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POLÊMICA
PSTU: vacilando pra não defender abertamente o impeachment da direita?
Simone Ishibashi
Rio de Janeiro
Edison Urbano
São Paulo
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As viragens da situação nacional são muitas. Isso exige dos revolucionários e das organizações da esquerda um detido esforço por buscar a análise e orientação mais precisas, a partir de postura crítica e independente das idas e vindas da opinião pública. Sobretudo da expressa através dos setores da classe média alta que integraram os atos do dia 13/03, que reivindica abertamente mais força nas ações do Judiciário e da Polícia Federal, e que coroou Sergio Moro como herói. A esquerda deveria combater essa via claramente. Mas, novamente, o PSTU faz o oposto disso.

O “Fora Todos” e as eleições gerais: fundamentos de uma política errada

Já discutimos em diversos artigos, como aqui porque a política de Fora Todos e eleições gerais termina servindo à oposição de direita. A política de “Fora Todos” despreza totalmente o sujeito que a protagonizaria, que na situação presente seria o STF, Moro e etc. Mas faz-se necessário uma vez mais voltar ao tema.

Na última edição do jornal Opinião Socialista, o PSTU nos brinda com mais uma pérola. De acordo com a sua tese, o impeachment faria com que “qualquer governo que venha seria mais fraco do que de Dilma”. O que deriva disso, é que o impeachment favoreceria os trabalhadores e o povo. Dessa forma, o PSTU diz que é contra o impeachment, mas termina sendo a quinta roda dessa política. Para o PSTU, que já saudou os panelaços dizendo que “teria que ser também contra Cunha e Aécio”, isso seria secundário, pois sua lógica política e teórica, é de que se o governo caísse, não importa que fossem pelas vias mais reacionárias, isso significaria um avanço.

Essa lógica já demonstrou ser catastrófica nas posições que a LIT defendeu mundo afora. Exemplos não faltam: no Egito, quando aconselharam o Exército a como reprimir a Irmandade Muçulmana depois da queda desse governo, na Líbia quando saudaram como um “tremendo triunfo das massas” a queda do regime pela via da ofensiva da OTAN, ou na Síria quando apóiam de maneira absolutamente acrítica os opositores como o Exército Sírio Livre, apoiado pelos EUA. Na Ucrânia e na Venezuela se ligaram diretamente à direita, sob a mesma lógica de se apoiar nos setores opositores aos governos, mesmo que esses fossem burgueses e reacionários.

Agora é a vez de defenderem essa política desastrosa em nosso país, com o “Fora Todos”, outrora defendido em 2005 frente à crise do mensalão. Porém, naquela ocasião a absurdidade dessa política não se demonstrou totalmente, pois não havia uma direita organizada nas ruas. Ao contrário de agora.

E aí é onde se esconde (ou tenta) o direitismo real da verborragia sobre o "Fora Todos": sem mobilizações de massa com caráter independente, para derrubar o governo pela esquerda, na atual conjuntura o Fora Todos, nada mais é que uma outra versão da Lava Jato até o final. E em primeiro lugar do “Fora Dilma”, isto é do impeachment. O “todos” em sua política de “Fora Todos” apenas é um penduricalho para se cobrirem pela esquerda. O que não se efetiva. Se a declaração pelo "panelaço até o final" de Zé Maria não causou mais que constrangimento em setores mais lúcidos do PSTU e da Conlutas, a sua continuidade no "Lava Jato até o final" pode ter consequências muito mais graves.

O “Fora Todos” hoje é imediatamente acompanhado de um “Fortalece-se Moro” (ou qualquer outra figura que simbolize o arbítrio do Judiciário), reconfigurando o sistema político em chave reacionária, apoiado nas instituições mais reacionárias do Estado burguês. Por mais que digam que não é isso que defendem, esse é o efeito que assume na realidade. Um verdadeiro desserviço que desorienta os trabalhadores para enfrentar o endurecimento autoritário do regime político que virá contra eles mesmos, que advirá certamente do impeachment.

