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UNICAMP
Mais policiamento em Barão Geraldo: nenhuma garantia de segurança, mais repressão à juventude
Victoria Gordon

Frente à onda de assaltos nos arredores da Unicamp, distrito de Barão Geraldo, a resposta encontrada pela prefeitura de Dário Saadi (Republicanos) foi aumentar o policiamento nas ruas, o que implica em ações truculentas e repressoras por parte da Guarda Municipal aos estudantes, principalmente negres, e espaços de vivência. Nossa segurança não pode estar nas mãos da polícia, instituição que mata a juventude negra diariamente no Brasil.

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IMAGEM: FACEBOOK JORNAL DE BARÃO

Às vésperas do retorno presencial das aulas na Unicamp, estudantes começam a se restabelecer nos arredores do campus. Com a crise econômica agravada pela condução de Bolsonaro-Mourão da pandemia, que além das mais de 600 mil mortes levou milhares ao desemprego e o Brasil de volta ao mapa da fome, uma onda de roubos, furtos e violência passou a acontecer, acometendo principalmente estudantes e suas residências. O aumento da violência social em Barão Geraldo é mais um reflexo do aprofundamento da crise. Paralelamente ao reacionarismo político que vivemos, a resposta dada pela prefeitura de Campinas, em consonância com a reitoria da Unicamp, foi uma operação policial que aumentou a frota da polícia em Barão Geraldo, Campinas.

Como se a polícia pudesse trazer alguma segurança à população, e não um maior nível de controle e repressão de estudantes que, após dois anos trancados em suas casas, por vezes submetidos ao controle de suas famílias, vivenciam agora a possibilidade de desfrutar de sua juventude, liberdade e sexualidade, âmbitos fundamentais da vida que a universidade proporciona da formação da juventude. Na última semana, foi possível ver um aumento brutal da ostensividade da polícia (tanto militar quanto civil) que tomou as ruas do distrito impondo insegurança e restrições à essa juventude.

Na noite da última quinta-feira (17), enquanto acontecia a tradicional Calourada (recepção des estudantes ingressantes), um posto de gasolina, onde usualmente estudantes se reúnem para socializar, sofreu um ataque da polícia, que fez uso de nada menos que bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar a “balbúrdia”, como se refere a direita reacionária. Na sexta, também agiu ostensivamente no Bar do Ademir, em frente à Moradia Estudantil, significando seu fechamento em meio a uma apresentação de samba.

Assim, é preciso ver que o aumento das frotas policiais, longe de significar a segurança dos estudantes em Barão Geraldo, está significando ainda mais repressão e medo. A instituição policial, como sempre foi, desde sua criação, o braço armado do Estado, atua somente sob pretexto de organizar a sociedade, em prol do Estado capitalista e garantir os interesses da classe dominante.

O mesmo aconteceu inúmeras vezes durante a pandemia, sob justificativa de evitar aglomerações e o aumento do contágio do coronavírus, festas de rua, bailes funk e todos os espaços de socialização da juventude pobre e negra era ofensivamente reprimido pela juventude. Os momentos com pressões mais reacionárias abrem espaço para o autoritarismo e a truculência das instituições de segurança, legitimadas pelo Estado e por vezes pela própria população. A ação da polícia é, em primeira ordem, uma ação de classe, que se usa do racismo estrutural para justificar a perseguição à juventude, principalmente negra e pobre. Enquanto isso, a burguesia e seus filhos pagam valores altíssimos para frequentar casas de show e festas com altos ingressos sem serem incomodados pelas ações policiais. Vimos isso também com a "privatização" do Carnaval.

A burocracia universitária aproveita desses momentos para abrir brechas para a polícia ocupar o campus, como acontece até hoje na USP, que conta com um batalhão da PM. Ja vimos uma tentativa disso na Unicamp, em 2013, no entanto o movimento estudantil se organizou para barrar este absurdo e, através da ocupação da reiroria, conseguiu impedir que a polícia pudesse entrar na universidade. Não podemos permitir que avancem com esse projeto reacionário de controle e opressão dos estudantes.

Qual deve ser a posição do movimento estudantil e da esquerda

Com a volta às aulas e o início da vida universitária, são três levas de ingressantes (2020, 2021 e 2022) que foram impedidos de se experienciar nessa fase tão importante da vida; estudantes que enfrentam as dificuldades dos ataques do governo Bolsonaro, Mourão e Damares, das mortes pela Covid-19, dos trabalhos precários, vendo seus futuros sendo esvaziados e negociados, e agora, no momento em que finalmente tem a oportunidade de viver, são repreendidos pela polícia em seus momentos de lazer.

Frente a isso, com a justificativa do aumento dos casos de roubos e furtos, as ruas são invadidas pela polícia, que oferece tudo, menos a segurança que a população quer.

Como resposta ao aumento da violência, fruto da crise econômica e social, não podemos depositar nossa confiança nos setores da direita que aproveitam cada oportunidade para aprofundar seu autoritarismo. Como parte das batalhas do movimento estudantil, é necessário retomar as festas, movimentos de arte e cultura como espaços de vivência, para que os estudantes possam usufruir do espaço da universidade. As festas no campus são espaços tradicionais da juventude e do movimento estudantil, que de forma auto organizada, promovem o lazer e também o financiamento de campanhas e entidades estudantis. No entanto, a burocracia universitária caminha, nos últimos anos, a passos largos contra esse direito dos estudantes, proibindo e ameaçando multar os estudantes que desrespeitarem as regras de conduta da universidade, regras essas nunca debatidas entre a comunidade universitária.

Para além dos espaços de vivência, que também tornam as ruas mais movimentadas , iluminadas e o bairro menos ermo, é necessário que a segurança nos arredores do campus seja garantida, não de forma reacionária, com o aumento do policiamento, mas com aumento das frotas de ônibus, que ligam o campus aos diferentes bairros estudantis do distrito de Barão Geraldo, com a possibilidade de parada em todos os pontos de ônibus de linha; o aumento dos postes de iluminação, assim como a poda das árvores também é necessário para que as ruas não estejam tão escuras favorecendo os assaltos.

Além disso, mais profundamente, coloca para o movimento estudantil da Unicamp uma perspectiva de refletir os efeitos da crise, da fome e da precarização da vida, para batalhar para ser um ator que contribua para um programa que, de conjunto, signifique uma saída da classe trabalhadora à crise e, por essa via, combata o fenômeno da violência pela raiz.

É urgente que o DCE, junto aos CAs, coletivos e organizações da universidade debatam os últimos acontecimentos e se organizem para fazer as propostas e exigências à reitoria, fortalecendo nossa auto-organização. Não podemos permitir que em nome de nossa segurança avancem com o controle e o autoritarismo, significando mais repressão.

 
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