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Análise
As relações entre militares e Bolsonaro diante das eleições
Willian Garcia

O enorme prolongamento da pandemia, o labirinto da terceira via e especialmente a manutenção de Lula em larga vantagem nas pesquisas vêm aumentando as interrogantes entre militares e Bolsonaro. Nesse cenário de incertezas, vai se inscrevendo na situação nacional conflitos que podem apontar para uma maior desassociação das Forças Armadas com o governo, com o bloco militar visando manter o papel de árbitro do regime e sua tutela junto ao Judiciário sob as eleições deste ano como garantidores da estabilidade institucional.

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Após as Forças Armadas terem colaborado com o governo para a condução catastrófica da pandemia, em especial sob o comando de Pazuello, agora buscam se relocalizar e até se separar de Bolsonaro em alguns pontos. O mais recente conflito foi acerca da aprovação da vacinação de crianças pela Anvisa, comandada por Barra Torres. No dia 8/01 o almirante da reserva cobrou publicamente que Bolsonaro se retratasse por insinuar que a aprovação da Anvisa tinha interesses motivados por corrupção. No dia seguinte, Bolsonaro se disse surpreso com a resposta agressiva de Barra Torres.

Apesar dos recentes conflitos, Barra Torres já esteve bastante alinhado a Bolsonaro, sendo indicado pelo próprio para presidir a Anvisa em janeiro do ano passado. Na época, Barra Torres frequentava as manifestações negacionistas de Bolsonaro, sem máscara, e chegou a ter confrontos com João Doria sobre o início da vacinação.

Outro atrito recente entre militares e governo foi o condicionamento do retorno das atividades presenciais de militares à vacinação. O general Paulo Sérgio Nogueira, comandante do Exército, assinou diretrizes recomendando a vacinação a todos os soldados para retorno do trabalho presencial. Nogueira ainda foi além e recomendou à tropa a não divulgação de fake news nas redes sociais, diferente da linha negacionista de Bolsonaro sobre os efeitos da vacina.

Apesar da irritação de Bolsonaro com as diretrizes, o comando do exército manteve a orientação. No entanto, na última quinta-feira (13), o comandante Paulo Sérgio Nogueira e Bolsonaro se reuniram na tentativa de arrefecer a situação conflituosa.

Bolsonaro no encontro com militares, em imagem divulgada nesta quinta - @exercito no Facebook

Militares e uma possível vitória de Lula

A possibilidade de um maior afastamento não se deve a qualquer lapso de consciência "pró ciência" dos militares, que com Pazuello e Queiroga são responsáveis diretos por centenas de milhares de mortes e esquemas de corrupção demonstrados na CPI. A desassociação gradativa dos militares com o governo não se dá por acaso, ou meramente pelo desgaste da cúpula militar nas tratativas com Bolsonaro - como insiste a grande mídia -, mas sim porque a cada nova pesquisa de intenção de votos e de popularidade, a possibilidade de uma reeleição de Jair Bolsonaro vai ficando menor. Por outro lado, a impossibilidade de uma terceira via, seja encabeçada por Moro ou Doria, também fortalece ainda mais a candidatura de Lula que já vinha forte desde sua reabilitação política pelo STF.

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Essa desassociação não é tão recente, ela já vem acontecendo desde o 7 de Setembro, quando um dia após Bolsonaro elevar o tom contra o STF e Alexandre de Moraes, Temer teve que intervir e organizar um recuo do governo, que apesar de mostrar uma enorme base social de extrema-direita nas ruas que lhe deu sobrevida, não obteve força suficiente para ganhar uma nova localização política. Desde então o protagonismo militar vem arrefecendo, com os generais assumindo uma posição pública muito mais discreta, vide o silêncio de Braga Netto nos últimos meses.

A maior discrição dos militares pode ser consequência do acordo traçado por Temer, mas não apenas isso. A cúpula militar estaria fazendo cálculos também eleitorais, interessada em preservar sua localização no regime, que após décadas desde o fim da ditadura, não só finalmente voltaram ao governo central via eleições, como protagonizam uma relação de cooperação e disputa com o Judiciário para tutelar o regime político. Nesse sentido, precisam ensaiar como manterão tal posição fora de um novo governo Bolsonaro ou da direita tradicional.

Lula e o PT demonstram que não só as reformas pretendem manter, como também a nova localização parasita e autoritária das Forças Armadas. Lula, em diversas entrevistas desde que saiu da prisão, faz questão de dar acenos às cúpulas militares, relembrando os investimentos em equipamentos em seu governo.

Quanto mais se mostra inevitável a vitória de Lula, que nas recentes pesquisas ganharia no primeiro turno, igualmente inevitável é a relocalização militar, ainda que isso possa gerar atritos no governo e projeto neoliberal de país que seguem sustentando. Essa sustentação inclusive fica evidente na foto em que o comandante Paulo Sérgio Nogueira e Bolsonaro posam lado a lado sorrindo enquanto acalmavam crises.

Um futuro incerto e eleições tuteladas

Os conflitos dos militares dentro do governo e, em menor grau, conflitos dentro das Forças Armadas, podem seguir se desenvolvendo neste momento de incertezas e movimentações eleitorais. Enquanto Santos Cruz se anima com a candidatura de Moro, Heleno reforça seu apoio a Bolsonaro com declarações bizarras. Contudo, o alto comando do Exército parece agir em consonância pelo gradual afastamento do governo, retomando uma imagem de instituição estabilizadora do regime que irá tutelar as eleições, junto ao STF, a partir das posições que assumiu no TSE.

Em uma situação mais extrema de conflito político e institucional a cúpula militar poderia até assumir o papel de garantidora da legalidade, garantido a posse de Lula, em um eventual capitólio brasileiro que Bolsonaro tente arriscar com apoio, por baixo, dos próprios militares, como aventam alguns articulistas. A cúpula militar apareceria, literalmente, como salvadora da pátria. Pairam imensas dúvidas se na situação atual Bolsonaro teria força para uma ação desse tipo, visto uma nova correlação de forças no país onde cada vez mais a tendência de Lula voltar ao governo é mais concreta.

Em resumo, buscam aparecer menos como uma ala do governo e mais como uma instituição de Estado que garantirá "ordem e democracia" e o "respeito à constituição" - como sempre afirmaram nas crises com o STF, que repetia a mesma coisa. Na realidade, buscam manter sua localização no regime político, cada vez mais regrado e com características bonapartistas desde o golpe institucional. Diferentemente da grande mídia, que embeleza as Forças Armadas como uma instituição que agora estaria se comprometendo com a institucionalidade, a verdade é que os generais atuam para manutenção de seus interesses reacionários, e que já está claro que Lula não estará disposto a enfrentar, mas novamente se reconciliar.

 
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