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MANIFESTAÇÃO DA DIREITA 13/3
O ato de domingo, Luis Inácio e os 300 picaretas
Chico Pontes
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Os atos desse domingo no Brasil expressam uma grande operação, organizada pelo que existe de mais atrasado em nosso país, que qualquer pessoa séria e crítica, não pode apoiar. A Rede Globo iniciando a transmissão com cobertura de Copa do Mundo, com a "central" matinal sendo o estúdio esportivo do Esporte Espetacular e seu narrador, mostra todos os detalhes sórdidos da mídia de massas e o grande papel que cumpre nesse sentido para a influência de milhões. Construir um veículo independente de mídia e informação é a prioridade de qualquer esquerda séria, e por isso me orgulho do "esforço" que minha organização desenvolve para construir algo, ainda pequeno frente a dimensão continental desse país, mas muito audacioso chamado Esquerda Diário. Não será o impeachment via TSE ou votado por "500 picaretas com anel de doutor" como cantaria Hebert Vianna nos anos 90, que vai limpar nosso país da corrupção e garantir um país justo e democrático para os trabalhadores e para os pobres.

Não será a ética seletiva da Globo apoiada pelo imperialismo, nem a FIESP, e muito menos Aécio, Bolsonaro, o PSDB e PMDB, que resolverão os grandes problemas desse país. Até o momento, são atos expressivos, majoritariamente brancos e de classe média, com um vigoroso ato em SP, e de conjunto iguais talvez maiores que os de março do ano passado. O peso da figura de Moro chama a atenção, assim como em anos atrás foi a figura de Joaquim Barbosa, o Batman salvador. Também é emblemático o Fora Cunha aparecer. Os preconceitos anti-operários e machistas, a mulher negra no Rio de Janeiro levando o filho do casal branco, assim como as piores expressões de xenofobia nos cartazes (+Coxinha – Acarajé), são apenas simbolismos de um ato organizado pela direita, com presença expressiva de grandes setores de classe média.

Aécio e Alckmin foram vaiados, é verdade. Isso já havia acontecido com Paulinho da Força em outros atos. Expressão, na minha opinião, muito mais de pequenos “setores duros” a direita, possíveis votantes de Bolsonaro, do que um “que se vayan todos do povo”, como teve a infelicidade de escrever Luciana Genro. Com o desgaste de toda a casta política brasileira, o Judiciário, instituição tão corrupta e privilegiada quanto o parlamento e o executivo, é a menos desgatada nesse momento. É um equívoco que setores de esquerda, como o PSOL e o PSTU, se posicionem exigindo que "a Lava-Jato apure todos" logo após a operação contra Lula, como se fosse possível uma PF ou um judiciário "limpo", uma “Lava-Jato honesta” da mão dessa gente, ou "fora todos e novas eleições", sem questionar esse pilar fundamental de sustentação do capitalismo brasileiro que é o judiciário. Nem se falar de delírios de seitas ditas de esquerda que não merecem existir, como o Movimento Negação da Negação, que após estar ao lado do “Cansei” a uma década atrás dizendo “Fora Lula, agora é Lenin”, que ao menos era engraçado, 10 anos depois solta um cartaz escrito "Lula na prisão!", nas vésperas desse ato, que poderia muito bem ser feito por um grupo de extrema-direita.

Mas também existe algo que não se viu nas ruas, mas que é profundo. Que é preciso ter ouvidos pra sentir, escutar. O fato de setores expressivos de trabalhadores não irem para ruas está longe de significar a sustentação de Lula, Dilma e o PT. Veremos isso nos próximos atos governistas. A raiva de setores da base da APEOESP com as defesas inflamadas e acríticas ao governo durante a última reunião de representantes de escola, os comentários nos ônibus e terminais, o ceticismo dos professores e a raiva dos estudantes que estiveram a frente das ocupações contra Alckmin, a legítima bronca dos operários ocupados da MABE contra o "metalúrgico Lula", mostram um processo profundo de ruptura com o petismo. O “esperar pra ver”, em silêncio por enquanto, daqueles que sabem da manipulação da mídia, que não se iludem com o PSDB, mas que não acham que "estaria tudo bem", se a Globo estivesse falando também da merenda. Afinal, se todos os bandos corruptos fossem expostos, seria a solução pro país? Sabem que pra além da ética seletiva da grande mídia que guarda os piores interesses da elite, a corrupção estrutural em que o PT esteve envolvido a frente do Estado brasileiro, é um fato. O "Luis Inácio falou, Luis Inácio avisou" de Hebert também ficou pra trás. Hoje, para milhões de trabalhadores, ele se misturou nas relações de poder com os "os 500 picaretas". Afinal, "me diga com quem andas e te direi quem és", é um ditado popular na mente de muitos, assim como os abraços de Lula com Maluf, Collor, Sarney, Katia Abreu, Roberto Jefferson, Odebrechet e tantos outros estão em nosso imaginário.

Se isso será canalizado à esquerda ou à direita, se terá resposta ativa ou cética frente aos próximos ataques, sejam eles da mão de Dilma ou de um possível futuro governo ainda mais duro contra os trabalhadores, só o futuro dirá e as próximas batalhas. O que é certo, é que a ilusão que o PT criou, ao longo das últimas duas décadas de forma mais profunda, de que os trabalhadores teriam suas vidas melhoradas e transformadas radicalmente nesse sistema, de forma pacífica com a burguesia, cobra seu preço agora. Essa fase se esgotou. O Congresso do "grande aliado" PMDB no dia de ontem, deixa claro que as próximas semanas serão determinantes.

Nem impeachment, nem ceticismo que favorece os ataques da elite contra os mais pobres. É preciso deixar a desilusão de lado, assim como aqueles que durante décadas nos enganaram. Os trabalhadores e a juventude mostram a disposição em construir algo novo, uma nova voz nesse país, com os secundaristas de SP, GO e RJ, os professores do Rio, a greve de fome dos estudantes da Federal da Paraíba, os guerreiros sem trégua da ocupação operária da MABE. É preciso trilhar esse caminho, construindo uma alternativa de esquerda e revolucionária dos trabalhadores, para acabar de vez com os privilégios de toda a casta política e da justiça brasileira, em que os trabalhadores e o povo possam realmente decidir os rumos desse "continente" através de uma Constituinte Livre e Soberana para refundar esse país. As novas gerações que despertam merecem outro Brasil. Finalmente, "fazer justiça uma vez na vida", a parte ainda viva 20 anos depois da música de Paralamas.

Deixo a música dos Paralamaspara escutar e pensar sobre o futuro e o passado desse país. Os 300 picaretas seguem por lá, e o Luis Inácio que falou, avisou...imitou.

 
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