonia política diante do conjunto das massas oprimidas.

Este internacionalismo militante é que move a iniciativa do Esquerda Diário por toda a América Latina, que é um poderoso instrumento impulsionado pelos grupos da Fração Trotskista – Quarta Internacional, possibilitando a formação de novos escritores e correspondentes, dando liga à aspiração de unificar os trabalhadores brasileiros, argentinos, e de toda a região na luta pela revolução operária e socialista neste subcontinente como parte da revolução internacional.

 
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