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Chile
Os malabarismo de Boric para "fazer reformas", mas apoiar a repressão policial
Carla Rosales Medina

Se passaram menos de três meses desde que o Governo de Gabriel Boric e a lista Apruebo Dignidad ("Aprovo a Dignidade", uma coalizão entre a Frente Ampla e o Partido Comunista) assumiu o comando do país e muitas promessas já ficaram pelo caminho. Durante a campanha, Boric e a atual ministra do interior, Izkia Siches, falaram da reforma da polícia ("Carabineiros", como chamam no Chile), instituição que por anos violou os direitos humanos, reprimindo o povo Mapuche e que durante a revolta de 2019 chegou a mais de 8.500 denúncias por violações dos direitos humanos.

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Na semana posterior que assumiu o comando, a polícia reprimiu uma manifestação na Praça Dignidad, que reivindicava liberdade das e dos presos políticos da revolta. A esta marcha que se realizava todas as sextas, haviam se somado estudantes secundaristas que lutavam pela demanda da educação sexual integral e contra o assédio em suas escolas. A jornada terminou com um manifestante com graves lesões, pois a polícia o deteve e bateu com sua cabeça contra a calçada.

Na semana seguinte, na primeira marcha estudantil pelo aumento do auxílio alimentação para a educação superior (BAES, na sigla original), um estudante foi baleado por um policial e outro ficou em estado grave depois de ser atacado por brancos armados no bairro Meiggs.

A resposta do governo foi anunciada no Dia do Jovem Combatente, que recorda o assassinato dos militantes de esquerda pelas mãos de policiais em 1985. Siches disse publicamente: "policiais contam com todo nosso respaldo, de todo nosso ministério, para seguir com seu trabalho e proteger aos chilenos e chilenas; sempre com respeito aos Direitos Humanos".

Este respaldo não fica apenas nas palavras. O governo continua mantendo o cargo do General Diretos de Carabineiros (policiais), Ricardo Yáñez, principal responsável pela repressão desde que assumiu em novembro de 2020.

Mesmo general que novamente volta a ser questionado pelo assassinto de Francisca Sandolva, repórter do Canal 3 La Victoria, que foi atingida por bandos armados de Meiggs, que contou com a completa cumplicidade da polícia. Imagens mostraram que efetivos da política mantiveram conversas com os autores dos disparos, enquanto reprimiram brutalmente a mobilização do Dia Internacional das e dos Trabalhadores.

Francisca faleceu doze dias depois no Posto Central, produto do impacto da bala.Durante a tarde, tanto o velório quanto às manifestações convocadas em justiça e memória foram reprimidas, novamente, pela polícia.

A velha receita da velha política

Durante o mês de abril o Governo usou a velha receita repressiva da ex-Concertación, a coalizão de partidos de centro-esquerda que governou intermitentemente o Chile desde o fim da ditadura. A ministra do interior anunciou uma milionária operação para reprimir Wallmapu. Aumentou de 4 para 19 blindados, enviaram 34 caminhões blindados e destinou 1 bilhão de pesos para a compra de drones. Este anúncio inclui a criação de um novo sistema de inteligência do Estado.

Porém, os ataques ao Povo Mapuche não terminam por aí. Na semana passada, o governo anunciou o Estado de Exceção em Wallmapu. O secretário geral da presidência, Giorgio Jackson, definiu assim: "Diferente dos Estados de Exceção, queremos enviar ajuda das Forças Armadas para proteger a infraestrutura crítica e grave e para o livre trânsito, abastecimento da população ou circulação de veículos de emergência, sem afetar nenhum dos direitos fundamentais que a Constituição assegura". O Governo de Boric absorveu rapidamente os costumes do velho regime.

A resposta do novo governo implica em continuar a criminalização e repressão ao Povo Mapuche que luta há anos para recuperar o território que pertence a eles. O aumento do efetivo policial e militar na região sul de Araucanía, firmada com a declaração do estado de exceção, é uma clara linha para acabar com qualquer possibilidade de que demandas como autodeterminação e o reconhecimento de nações originárias, venham pelas mãos da institucionalidade chilena. O governo coloca a polícia nesses territórios para que continue protegendo os negócios de madeireiras e latifundiários que usurpam o território Mapuche, como as famílias Matte e Angelini que detém 2 milhões de hectares e contam com toda proteção do Estado.

Está mais que demonstrado que estes fatos não são isolados. A repressão do estado golpeia tanto aos trabalhadores subcontratados de ENAP que reivindicam melhores condições de trabalho, como a juventude e os povos originários que lutam por sua autodeterminação.

Esta é parte da herança dos 30 anos contra a qual se lançou o povo chileno em 2019 e que o governo de Gabriel Boric, longe de reformar, preserva.

 
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