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Em vigor desde o início de junho, os ataques da nova carreira de professores estaduais - implementados agora por Rodrigo Garcia (Democratas), mas pensados e articulados por João Doria e Rossieli Soares (ambos PSDB) - começam a aparecer na realidade da categoria. Além de tantos ataques da esfera federal do reacionário governo de Bolsonaro e militares, que levou a frente cortes orçamentários e ataques ideológicos profundos, a educação de SP ainda conta com a herança de uma política histórica do PSDB de desmonte da educação pública no estado.
Enquanto os professores aguardam o recebimento do novo salário, que há anos não recebia reajuste, o mesmo veio ligado a uma série de ataques junto a nova carreira que busca precarizar e controlar ainda mais esses trabalhadores da educação. Os professores contratados nem ao menos tiveram o direito de escolha, foram compulsoriamente enquadrados nas novas regras. Já os efetivos terão até dois anos para escolher, sendo que o governo vem pressionando à adesão da categoria.
A partir de agora, os professores ficarão a jornada completa de trabalho dentro da escola, submetidos a mais controle e pressões diretas das direções, e em um ambiente precário onde falta de espaço de estudo, material, internet, onde em muitas escolas não há nem ventilação e estrutura adequada. Ou seja, os ATPLs, antes cumpridos fora da escola, agora serão realizados dentro das escolas, muitas vezes em ambientes insalubres e sem estrutura para os professores prepararem suas aulas. Tal obrigatoriedade já existe para os professores do PEI - outro programa de ataque do governo que está longe de ser um ensino integral de qualidade e inclusivo - e passará também aos do ensino regular. E isso, segundo o governo, é um dos caminhos para melhorar o desempenho dos estudantes, mesmo que estes sejam submetidos às mesmas condições precárias da escola.
Entenda mais aqui: "Nova Carreira" de Doria e Rossieli esconde precarização e controle sobre professores.
Ainda, a nova carreira trás um aumento salarial, mas também reduções em direitos agora atacados, como por exemplo a redução da Gratificação do Trabalho Noturno de 20% para 10%, reduções no recebimento referentes ao Adicional de Local de Exercício (ALE) e redução do valor da gratificação de 75% sobre o salário dos professores de PEI para valores agora fixos.
Ou seja, a nova carreira com sua promessa de valorização dos professores é uma farsa! Essa demagogia criada para fingir que os políticos estariam preocupados com a valorização dos professores, veio na verdade para aumentar a exploração dos professores e piorar as suas condições de trabalho, uma vez que outros ataques foram ligados na nova carreira e inúmeros professores já vivem no chão da escola na mira do controle de direções assediadoras que possuem agora mais poder para seus assédios garantidores do controle do estado sobre o aprofundamento da precarização da educação e desmonte da educação. Aumentam a carga horária, reduzem salário e garantem que os professores ensinem cada vez menos.
Ainda, para embelezar o aumento salarial, o mesmo veio no mês do recebimento das férias, como tentativa de construir uma ilusão de grande aumento, mas que quando é colocado na ponta do lápis, não equivale ao aumento da carga obrigatória somada às possíveis reduções que possam vir. O governo brinca com o desespero que a categoria, assim como toda a sociedade, tem tido para poder pagar as contas que só sobem com a inflação e crise econômica nacional. Usam dessa crise que não foi causada pela nossa classe, para descarregar ainda mais nas costas dos trabalhadores, usando aumento salarial para justificar aumento de exploração e precarização da vida.
Enquanto isso, a APEOESP, sindicato dos professores estaduais de SP dirigido majoritariamente pelo PT e PCdoB, não construiu efetivamente a luta da categoria contra a nova carreira, pelo contrário. Há anos vem esvaziando o sentido de luta dos professores, transformando a APEOESP em um sindicato de métodos judiciais e pressões parlamentares, que nas últimas décadas não reverteram em vitórias para a educação pública, mas sim cada vez mais derrotas, desmonte, fragmentação e desmoralização. Hoje, diante desse cenário, novamente articulam de desviar o ódio dos professores para uma saída passiva de aguardar as eleições e um milagre. Mas as transformações necessárias para a educação e toda a sociedade são irreconciliáveis com os interesses de governos e patrões. Elas terão de ser arrancadas pelas mãos daqueles que tudo constroem nessa sociedade, os trabalhadores, a juventude e o povo oprimido.
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