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Eleições 2022
Letícia Parks e Diana Assunção comentam o lançamento das pré-candidaturas do MRT
Redação

Candidatas pelo MRT em eleições anteriores, o Esquerda Diário conversou com Diana Assunção e Letícia Parks para conhecer melhor a política do MRT para as eleições de 2022.

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Esquerda Diário: Diana, você foi candidata pelo MRT nas eleições de 2016 ao cargo de vereadora em São Paulo, e essa foi sua primeira participação nas eleições com candidatura. Como você percebe a diferença entre as eleições em 2016 e as seguintes em que também foi candidata?

Diana Assunção: 2016 foi o ano do golpe institucional. A votação do impeachment de Dilma Rousseff, do PT, ficou gravada na memória de todo mundo que vivenciou aquele ano de forma consciente. Foram uma sequência de declarações escandalosas que mostravam que o que estava em curso era um golpe não somente para tirar o PT do governo mas para aprofundar os ataques contra a classe trabalhadora, o movimento de mulheres, o movimento negro, as lutas por liberdade sexual e o futuro da juventude. Teve até voto em nome do agronegócio e contra as terras indígenas e quilombolas.

Esse golpe institucional teve esse conteúdo porque veio pra impor ataques e reformas mais profundas do que o próprio PT já vinha fazendo, e desembocou numa sequência de eleições estaduais e nacionais onde se fortaleceram os setores mais à direita no país, como as bancadas evangélicas contra os direitos reprodutivos das mulheres, as bancadas chamadas do Boi e da Bala, do agronegócio que queima as florestas e persegue as massas indígenas e dos parlamentares que apóiam as chacinas e a repressão mais violenta contra as massas negras e contra as lutas da classe trabalhadora.

Daquela primeira eleição que participei até a segunda, por exemplo, em 2018, houve um aumento do autoritarismo judiciário ao ponto de Lula ter sido preso arbitrariamente e por isso impedido de concorrer às eleições, o que fez com que a nossa participação nesse processo eleitoral tenha sido de denúncia do caráter autoritário e manipulado daquelas eleições, o que consideramos ter sido muito importante frente ao maior ataque aos direitos democráticos que a nossa geração viveu desde a ditadura militar. As eleições deste ano seguem esse curso autoritário.

É importante lembrar que entraremos num processo eleitoral marcado por um judiciário que segue querendo ter o direito de decidir quem pode ou não participar das eleições, e inclusive perseguindo setores da esquerda que criticam as instituições do país, como estão fazendo agora com o PCO, por isso acreditamos que mais uma vez a participação nas eleições deve ser de profunda denúncia do regime cada dia mais autoritário, herdeiro do golpe institucional e que impede que qualquer eleição desde então sejam eleições normais.

- Conheça as pré-candidaturas do MRT nas eleições de 2022

ED: Inclusive Bolsonaro tem mantido permanentemente, as vezes com mais as vezes com menos voracidade, um discurso golpista, ameaçando não aceitar um resultado eleitoral que não seja favorável a ele. Como você vê esse problema, Letícia?

Letícia Parks: Essas ameaças servem para mostrar como é preciso derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo para além das eleições. Mais de conjunto, para derrotar esse projeto de ataques aos movimentos sociais e à classe trabalhadora, cuja extrema direita é o representante mais radical, as eleições não resolvem o problema. Isso porque, por mais que possa haver uma derrota eleitoral do Bolsonaro em outubro desse ano, até chegarmos lá estamos vendo aumentarem os ataques racistas, as chacinas, e inclusive os ataques de setores da extrema direita aos nossos movimentos.

Mas principalmente porque depois das eleições a força social da extrema-direita vai seguir existindo e ao mesmo tempo a política de conciliação de classes vai se ver diante do aumento da crise econômica administrando toda obra de ataques do golpe institucional. E qualquer alternativa por fora disso é atacada, porque há uma classe de patrões, de latifundiários, sedentos por esmagar qualquer setor que proponha se organizar e lutar pra que não continuemos pagando com fome e desemprego por uma crise econômica que não fomos nós que criamos.

