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PERCUSSIONISTA
Naná Vasconcelos, o toque do negro
Gabriela Farrabrás
São Paulo | @gabriela_eagle

Naná Vasconcelos não gostava de lembrar a idade que tinha. Morreu no dia 9 aos 71 anos, mas dizia rindo que tinha 430 anos.

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Juvenal de Holanda Vasconcelos, ou apenas Naná, ou ainda Naná Berimbau Vasconcelos, nasceu em 22 de agosto de 1944 no bairro de Sítio Novo, periferia de Olinda, Recife. Filho do músico Pierre e de Petronila, que o ensinou a ouvir o maracatu, os tambores do candomblé e o canto da capoeira.

Começou na música com o pai Pierre aos 12 anos. Mesmo com a morte prematura do pai continuou na música, primeiro como baterista, depois como percursionista e no auge acompanhado de seu berimbau e regendo crianças tocando o maracatu.

Para o mundo morreu um dos maiores percursionistas do mundo, referência para o jazz e para a música popular.

“Música e imagem é a mesma coisa”, dizia Naná. Sua música não é mistura de diversos ritmos e influências, ele intitulava sua música como surrealista. Para muitos críticos foi ele que levou a música brasileira para o mundo.

O músico que nunca aprendeu a ler partitura fez do som do xaxado dos pés na terra, do bater das mãos na água, do silêncio entre os sons música e declarava que “a gente toca mais quando não toca.”

Sua biografia para a história da música começa em 1970 depois de sair de Recife aos 27 anos em 1967. Através do amigo, o também músico, Geraldo Azevedo conheceu Milton Nascimento com quem fez a música “Pai Grande”. Dizia que Milton não podia ser bossa nova e que ali em “Pai Grande” eles construíram algo novo contando a história de seus antepassados negros, “(...) era um navio negreiro, mas no Rio Amazonas.”

Depois disso foi aos Estados Unidos com Gato Barbiere, grande saxofonista argentino, tocando seu berimbau. Em 1972 lança seu primeiro disco “Africadeus”, chamando a atenção do cenário musical. Mas é em 1976, que irá ganhar prestigio com o premiado “Dança das Cabeças”, feito com o músico, que se tornou seu parceiro em mais de 300 canções, Egberto Gismonti.

Foi, então, Europa com Don Cherry e Collin Walcott, formando o trio CoDoNa com quem lançou três discos em 1978, 1982 e 1983.

Nanã ficou mais conhecido fora do Brasil do que em seu país, isso o aborrecia e fazia sentir que não havia mais novidades para ouvir, absorver e produzir. Voltou para Recife, lançou vários álbuns e em 2011 começou a ensinar o maracatu para crianças se tornando Mestre Naná, título que nunca reivindicou.

Em 2016 depois de ser internado morreu no dia 9 de março, mas Naná não morreu, Naná é eterno, Naná vive. Naná levou a música negra nas alfaias do maracatu, a música negra nos tambores do candomblé, a música negra no berimbau da capoeira para o mundo.

Tomou o jazz dos americanos de assalto com o berimbau em mãos. E em um ato de humildade não aceitou o título de Mestre, mas ensinou o maracatu a algumas centenas de guris, fez questão de passar o que aprendeu sem partitura alguma aos mais novos, de deixar vivo o toque do negro.

 
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