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Lançamento oficial
Em festa verde e amarela, Lula e Alckmin prometem conciliação com golpistas e poupam militares
Guilherme Costa

Lula e Alckmin oficializaram a pré-candidatura neste sábado, dia 7, em evento com cerca de 4 mil pessoas em São Paulo.

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Ambos discursaram em aceno aos empresários, com tom de reconciliação com golpistas, pouparam os militares e fizeram muitas promessas de um passado que já não retorna mais.

A fala de ambos deixou claro uma importante divisão de tarefas que antecipa aspectos de um eventual governo Lula-Alckmin. Enquanto o ex-tucano falou diretamente aos empresários, com discurso notadamente liberal, Lula falou em defesa da soberania, do desenvolvimentismo e prometeu “crescimento com inclusão”. A bandeira verde e amarela enorme atrás do palco, o hino nacional antes das falas, a constante e insossa piada do prato de lula com chuchu, a palavra “soberania” a cada duas frases – esse clima nacionalista embalou o tom de reconciliação com os golpistas responsáveis pela desgraça que hoje acomete os trabalhadores e povo pobre do Brasil.

Boa parte do discurso de Alckmin serviu para tentar limpar ares de Temer ao seu redor. Disse que será “parceiro leal” de Lula, afirmou que o Brasil precisa mais da “união de hoje” do que “das disputas do passado” e enfatizou Lula como “a única via da esperança”. O ex-“fascista do tucanistão”, como o petismo costumava chamá-lo nos longínquos idos de 2018, virou tempero saboroso na culinária da nova conciliação: lula com chuchu foi o prato mais elogiado por ambos durante todo o evento…

Nas entrelinhas da fidelidade, Alckmin lançava ao que veio de fato: os acenos ao capital financeiro e a amostra, ao regime político, de que essa será uma chapa que não se enfrentará com os interesses das classes dominantes desse país. “Prometemos estimular o empreendedorismo, os investimentos, a produção e uma relação reciprocamente mais justa e vantajosa entre trabalhadores e empresários. Vamos mostrar que isso é possível ser feito.”, disse o neoliberal ex-governador de São Paulo.

Alckmin também lançou frases que parecem ter saído de manuais de liderança da XP Investimento ou qualquer outra farialimer da vida, como “não há incompatibilidade entre prosperidade individual e uma sociedade solidária”, ou “eficiência econômica e justiça social não são coisas opostas”, entre outras. A mira era a Faria Lima, a Gávea Invest e, por que não, a bolsa de valores de Nova York.

Lula, por outro lado, fez um discurso mais longo e feito na medida. No entanto, chamou atenção pelo que não falou, como os militares, os milicianos, o STF, o Congresso ou mesmo as reformas neoliberais que Temer e Bolsonaro aplicaram nos últimos anos. Nenhuma linha sobre o teto de gastos, sobre a reforma da previdência, a lei da terceirização irrestrita… nadica de nada. Nada sobre a violência policial. Nada sobre a concentração obscena de terras nas mãos do agronegócio. Nada sobre a violência no campo. Nada de nada. Na cadência do zigue-zague entre revoga-não-revoga-revoga-não-revoga, ao menos nesse discurso Lula “revogou” a reforma-trabalhista, pois nem a sombra dela apareceu em nenhum momento. O intuito? Não gerar desconforto nos grandes capitalistas do Brasil. O objetivo de Lula e Alckmin é administrar o regime do golpe, não combatê-lo.

Há tempos Lula não opina sobre um dos principais conflitos políticos em curso no país nos últimos tempos, entre STF, militares e Congresso. O objetivo é governar com eles, mesmo eles tendo sido agentes fundamentais e basilares de todas as desgraças que acometem o povo brasileiro nos últimos tempos. Daí o tom de conciliação.

Do início ao fim de seu discurso, Lula falou em soberania nacional. Foi o fio condutor discursivo. Saúde, educação, emprego, combate à fome, segurança, defesa de algumas estatais, cultura, etc. – tudo isso esteve vinculado à necessidade de soberania, que a todo momento Lula antagonizava com Bolsonaro (sem citá-lo, como propagou Anitta em seus conselhos de marketing).O forte tom nacional-desenvolvimentista, de união de “todas as raças, religiões e classes” em defesa da soberania e da democracia e com algumas estatais estratégicas, serve para dirimir as diferenças entre as classes na sociedade brasileira em função de uma grande ‘unidade nacional’ contra Bolsonaro. Essa escolha está vinculada ao silêncio em relação aos militares, STF e Congresso, pois Lula se preparar para incluir todos esses setores reacionários e profundamente antidemocráticos dentro do pacote da soberania e democracia. Trata-se de utopia reacionária. Mas ainda mais absurda se torna a situação na medida em que correntes que reivindicam o trotskismo, como o MES e Resistência, aderem ao projeto. Um desprezo pela independência de classes sem tamanho.

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Por fim, também do início ao fim do discurso esteve forte a lembrança dos feitos de seus governos – redução drástica da fome, amplianção do investimento em educação, aumento real do salário mínimo, etc. O que Lula deixa de lado é o fato da situação internacional não ser a mesma, o que torna o “Brasil, de volta ao futuro” mais uma utopia que serve para engambelar os eleitores. Não há boom das commodities, crescimento chinês amparando as exportações brasileiras, ciclo de crescimento de toda a América Latina.

Pelo contrário, o que há é uma crise econômica de proporções catastróficas, aprofundada pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, onde um eventual governo Lula vai se deparar com limites econômicos importantes – e um regime político ainda mais à direita, com um bolsonarismo enquanto corrente nacional, militares ainda mais presentes na política, um bonapartismo judiciário ainda mais autoritário e pouca margem de manobra para concessões. Para garantir emprego para todos, seria necessário atacar os lucros dos empresários e reduzir a jornada de trabalho dos trabalhadores sem redução salarial a fim de aumentar as contratações. Mas Lula não está nem um pouco disposto a atacar os lucros capitalistas.

Para resolver o problema da carestia, seria necessário reajustar o salário dos trabalhadores de acordo com a inflação. E Lula faz demagogia com a Petrobrás, dizendo defendê-la, mas em seus governos sempre permitiu a iniciativa privada lucrar com a gigante nacional. Por isso seria necessário uma Petrobrás 100% estatal, que fosse gerida pelos próprios trabalhadores. Ou seja, diante da crise, é necessário um programa operário para avançar, não um de conciliação cheio de promessas impossíveis.

É nesse contexto que nós do MRT e do Esquerda Diário reafirmamos a necessidade de se combater a extrema-direita, a direita e o regime golpista na luta de classes. Ao mesmo tempo, também reafirmamos a necessidade de se apresentar uma alternativa com independência de classe para essas eleições, batalha que damos no Polo Socialista e Revolucionário.

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