Aí é preciso articular, por um lado, as nossas ferramentas de luta a serviço de um combate a extrema direita desde já, e por outro lado, construir demandas que possam ser levantadas por amplos setores da juventude e da classe trabalhadora e que respondam os dramas mais sentidos pelas massas pobres e trabalhadoras no Brasil. Ou seja, fazer dos sindicatos e entidades estudantis vivos polos de combate a extrema direita levantando um programa de congelamento dos preços dos alimentos aos valores anteriores à pandemia, de reajuste mensal automático salarial de acordo com o aumento dos preços, de divisão das horas de trabalho entre empregados e desempregados sem redução de salário, de estatização sob controle dos trabalhadores de todas as fábricas de alimentos… isso tudo articulando a defesa das nossas vidas contra os ataques da extrema direita e dos patrões, que estão tão encorajados pela reforma trabalhista e pelos discursos de ódio de Bolsonaro e Mourão que estão chegando ao ponto de nos matar dentro do local de trabalho.

Mais uma vez mataram um trabalhador dentro de seu local de trabalho como fizeram meses atrás com o trabalhador migrante Moise Kabagambe. Dessa vez o trabalhador foi morto porque fez uma pausa pro café! Nossos sindicatos também poderiam estar cumprindo um grande papel organizando a classe trabalhadora para lutar pela aparição com vida de Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips, o indigenista e o jornalista desaparecidos na Amazônia Amazonas por denunciarem a violência brutal do garimpo contra os povos indígenas.

ED: Sim, muito poderia ser feito se as centrais sindicais estivessem organizando dias de luta e de paralisação em defesa dessas demandas, unificando trabalhadores indígenas, negros, brancos, migrantes, empregados e desempregados em torno dessas pautas. Existe uma forma de buscar expressar essa política nas eleições?

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    Diana: Sem dúvida. Não podemos separar a intervenção nas eleições da luta concreta. As eleições são um momento onde é possível debater ideias e propostas políticas com muito mais gente do que a gente consegue no dia a dia, por isso que entendemos que é um espaço que precisamos estar para fortalecer as lutas da classe trabalhadora, do povo pobre, da juventude, e de todos que querem enfrentar e derrotar a extrema direita.

    Nas eleições queremos poder debater essas demandas tão importantes para nossa classe, como a Letícia explicou, e queremos fazer isso através da voz de trabalhadoras e trabalhadores que estejam acompanhando essas lutas e esses combates. A gente tá vendo nesse momento o PT refazer o caminho que nos levou ao golpe institucional. Se em 2016 foi a própria base aliada de “centro” direita que impôs o golpe contra Dilma, com ajuda do vice dela, o Temer, não dá pra achar que vai ser com o Alckmin repressor do Pinheirinho que vai ser possível derrotar a extrema direita e impedir novos ataques, pelo contrário.

    A presença do Alckmin na chapa com Lula é um aceno pros patrões e pra burguesia internacional, pros credores da dívida pública. Um aceno para tranquilizar todos eles e mostrar que Lula está disposto, junto ao seu partido e às burocracias sindicais, a fazer de tudo para controlar as lutas da classe trabalhadora e atender aos interesses do capital.

    Se a gente encara as eleições como um momento para potencializar a nossa luta a gente consegue ver nessa chapa aí uma concepção de que para derrotar nossos inimigos é preciso se aliar a outros inimigos. A gente não acredita nisso, não achamos que é com a direita que se derrota a extrema direita. O balanço dos primeiros governos do PT até hoje mostra que todas as vezes que se fez aliança com a direita quem venceu e ganhou novos terrenos não fomos nós, mas a extrema direita.

    Letícia: As nossas candidaturas sempre estiveram a serviço de oferecer uma alternativa de independência de classe e à esquerda do PT, criticando essa política de conciliação que trouxe a gente até aqui e que rifou nossas lutas. Isso significa também criticar o caminho que toma o PSOL hoje, que é uma repetição do caminho do PT, com a sua direção chegando ao ponto de além de apoiar a candidatura Lula-Alckmin, fazer sua própria conciliação de classes assumindo um compromisso de Federação com a REDE, um partido burguês, da Marina Silva antiaborto, uma federação que vai ser certamente mais um obstáculo nas lutas pelo direito ao nosso corpo, contra os banqueiros que sugam nosso sangue, ja que a REDE é financiada pelo Itaú, um dos credores da dívida pública brasileira que come hoje já mais da metade do PIB.

