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Greve de professores do Rio de Janeiro
Superar o rotineirismo do MUSPE e da maioria da direção do SEPE para vencer
Carolina Cacau
Professora da Rede Estadual no RJ e do Nossa Classe

Os professores da rede estadual do Rio de Janeiro iniciaram sua greve no dia 2 de março por tempo indeterminado. A assembleia ocorreu na Fundição Progresso e estiveram presentes mais de 2500 professores. Segundo o SEPE a greve foi aderida por 70% da categoria no primeiro dia.

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A assembleia contou com a presença de estudantes das escolas da rede estadual que vieram de várias regiões do estado do Rio de Janeiro apoiar os professores. Esta greve se inicia com bastante força e faz muitos anos que não se via os professores da rede estadual tão mobilizados. A presença dos estudantes também foi um fator importante mostrando a força da luta dessa juventude que tem feito atos diários no estado inteiro mostrando o enorme potencial que tem a unidade entre trabalhadores da educação e estudantes em um grande movimento coordenado de greve pela educação e contra os ajustes do Pezão.

Isso é produto da grande politização que se abre no cenário nacional, e de uma percepção que cresce de que os trabalhadores e a juventude não devem pagar por uma crise que não criaram. Frente à falência do estado, que está imersa numa dívida pública exorbitante, da Saúde, do ataque às universidades, e do financiamento de obras para as Olimpíadas que favoreceram empreiteiras e monopólios, começa a se mostrar um potencial importante de lutar contra essa situação. É urgente que se avance em uma política que seja efetivamente capaz de não desperdiçar esse potencial. E isso envolve tanto as formas de organização desse movimento, como a necessidade de sair do script das ações rotineiras.

Uma prova desse rotineirismo das direções dos movimentos, organizados no MUSPE, é que o próximo ato está marcado apenas para o dia 16 de março! Ou seja, ao invés de parar o Rio de Janeiro, com ações contundentes, diálogos com a população, e fortalecimento do apoio dos estudantes, o Sepe e o MUSPE fizeram com que se espere 15 dias! Não é de se espantar que mesmo com a disposição de luta que os professores e estudantes demonstraram, a rede Globo pôde seguir propagandeando mundo afora sua mentira de Rio de Janeiro maravilha das Olimpíadas, dando destaque mínimo à nossa luta.

Isso não é uma mera discussão organizativa de datas de atos, mas uma demonstração de como essas direções são incapazes de conduzir uma verdadeira batalha de classe, que é o que precisamos nesse momento. Por exemplo, deixam sem perspectiva durante mais de duas semanas os estudantes, que demonstraram que estarão ativamente ao lado de seus professores, caso eles organizem ações! Por isso é fundamental que em cada região, em cada escola, os professores organizem essas ações. E que busquemos outra política, pois a dessa direção não está à altura do nosso desafio. Os pais dos alunos que sabem que a Educação está em decadência, os trabalhadores que sofrem as demissões, os idosos e as mulheres que não têm atendimento médico porque os hospitais estão em situação de calamidade. Todos esses são nossos aliados, que poderiam atender ao nosso chamado, dos professores em greve, para ações em comum que demonstre que não vamos pagar essa crise!

Temos que fazer como os estudantes e tomar as ruas, com atos e reuniões locais e centrais toda a semana. A direção do MUSPE já mostrou que não esta se preparando para a greve, defendendo que ela ocorra só em Abril. Temos que unificar pela base todas as categorias em luta e não ficar a reboque das direções do MUSPE. Para isso é fundamental que se construa os comandos da categoria dos professores e que esses se unifiquem e coordenem com outros setores em greve e junto aos estudantes das escolas públicas que estão lutando.

