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13 de Maio
Reviver a tradição de luta dos quilombos, contra a extrema direita e o regime, sem conciliação!
Renato Shakur
Estudante de ciências sociais da UFPE e doutorando em história da UFF

Neste 13 de maio onde temos no Brasil um bolsonarismo se recompondo, além de duas instituições golpistas e bonapartistas como o STF e os militares com peso no cenário nacional, devemos nos inspirar na luta irreconciliável dos quilombos e revoltas negras para enfrentar esses setores, seus ataques e a situação de miséria, fome e desemprego que a classe trabalhadora, em especial negra, está sofrendo.

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Imagem: GABRIEL BASTOS / FUTURA PRESS

O 13 de maio é o dia de lembrar o fim do regime escravista, ainda que a burguesia brasileira diga que não foi uma conquista e sim uma concessão dada pela princesa Isabel. Pura mentira, onde houve escravidão, houveram fugas, revoltas, assassinatos de senhores de engenho, greves, etc. Da metade do século XIX até a abolição o número de quilombos aumentou consideravelmente, surgiram quilombos abolicionistas que tinham o objetivo de pôr fim ao cativeiro, trabalhadores livres e escravizados, negros e brancos se mobilizaram nas cidades e no campo para organizar fugas individuais e coletivas, associações de trabalhadores juntavam dinheiro para comprar alforrias. Essa é a verdadeira história que os capitalistas não contam.

A abolição foi arrancada pela luta, se a elite escravista não cedesse, certamente poderia abrir um processo ainda maior que questionasse não só a propriedade escrava, mas também o latifúndio e a propriedade capitalista. Os anos que seguiram após abolição, a luta continuou, muitas fazendas foram tomadas e houveram enfrentamentos contra a nova ordem que surgia. Digo isso, não apenas porque é incrível a história da luta negra mundial, mas também porque é parte da tradição do movimento operário brasileiro. A primeira república foi inundada de greves e revoltas que colocaram na ordem do dia a reivindicação de salários, condições dignas de trabalho, jornada de trabalho, castigos físicos, o preconceito racial, etc.

Hoje mais do que nunca essas histórias devem nos inspirar para lutar contra o bolsonarismo e os militares. Os carnavais vem expressando no últimos anos a força da luta negra com homenagem à Marielle, trazendo carros alegóricos e enredos que se colocavam contra as reformas, o racismo, a escravidão e reivindicavam a fúria negra que surgiu nos Estado Unidos com o black lives matter homenageando George Floyd. Ao mesmo tempo, vimos surgir também uma forte mobilização em diversos cantos do país contra o brutal assassinato do trabalhador congolês Moise Kabangage. Foram milhares às ruas gritar por Justiça a Moise, uma expressão cruel do racismo, xenofobia e dos efeitos da reforma trabalhista no Brasil

Ontem (12), às vésperas do 13 de Maio, Bolsonaro voltou a repetir a frase racista que havia sido denunciado e condenado pela PGR de que os negros são pesados em arroba. Mostrando mais uma vez que é um racista e que representa uma burguesia herdeira direta da Casa Grande. Nesse mesmo dia, no Rio de Janeiro, a polícia civil derrubou o memorial dos 27 assassinados na chacina do Jacarezinho. Um absurdo e uma afronta a todas mães e parentes que perderam seus filhos nessa operação covarde ordenada pelo bolsonarista Claudio Castro. Isso são mostras da recomposição do bolsonarismo eleitoralmente.

Desde que o misógino e racista Bolsonaro foi eleito, vimos uma mudança bastante profunda nas relações raciais no Brasil, a violência policial aumentou em vários estados, o assassinato de jovens negros pela polícia também, as denúncias de injúria racial aumentaram, junto aos ataques a terreiros de candomblé e umbanda. Ele promoveu um choque à direita nas relações raciais, abrindo um processo de maior ataque e enfrentamento contra a identidade negra e a cultura negra, ao mesmo tempo que atacava os direitos dos trabalhadores.

Leia: Bolsonaro é condenado por discurso racista, veja o que ele já disse contra os negros

Leia também: Um choque à direita nas relações raciais no Brasil

Isso tudo com a ajuda dos militares. O reacionário General Mourão minimizou o assassinato do músico Evaldo Rosa com 80 tiros. No dia do brutal assassinato de Nego Beto no Carrefour, Mourão também menosprezou esse ocorrido, dizendo “não existe racismo no Brasil”.

Braga Neto tem balanço positivo da intervenção federal durante o governo Temer, que bateu recordes de morte com 1.444 assassinatos pela polícia. Vale também lembrar que desde 2021 o advogado de Flávio Bolsonaro está defendendo os militares que mataram Evaldo. Mas o reacionarismo e racismo da extrema direita esbarraram na fúria negra do black lives matter nos EUA que colocou o debate do racismo e da violência policial na ordem do dia em todo o mundo e também aqui no Brasil, como não poderia ser diferente no principal país negro do mundo fora da África.