    Por isso que esse ano nós apresentaremos nossas candidaturas por filiação democrática no PSTU a partir do Polo Socialista Revolucionário. Nós viemos atuando com nossas próprias posições e buscando medidas para criar um método comum de intervenção nas eleições definindo eixos para as campanhas eleitorais majoritárias e também permitindo o livre debate sobre as diferentes posições, como expressamos em carta ao Polo. Acreditamos que o Polo Socialista Revolucionário precisa se referenciar na experiência na Argentina da Frente de Izquierda y de los Trabajadores - Unidad (FIT-U), que já vem há anos sendo a expressão eleitoral que os trabalhadores encontram pra expressar suas lutas e seu combate contra os patrões e os ataques da crise capitalista, em chave antiimperialista e com independência de classe. Pra isso apresentamos aqui nomes de companheiras e companheiros que na sua trajetória expressam passos importantes da luta da nossa classe trabalhadora, estando vinculados a processos de greves operárias, de luta negra e da juventude.

    ED: Quem são as candidaturas e como o nosso público leitor pode ajudar a fortalecer as campanhas?

    Letícia: Aqui em São Paulo estamos indicando Marcello Pablito, que é trabalhador de manutenção da USP e que na sua trajetória participou de várias lutas em defesa dos trabalhadores, terceirizados e efetivos, entregadores, precarizados, e que vem de uma longa contribuição pra luta negra, com publicações de artigos e de livros sobre a relação entre luta negra e revolução. Com ele estivemos eu e Diana na candidatura coletiva chamada “Bancada Revolucionária” que gerou um forte movimento militante em 2020 e teve 5 mil votos aqui em São Paulo.

    A gente propôs ao Polo Socialista Revolucionário que o Pablito fizesse parte da chapa presidencial ao lado da Vera Lucia, como vice dela, e reunimos mais de 1500 assinaturas de apoio a essa proposta, de gente que reconhece no Pablito uma voz pra fortalecer uma perspectiva anticapitalista e com um programa pra enfrentar a extrema direita e os ataques. A Maíra Machado, de Santo André, é uma companheira professora da rede pública, que esteve atuando na APEOESP como diretora de oposição, enfrentando os ataques à educação e buscando superar os limites da burocracia sindical, ao lado de uma coluna de trabalhadores de várias categorias no ABC que se colocaram em luta contra demissões e fechamento de fábricas.

    No Rio de Janeiro apresentamos a Carolina Cacau, que hoje é professora da rede pública. A Cacau esteve durante vários anos atuando no movimento estudantil no Rio de Janeiro e reune uma trajetória ao lado dos movimentos de luta por justiça contra as chacinas e a violência policial no RJ. No Rio Grande do Sul nosso nome é Val Muller, uma jovem trabalhadora que já esteve no telemarketing e ali ajudou a potencializar denúncias da precarização do trabalho e que durante a pandemia trabalhou na saúde também como trabalhadora precarizada. A Val fez parte de jornadas de luta de trabalhadores do transporte coletivo de Porto Alegre, e a campanha dela é também pra ajudar a expressar essas lutas. Por último, em Minas Gerais, vamos com Flávia Valle, que é professora da rede pública e que acompanhou como parte da categoria a enorme greve de servidores da educação que teve em Minas Gerais esse ano. A Flávia fez discursos apaixonantes mostrando o papel decisivo das mulheres nas lutas pra enfrentar a carestia de vida e o congelamento dos salários.

    Eu e a Diana que viemos de participar das eleições queremos poder estar em todas essas regiões do país ajudando a fortalecer essas candidaturas, e já confirmamos nossa participação em todos os lançamentos que vão acontecer nas próximas semanas.

    Diana: Nas próximas semanas vamos divulgar as atividades de lançamento nos estados e cidades e também as formas de contribuir nessa campanha como por exemplo financeiramente já que as nossas campanhas são auto financiadas, porque a gente não aceita dinheiro de empresas nem de patrões. Se você está em algum desses estados onde lançaremos pré-candidatos, é possível escrever para o Esquerda Diário ou nas redes sociais dos pré-candidatos e se colocar a disposição também para ajudar nas panfletagens, na coleta de verba, organizando encontros e rodas de conversa com os pré-candidatos e com a nossa militância, que está toda representada nesses nomes e que também carrega essa trajetória política na sua própria experiência, e temos muito orgulho disso.

    Por isso convidamos desde já todos vocês que estão lendo e se identificam com essas ideias, que estão desiludidos também com os caminhos que por exemplo o PSOL vem tomando, a nos acompanhar agora nessa batalha que não é só em outubro, é desde já para que possamos ser muitos que lutem para que sejam os capitalistas que paguem pela crise, uma luta que só pode se dar com independência de classe, contra a extrema direita e sem confundir nenhuma de nossas bandeiras com as dos liberais, dos patrões, dos políticos da burguesia. Convidamos a que venham fazer parte dessa batalha com a gente.

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