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Editorial MRT
Como enfrentar a extrema-direita bolsonarista sem sucumbir à conciliação de classes?
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

Inflação, fome, precarização do trabalho e mais privatizações. Enquanto isso, Bolsonaro faz novas ameaças golpistas que incentivam ataques da extrema direita pelo país. Como enfrentar essa situação sem abraçar o projeto de conciliação de classes com Lula-Alckmin que desarma nossa luta contra o bolsonarismo?

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O governo Bolsonaro já atestou seu ódio de classe ao conjunto dos trabalhadores e da população pobre. Nossa classe não suporta mais seu governo de ajustes e ataques também a mulheres, negros, indígenas e LGBTQIAP+. As formas selvagens de precarização avançaram sem precedentes com a reforma trabalhista, o desemprego aumentou e a insegurança alimentar atingiu índices recordes. Com uma inflação que corrói os salários a insatisfação popular é enorme, depois de dois anos de pandemia com mais de 600 mil mortos no país por responsabilidade deste governo e dos governadores dos estados, mesmo daqueles que não são negacionistas como a extrema-direita. Ao mesmo tempo vivemos em um regime político que aprofunda seu caráter autoritário desde o golpe institucional de 2016: o número de militares em cargos civis passou de 3 mil em 2017 para mais de 8 mil agora e hoje o STF, que avalizou todas as reformas anti-operárias, aumenta seu autoritarismo retomando os métodos que usaram contra o PT. Junto com Bolsonaro, esse peso dos militares e do judiciário no regime são os traços mais reacionários que compõem a situação política do país.

Hoje, o bolsonarismo reacionário, que se expressa também em todos os ataques isolados que ocorrem pelo país, e a crescente presença dos militares na política são sustentados por todas as instituições do regime como o judiciário (que por exemplo os convoca pra fiscalizar a eleição) e o Congresso Nacional, para seguir condicionando os rumos do país mesmo que sejam derrotados eleitoralmente. Como vemos nos Estados Unidos, a eleição de um candidato representante de setores da burguesia como Joe Biden não impediu que o trumpismo seguisse desenvolvendo sua força social, podendo se recuperar agora nas próximas eleições de meio-mandato. Se queremos derrotar a extrema-direita e colocá-la na lata de lixo da história é preciso batalhar por uma política que vá para além das eleições. Isso significa não aceitar o caminho de assumir para si a defesa de uma candidatura que, para além da conciliação de classes típica do PT, carregará um dos maiores repressores da direita que articulou o golpe institucional de 2016, Geraldo Alckmin, que com seu partido comandou a brutal desocupação de Pinheirinho e reprimiu fortemente as jornadas de junho de 2013 quando a juventude se levantou por mais direitos.

Isso aponta a necessidade de um sentido mais profundo de enfrentamento com a extrema-direita. Se como revolucionários nosso objetivo não termina aí, uma vez que queremos transformar a sociedade pela raiz, também somos nós os mais consequentes no combate real para derrotar de fato a extrema-direita. Os métodos bolsonaristas de perseguição política, ataques com armas, repressão a transexuais, intimidação do movimento estudantil e movimento operário são a expressão do discurso político de Bolsonaro alentando um golpe, o que avaliamos que não tem hoje correlação de forças para se concretizar uma vez que não haveria nem o apoio dos Estados Unidos nem de amplos setores da burguesia. Isso não significa que sua retórica não alimente o que há de mais reacionário no país. Por isso, cada um destes ataques deve ser enfrentado da única forma que é possível enfrentar de fato a extrema-direita: com organização e luta.

Isso é o oposto do que o PT propõe. Se apoiando na enorme insatisfação com o governo, mas especialmente na ilusão de amplos setores das massas de que pela via eleitoral se irá recompor as instituições democráticas e melhorar as condições de vida, o PT propõe que a única tarefa de cada jovem e trabalhador seja votar em outubro. E votar não somente no PT, mas também em Geraldo Alckmin, garantindo ao mercado financeiros e aos empresários que a revogação das reformas não irá acontecer, além de ter fechado aliança com figuras como Kalil do PSD do centrão em Minas Gerais. É por isso que o PT é capaz de mobilizar dezenas de milhares para uma atividade de campanha eleitoral na Unicamp, mas nem seus sindicatos e a maioria de seus parlamentares em Campinas e região estiveram presentes em ato para repudiar o ataque fascista na região universitária. Ao contrário, o PT não se mobiliza na linha de frente contra este tipo de ataque porque suas entidades estão a serviço de manter os trabalhadores e a juventude como uma massa passiva que não questiona o programa apresentado por Lula e pelo PT e nem a presença de Geraldo Alckmin na chapa. Por isso é preciso dizer que o estatismo capitalista com o qual Lula-Alckmin propõem “justiça social” conciliando com grandes empresários, banqueiros, latifundiários, juízes e militares golpistas é uma ilusão. Se nem quando Lula foi o governo mais popular da história do país, o PT foi capaz de cumprir essas promessas, por que acreditar que agora com a força social da extrema direita e do golpismo, e com a crise capitalista internacional ele será capaz? A maioria da direção do PSOL mergulha o partido neste projeto, um caminho sem volta, agora em partido único com a Rede, partido burguês de Marina Silva, financiada pelo Itaú e inimiga declarada do direito ao aborto.

