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Greve nos EUA
A greve dos professores de Minneapolis faz parte da luta pelas vidas negras
Adnan Ahmed

A greve dos professores de Minneapolis é a maior greve nos Estados Unidos no momento e é uma luta antirracista.

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Foto: Luigi Morris

A greve dos professores de Minneapolis começou esta semana com grande participação. Mais de 4.000 professores e Profissionais de Apoio à Educação (nos EUA abreviado pela sigla “ESPs”) estão em greve pela primeira vez em 50 anos. Os professores reivindicam salas com menor número de estudantes, aumento dos salários (especialmente os profissionais de apoio à educação que são em sua maioria negros), aumento do apoio à saúde mental para os alunos e pela permanência dos educadores negros. Estudantes, pais e membros da comunidade se juntaram a esses educadores nesta greve.

As reivindicações dos professores são anti-racistas

Com a revolta pelo assassinato de George Floyd, Minneapolis viu o renascimento do movimento Black Lives Matter (BLM). A polícia reprimiu violentamente membros da comunidade e as pessoas incendiaram delegacias. Alguns meses depois, em 4 de novembro de 2020, mais de 600 membros da comunidade e ativistas do BLM foram presos durante um protesto numa rodovia, a maior prisão em massa da história de Minnesota. As pessoas ainda estão enfrentando acusações. Durante o julgamento de Derek Chauvin que coincidiu com o assassinato policial de Daunte Wright, membros da comunidade foram mais uma vez brutalizados com gás lacrimogêneo e balas de borracha, com as cidades cheias da Guarda Nacional.

Nesse contexto, não é surpresa que, os professores que fazem o trabalho de conscientizar os membros mais jovens da nossa sociedade, estejam em greve pela justiça racial. Todas as suas exigências estão diretamente ligadas à luta negra.

O sindicato exige aumentos salariais para professores e ESPs. Em Minneapolis, um professor com mestrado pode ganhar US$ 75.000 por ano após 20 anos de serviço, enquanto nos distritos vizinhos, um professor com as mesmas qualificações fará isso em apenas 8 a 12 anos. O sindicato também exige que o distrito aumente o salário inicial dos ESPs de US$ 24.000 para US$ 35.000 por ano. Os ESPs, que são em sua maioria negros, atualmente recebem salários de pobreza. Qualquer valor menor que US $ 35.000 seria essencialmente um corte salarial dada a taxa de inflação de 7,9%.

O sindicato quer mais esforços conjuntos para contratação de professores negros. Há um ano, o sindicato propôs um Memorando de Acordo (MOA) que protegia contra a demissão de educadores negros. O distrito escolar não concordou com isso e agora que a greve está em andamento, alega que o sindicato não discutirá iniciativas de equidade — uma clara tentativa de prejudicar as demandas do sindicato.

Se o distrito escolar estivesse realmente preocupado com a equidade, teria concordado com as exigências dos professores de salas com menos alunos. Além de proporcionar um melhor ambiente de aprendizagem para os alunos e carga horária mais flexível para professores e ESPs, a redução do tamanho das salas também impediria que os educadores fossem demitidos e levaria a mais contratações, uma vez que mais professores seriam necessários.

Os professores pedem um aumento do apoio à saúde mental de seus alunos. Minnesota tem uma das piores proporçõess entre alunos e conselheiros do país. Enquanto a proporção nacional de aluno para conselheiro é de cerca de 430:1, em Minnesota está acima de 600:1. O trauma combinado da pandemia e da repressão policial violenta e racista tem impactado enormemente os alunos negros — se faz urgente a contratação de mais conselheiros escolares para atender os alunos.

Alegações falsas do Distrito Escolar e o objetivo de disfinanciar a Educação Pública

O distrito escolar tentou enquadrar esta greve como sendo anti-estudantil. A Federação de Professores e Profissionais de Apoio à Educação de Minnesota (MFT59) afirma que o distrito divulgou informações erradas sobre as negociações em andamento sem apresentar contra propostas às propostas apresentadas pelo sindicato.

Uma pequena organização sem fins lucrativos chamada Minnesota Parent Union (em português União dos Pais de Minnesota) alegou falsamente que as exigências do sindicato são racistas. A União dos Pais de Minnesota alegou, com base em falsas denúncias, que a greve é supremacista e pediu ao MFT59 para acabar com a greve e focar em "resultados de conquistas", ou seja, testes padronizados. Mas os testes padronizados foram desenvolvidos por eugenistas, e têm sido usados como instrumentos de racismo: favorecem estudantes brancos ricos que têm melhores oportunidades de se preparar para esses testes em comparação com estudantes de baixa renda e negros.

A Minnesota Parent Union também é uma defensora da controversa Emenda apresentada pelo juiz aposentado da Suprema Corte de Minnesota Alan Page e pelo Federal Reserve Bank of Minneapolis e CEO, Neel Kashkari. Se aprovada, a Emenda mudaria a linguagem constitucional da "uniformidade ou eficiência do sistema" para "a qualidade da educação pública oferecida às pessoas". Isso significa que essa alteração substituiria a garantia de uma educação pública gratuita por "educação de qualidade" como direito fundamental, e testes padronizados seriam a medida dessa qualidade.

A Emenda precisaria de uma maioria de votos da Câmara e do Senado para ir às urnas ainda este ano. Isso abriria a porta para os minnesotanos combaterem as alegações de iniquidades educacionais no tribunal, mas também facilitaria que as escolas autônomas alegassem ser solução para essas iniquidades. Isso, por sua vez, drenaria ainda mais recursos e matrículas de escolas públicas. As escolas autônomas que recebem financiamento público, conhecidas nos Estados Únidos como escolas charters, também levam à re-segregação da educação.

Para entender por que a União dos Pais de Minnesota está promovendo políticas que perpetuam o racismo e a segregação - ao mesmo tempo em que afirmam que a greve dos professores de Minnesota é racista - não precisamos olhar além de onde esse grupo conseguiu seu financiamento. A Fundação Minneapolis, que historicamente apoiou o desfinanciamento da educação pública, financiou direta e indiretamente a Minnesota Parent Union e é uma apoiadora da Emenda. Rob Levine, que tem feito um extenso trabalho sobre o movimento de reforma educacional filantrópica, escreve: "Por 30 anos, a Fundação Minneapolis e seus aliados vêm criando, financiando e persuadindo o legislativo a afrouxar as exigências sobre escolas charter no estado. Durante esse mesmo período, eles têm pressionado por políticas educacionais orientadas por dados (teste). Uma das estratégias gerais de educação das fundações - que eles não se atrevem a dizer em voz alta – é alimentar a proliferação de escolas charter através de apelos raciais ou étnicos aos pais."

A história do racismo na educação não pode ser ignorada. Mas usar experiências reais de trauma racial como uma tática sindical para promover o desfinanciamento da educação pública só promoverá mais racismo e re-segregação na educação. Se realmente queremos ser antirracistas, devemos nos juntar aos professores de Minneapolis na luta pelas vidas negras.

 
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