Um exemplo gráfico é o ato que organizaram com os trabalhadores da GM. Por isso tudo, foi grotesco ver o PSTU conduzindo uma pequena coluna de trabalhadores para o erro do “Fora Todos”, com bonecos idênticos aos usados pela direita em suas manifestações. Mesmo que esse ato tenha sido minoritário, é sintomático que o PSTU na direção do sindicato há anos não preparara os trabalhadores para lutar contra as demissões, mas tenta colocar uma parcela pelo “Fora Todos”. Ao invés de fazer com que os trabalhadores entrem em cena com uma política independente, os coloca como reféns de uma política que favorece a direita.

Mas o impeachment é apenas uma hipótese de desfecho para a crise atual. A outra, menos "radical", é que apesar de toda a pirotecnia e fortalecimento conjuntural da chamada "república de Curitiba", o desenlace seja que, removido o PT, os velhos partidos da ordem voltem a governar com a tranquilidade de quem acorda de um pesadelo. E nesse caso, o problema maior da política do PSTU se coloca de forma ainda mais imediata.

As eleições gerais que defendem, além de não dar nenhuma saída de fundo para a crise política, já que não oferece uma ruptura com o regime atual, teria um efeito de direita imediato, pois seguramente entrariam outros representantes de algum dos partidos da burguesia, tão corruptos e ajustadores, ou mais, do que os que hoje estão no governo. Não à toa, essa proposta cola o PSTU diretamente em setores que defenderam essa política desde que a crise nacional se agravou. Seus nomes? Como já dissemos antes Ronaldo Caiado, líder do DEM no Senado, o deputado federal Luiz Carlos Hauly, do PSDB do Paraná, para citar apenas alguns.

A política do PSTU de que “os corruptos não pudessem se eleger” é completamente incapaz de responder aos grandes problemas. Como se definiria o critério de corrupção? Com o da Lava Jato? E, mais importante, se houvesse uma mobilização dos trabalhadores, da juventude e do povo, que fosse capaz de impor que nenhum corrupto pudesse se eleger, seriam um absurdo parar nas eleições gerais. Pois todos os partidos da burguesia são corruptos. Então se deveria impor pela mobilização uma saída muito mais de fundo.

Embelezando os atos de 13 de março!

Mas para além desses erros insistentes do PSTU, agora somam-se outros, cujos fundamentos são essencialmente iguais. Munidos do mesmo impressionismo e objetivismo, agora o PSTU simplesmente embeleza os atos da direita em 13 de março. Apesar de apontarem que foram compostos majoritariamente pela classe média alta, algo que até o Datafolha teve que divulgar, com a ausência da juventude, grande protagonista de junho de 2013, o PSTU lança uma névoa sobre o caráter das manifestações.

Define que essas tiveram um caráter um “cunho anti-corrupção, anti-governo, e contra todos os políticos”. O que corresponde a afirmar de maneira completamente por fora da realidade, que o seu caráter é muito mais aberto, e potencialmente progressista, do que de fato foi. Se assim fosse, caberia perguntar então ao PSTU por que não foram aos atos do dia 13 de março? Porque apesar do malabarismo que fazem é evidente que o que caracteriza o significado político do ato não é isso.

Em primeiro lugar porque como já debatemos aqui ainda que tenha havido repúdio por parte de manifestantes a Aécio, de nenhuma forma se tratou de uma manifestação de cunho nem remotamente parecido com o “que se vayan todos” na Argentina em 2001, quando as massas do país exigiram inequivocamente que todos os políticos se fossem. Aqui setores expressivos reivindicaram Aécio, Bolsonaro, e até Maurício Macri, o presidente ajustador da Argentina atual, pedindo “help” para Donald Trump. Acaso isso seria a base do “Fora Todos” agitado pelo PSTU?