Precisamos confiar apenas em nossas próprias forças, inclusive na autodefesa diante dos ataques bolsonaristas exigindo que a CUT e a UNE organizem essas mobilizações. Nesse ano já se levantaram garis do RJ, professores e metroviários em MG, setores do funcionalismo federal, entregadores e categorias do movimento operário industrial. Que potência teria para enfrentar Bolsonaro e os capitalistas se essas lutas tivessem sido unificadas pelas centrais? Por isso também que diante de tanto autoritarismo judiciário e militar e para enfrentar o Brasil da fome, da exploração selvagem com a precarização do trabalho e da expoliação dos povos indígenas e do povo negro é preciso transformar o odio ao bolsonarismo em organizacão ativa. Com essa política estamos atuando no Polo Socialista Revolucionário defendendo que esteja ativamente nas lutas em curso como da CSN neste momento, mas outros processos embrionários de resistência que começam a ocorrer pelo país. Defendemos também que esta política de independência de classes tenha uma expressão eleitoral expressando eixos comuns de distintas organizações que hoje constroem o Polo e precisam avançar em um método de unidade que permita a expressão das distintas posições políticas.

Por isso consideramos urgente unir desde as bases a classe trabalhadora, a juventude, os negros, os povos indígenas, o movimento de mulheres, a juventude. O que hoje pode parecer um caminho difícil e minoritário é o único que pode responder e derrotar efetivamente a extrema-direita, porque não serão votações no Congresso Nacional nem a eleição de parlamentares em si mesmo o que irá derrotar a extrema-direita e sim o enfrentamento de classe com a classe trabalhadora em seus bastiões organizada junto aos movimentos sociais. Somente essa força social será capaz de derrotar o bolsonarismo e por isso é decisivo que em meio a todas as pressões por uma frente ampla no país que reduza o enfrentamento à extrema-direita através da via eleitoral exista um polo que batalhe por esta política de independência de classe.

Precisamos então construir a força para que a mobilização independente seja capaz de reverter todos os ataques que passaram desde o golpe de 2016 e se aprofundaram com o governo Bolsonaro, exigindo para isso que as burocracias sindicais saiam da paralisia. Isso só será possível com a auto-organização das massas para enfrentar o bolsonarismo, o autoritarismo da casta de juízes, militares e do centrão que hoje dominam o país, e impor com luta a posição das maiorias populares, discutindo os problemas estruturais do país pela via de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana imposta pela luta, que é o que querem conter impedindo que seja a população que decida os rumos do país e nos relegando um papel de observadores da política que termina sendo feita por políticos profissionais.

Para que os capitalistas paguem pela crise, precisamos organizar a força necessária para expropriar as multinacionais alimentícias e as grandes empresas do agronegócio para colocá-las sob controle dos trabalhadores como forma de enfrentar a fome, uma reforma urbana radical para que as pessoas não morram congeladas nas ruas, revogar integralmente as reformas neoliberais e todas as privatizações como o enorme ataque em curso com a privatização da Eletrobrás, reduzir a jornada de trabalho sem redução salarial dividindo as horas de trabalho entre empregados e desempregados para que todos tenham trabalho com direitos, enfrentar a violência policial contra os negros e garantir a demarcação de todas as terras indígenas como parte de uma reforma agrária radical. Enfrentando também os militares lutando pela abolição de todos os privilégios materiais dos militares de alta patente (pensões vitalícias, altos salários, etc.): fim dos tribunais militares superiores e julgamento por júri popular, ligado à abolição da Lei da Anistia, abertura dos arquivos da ditadura e o julgamento e punição contra todos os responsáveis civis e militares pelos crimes de Estado durante o regime militar.

No marco dessa experiência democrática das maiorias populares tomando os rumos da política em suas próprias mãos, sabendo que os grandes empresários e seus agentes políticos e militares vão se opor com todas as forças que tiverem a esses objetivos, construiremos as organizações de base capazes de realizar uma democracia dos próprios trabalhadores, assumindo a administração direta de toda a economia para planificar seu funcionamento a serviço das necessidades das grandes maiorias. Um governo dos trabalhadores que inicie a transição ao socialismo, uma sociedade sem exploração nem opressão. Uma sociedade socialista, pela base, em que o desenvolvimento tecnológico não esteja a serviço da exploração da maioria por um punhado de parasitas, mas sim a serviço da satisfação de todas as necessidades produtivas da humanidade, permitindo que todos trabalhem o mínimo possível e tenham tempo livre tanto para o descanso e o lazer como para dedicar-se a essa construção coletiva de baixo para cima, também para harmonizar as relações entre ser humano e natureza.

 
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