Por um comando de greve democrático eleito na base e revogável

A discussão central da assembleia foi a organização e o comando de greve. Houve duas propostas apresentadas, uma por um setor da esquerda que correspondia à um comando de greve central em que os delegados fossem votados na base das assembleias regionais, e a diretoria do sindicato também se centralizasse pela votações nas assembleias regionais como toda a base. A outra proposta, defendida pelo PSTU e pelo PT, que também era a proposta de setores da direção do sindicato, era uma fórmula em que o comando de greve deveria seguir o seguinte molde (que consta no boletim do sindicato): 24 diretores do SEPE Central, pela proporcionalidade, mais dois diretores de núcleos e regionais, mais representantes de base, eleitos na base (núcleos e regionais) em assembleias locais. Já os núcleos e regionais podem eleger seus representantes de base através de duas fórmulas: 1) representantes de escola reúnem-se em conselho de representantes pela fórmula estatutária; 2) eleição em assembleia pela proporção de 1 delegado a cada 20 escolas e 20 presentes na assembleia

Apesar da segunda proposta ter ganho, muitos professores se abstiveram. Este não é um debate menor, a questão da organização da greve, pois o comando de greve é um organismo fundamental para dar direção e fazer avançar a greve. Discordamos da proposta pela maioria da direção do SEPE, pois na prática significa que a maioria do comando segue sendo as direções do sindicato e não as posições debatidas e discutidas desde a base. As direções do sindicato devem se fundir nos comandos de greve e não ter uma proporção fixa, que pode significar um duplo comando da luta. Apenas com um comando eleito na base, em que a direção do sindicato se centralize por ele, e que os delegados sejam revogáveis é possível que os professores possam decidir os rumos da greve da maneira mais democrática e votado na assembléia geral, que é o espaço máximo de deliberação da greve.

É preciso avançar na organização da greve para enfrentar os ajustes

A luta que está colocada neste momento é construir uma grande e dura greve contra os ajustes que estamos sentindo estadualmente, mas são aplicados nacionalmente pela direita e pelo governo Dilma. Os governos, os banqueiros e empresários, os editoriais dos jornais burgueses tem uma linha clara para a crise, fazer com que os trabalhadores e a juventude paguem pela crise, aumentando a contribuição previdenciária, aumentando a aposentadoria, diminuindo salários, além dos duros cortes na saúde e educação. É hora de respondermos a altura ao nível de ataques colocados. Querem mexer nos nossos direitos trabalhistas, nos direitos sociais (saúde e educação), enquanto gastam muito mais pagando a dívida pública e os altos custos da vida cheia de privilégios (que a classe trabalhadora nem sonha em ter) dos parlamentares. É hora de dar um recado claro ao PMDB e nacionalmente ao PT, que não iremos aceitar que nos imponham derrotas.Temos o exemplo da greve de 2014, em que o comando de greve que não era eleito na base, não serviu para organizar a greve e vários professores foram penalizados.

Para isso a categoria tem que tomar essa luta em suas mãos, seguindo a ampla atividade que já esta semana está em curso nas escolas e junto as centenas de atos dos estudantes. Temos que ir as escolas, conversar com os pais e alunos. Ocupar as escolas, as ruas, ganhar o apoio da população em defesa dessa luta. O maior perigo dessa greve que já se expressa no comando de greve, é que esta greve seja tocada como as outras de forma rotineira, que não prepara um duro combate contra o governo, pensando todas as medidas políticas, jurídicas e formas criativas de transformar essa luta num exemplo nacional na luta pela educação e contra os ajustes. Há também que se unificar com todos os demais setores atacados pelos draconianos cortes

Num momento de alta politização nacional, a greve dos professores e dos funcionários públicos do Rio de Janeiro, pode ser parte da construção de uma alternativa independente. Que mostre como é preciso ligar a luta contra os ajustes, com uma política feita por e para os trabalhadores, Que arranque não apenas suas demandas salariais, mas que envolva a luta para que todo político ganhe o mesmo que uma professora, e que haja revogabilidade dos políticos pelo povo, não por outros políticos corruptos, quando não cumprirem o que prometem.

 
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