Por outro lado, os ataques seguiram. O STF segue apoiando todos os ataques contra os trabalhadores, a juventude negra segue sendo encarcerada e a violência policial vem aumentando nas favelas e periferias. O Congresso segue abrigando figuras machistas e racistas da bancada da bíblia, da bala e das oligarquias, historicamente inimigos dos negros, indígenas e das mulheres. Isso também é culpa dos governadores que apesar de querer se diferenciar de Bolsonaro na condução da pandemia, aprofundou a violência e os assassinatos de negros em vários estados no Brasil, como desenvolvemos aqui.

Para enfrentar esses setores tanto da direita quanto da extrema direita temos que nos inspirar na luta pela abolição, uma luta que foi sem conciliação com nenhum dos inimigos, que confiou na própria mobilização e na força dos quilombos. Uma tradição que foi muito bem representada pela luta do Quilombo dos Palmares e de Zumbi quem a extrema direita e direita sempre tentaram apagar, como é o exemplo de Fernando Holiday e Sérgio Camargo. Mas o fato é que Zumbi dos Palmares e o quilombo que liderou não conciliou nenhum momento sequer com a Coroa portuguesa. Ao contrário, quando Ganga Zumba tentou selar um acordo pelas costas e contra a vontade do Quilombo dos Palmares, emergiu um setor combativo e consciente de que o caminho da conciliação seria o caminho da derrota. Dessa forma, levantaram uma luta até a morte contra o sistema escravista, lutaram pela liberdade de forma determinada até que não restasse nenhum palmarino vivo, mas sem conciliar nenhum segundo com seus inimigos.

Essa lição deixada por Zumbi e tantos palmarinos e palmarinas tem que servir para rechaçar a conciliação de classes hoje que se expressa na chapa Lula-Alckmin. É um absurdo frente a o aumento da fome, da inflação, do desemprego e dos ataques que o PT se alie com um racista e representante do neoliberalismo no Brasil. O Alckmin carrega nas costas um legado de ataques e assassinatos contra a população negra, foi durante seu governo que aconteceu a maior chacina da história desse país, sua polícia chegou a bater recordes de homicídios e Alckmin ocultava os dados dos assassinatos de sua polícia para não mostrar as barbaridades que ela cometia contra a população negra.

Leia: O racista Alckmin: qual é o legado do vice de Lula para com a população negra?

Mas também não foi nosgovernos do PT que houve algum cobate sério ao racismo e a violência contra os negros. Nos governos do PT, o exército ocupou o Haiti e o Congo, houve uma intervenção federal no complexo da Maré, além de terem apoiado as UPPs. Também rechaçamos o caminho à direita que o PSOL vem tomando, entrando de cabeça na campanha por essa chapa e pela federação com o partido burguês Rede que é ligado ao banco Itaú da família Setubal, herdeira da família do Barão de Souza Queiroz, proprietários de terras e escravizados e da família do Capitão Antônio Leite de Oliveira Setúbal, político e escravista de Tatuí, interior de São Paulo.

A política que propõe a chapa Lula-Alckmin é de estabilizar o regime do golpe institucional, repleto de ataques aos trabalhadores. Por isso não vão revogar a reforma trabalhista e todos os ataques desde o governo Temer até Bolsonaro. É necessário que se revogue todas as reformas e ataques que vêm sendo feitos contra os trabalhadores desde o golpe de 2016.

A conciliação de classes não é a resposta aos problemas profundos que vivem os trabalhadores e a população negra. Para combater a fome é necessário que tenha um auxílio emergencial igual a um salário mínimo e que as horas de trabalho sejam repartidas entre os desempregados e empregados, reduzindo a jornada de trabalho para 6 horas sem redução do salário. Além disso, também é necessário que congelem os preços dos alimentos e combustíveis de acordo com o preço anterior a pandemia. E que se ajuste o salário mensalmente de acordo com a inflação.

É nesse sentido que chamamos todos os setores que não confiam no caminho da conciliação a construir junto com agente do MRT um caminho de independência de classe no Pólo Socialista Revolucionário junto a outras organizações e ativistas. É também com esse objetivo que propomos o nome de Marcello Pablito, trabalhador da USP, militante do movimento operário e do movimento negro, para ser candidato a vice-presidente na chapa com a pré-candidata Vera Lucia do PSTU, colaborando sua experiência de luta ao lado dos negros e negras e também nas greves de trabalhadores que esteve presente.

Neste 13 de Maio rememoramos a luta sem conciliação dos Quilombos no Brasil e que seja marcado pela luta contra a extrema direita, pela luta por justiça a Moise e a luta contra a conciliação de classes!

Leia: Em festa verde e amarela, Lula e Alckmin prometem conciliação com golpistas e poupam militares

Leia também: Propostas do MRT e debates no Pólo Socialista Revolucionário

 
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