E nem falar da reivindicação escancarada de Sergio Moro, que reinou absoluto nas manifestações do dia 13 de março. Qual é a conclusão que o PSTU tira desse fato, que inclusive é obrigado a citar na sua nota? Querendo “dialogar”, por mais que digam que não é o que almejam, não fazem mais do que semear ilusões e gerar confusões numa suposta “base” de um ato profundamente reacionário.

“A Justiça é de classe”, correto. Mas o que fazer frente a isso?

Mas as viragens da política nacional estão mostrando na realidade a importância de não ceder às ilusões em Sergio Moro e na Lava Jato. No dia 17 de março há uma nova mudança na conjuntura com a percepção mais evidente em setores significativos, de que é no mínimo estranho como grampos e delações vazam, em especial a que capturou uma conversa entre Dilma e Lula. Muitos começam a colocar como a ação de Moro é completamente autoritária, e visa atuar em nome de interesses próprios, retirar as liberdades democráticas dos trabalhadores, e não “limpar” o regime.

Isso lança luzes sobre as reais intenções de Sergio Moro e da Lava Jato, como representantes de interesses burgueses que investigam um lado, e lavam a cara de outro, como os de Aécio, Cunha, e um longo etecetera. Que falam de democracia, enquanto defendem em nome da legalidade que a juventude e os trabalhadores sejam reprimidos a todo instante. Que buscam na verdade trocar os comandantes do governo para acelerar ainda mais os ataques e ajustes que o PT está desferindo contra os trabalhadores e a juventude.

O PSTU só começou a denunciar Sergio Moro agora, como se vê aqui. Antes se resumia a se apoiar acriticamente na Lava Jato para embasar seu “Fora Todos”, como aqui quando dizem que a Lava Jato “sintetiza a crise nacional”. Hoje o PSTU é obrigado a dizer que não se deve confiar em Sergio Moro, e na Lava Jato, que já dura dois anos. Com uma “vanguarda” como essa, quem precisa de retaguarda?

Mas mesmo essa denuncia tardia não encontra equivalência na sua política. Não oferecem nenhuma saída política no artigo em que finalmente denunciam o papel de Sergio Moro. Não é de estranhar. Sua política de “Fora Todos” que legitima a Lava Jato, e de eleições gerais, que em nada responde a como superar os limites desse regime político, não podem realmente oferecer uma resposta.

Como fazer surgir uma política independente?

Portanto, para responder à essa situação é preciso que se dê um fim à separação entre as reivindicações econômicas da classe trabalhadora e do povo, e a crise política que assola o país. Para isso é preciso que nas lutas e greves existentes e nos sindicatos dirigidos pela esquerda, como por exemplo o Sepe à frente da greve de professores estaduais no Rio de Janeiro, lancem uma exigencia à que a CUT, que diz ser contra os ajustes do PT mas se preocupa apenas em salvar o governo, de que rompa com o governo e construa um movimento nacional contra os ajustes e a impunidade. Não colocar isso na ordem do dia é ceder à CUT, e deixar os trabalhadores sem alternativa.

É fundamental que esse movimento nacional contra os ajustes que o PT desfere, construído na luta de classes, sirva para que os trabalhadores e a juventude entrem em cena de maneira independente, colocando de pé um movimento que se ligue a um combate a toda impunidade. Nele há que se lutar por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana. Essa Assembleia deve varrer esse regime político.

Deve impor que haja eleição popular e revogabilidade por parte do povo e todos os políticos, juízes, e funcionários de alto escalão, que também devem ganhar um salário equivalente ao de uma professora. Deve fazer com que a crise seja paga pelos capitalistas. E que a corrupção seja investigada e punida, mas não pelo Judiciário ou Sergio Moro a serviço da patronal da FIESP, mas pelo povo, através de júri popular. É sob essa política clara que devemos nos manifestar, em alternativa ao 13 da direita, ou ao 18 e 31 dos que defenderão o governo de ajustes do PT. E enquanto pairar a questão do impeachment, não pelo “Fora Todos”, como quer impor o PSTU à Conlutas na marcha que convoca.

 
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