www.esquerdadiario.com.br / Veja online / Newsletter
Esquerda Diário
Esquerda Diário
http://issuu.com/vanessa.vlmre/docs/edimpresso_4a500e2d212a56
Twitter Faceboock
É Sócrates!
10 anos sem Sócrates: O legado de Magrão ao futebol
Rafael Barros

No dia 4 de dezembro de 2011, 10 anos atrás, faleceu Sócrates Brasileiro. No mesmo dia 4 de dezembro de 2011, às 16h, 40 mil torcedores e os 22 jogadores da equipe do Corinthians faziam soar no Estádio do Pacaembu um sonoro grito de “É Sócrates”, todos com seus punhos erguidos, gesto eternizado dos Panteras Negras, e eternizado também nas comemorações do Magrão.

Ver online

No dia 4 de dezembro de 2011, 10 anos atrás, faleceu Sócrates Brasileiro. No mesmo dia 4 de dezembro de 2011, às 16h, 40 mil torcedores e os 22 jogadores da equipe do Corinthians faziam soar no Estádio do Pacaembu um sonoro grito de “É Sócrates”, todos com seus punhos erguidos, gesto eternizado dos Panteras Negras, e eternizado também nas comemorações do Magrão. Às 18h daquele mesmo dia 4, Sócrates, além de ídolo do futebol brasileiro e mundial, virava também profeta. “Quero morrer em um domingo, com o Corinthians campeão”. E o 0x0 contra o Palmeiras rendeu o quinto título brasileiro do time que marcou sua carreira.

Nascido em Belém do Pará, mas crescido em Ribeirão Preto, cidade que Sócrates chamava de “leito materno”, ele esteve longe de ser um ídolo apenas do Corinthians. Mas chegaremos lá.

O garoto, de pai fascinado na mitologia grega, começou a jogar no Botafogo-SP cedo, e já em 1973 se tornava profissional. Em pouco tempo, chamou a atenção de todos que assistiam ao futebol paulista. Naquela época, os times do interior eram celeiros de grandes craques. O garoto, aos 17, entrou na faculdade de medicina, que terminou, mesmo como jogador profissional.

Em 1978, o interesse em Sócrates foi primeiro do São Paulo. Mas o então presidente do Corinthians, Vicente Matheus, foi responsável por, talvez, a artimanha mais importante da história do alvinegro do Parque São Jorge. Inventou uma história de proposta do Corinthians para contratar Chicão, então zagueiro do rival tricolor. Marcou reunião, e enquanto esperavam por ele, se meteu na estrada pra Ribeirão, e assinou com Sócrates para o Corinthians. Ali chegava Magrão.

Dono de uma qualidade genial com a bola, uma destreza com o calcanhar, mas acima de tudo, sabias palavras, Magrão se mostrou rapidamente um dos jogadores mais politizados do país. Tratava o futebol como esporte popular, valorizava a torcida, e cada funcionário que trabalhava no clube como parte tão fundamental que eram.

Assim como Maradona, em algum sentido, não tinha muitas papas na língua para falar de política, criticar diretorias, nem federações. Muito menos em gritar contra a Ditadura Militar.

E ai mora a razão de Sócrates ser mais do que um ídolo de um time. Afinal, ele não venceu copas, tendo jogado em 1982 e 1986. Em 82, foi parte do time que apaixonou pelo futebol, e foi vencido pelo físico e tático time de Paulo Rossi, da Itália, no histórico jogo em Sevilla. A seleção de Sócrates, Zico, Falcão, Cerezo e Careca, marcou época, mas deixou a eterna sensação da falta do caneco. Mas, de alguma maneira, foi o jogador que, publicamente, contra todos os protocolos do futebol, na época ainda menos que hoje, mas mesmo assim, com uma pressão apolitica de clubes e federações, se posicionava abertamente contra a Ditadura Militar, e em nome dos trabalhadores e de causas sociais.

Sócrates se ligou a um sentimento nacional. De revolta e de luta por transformações. Se conectou com o sentimento que fez nascer a Gaviões da Fiel, e que gestou, junto de Casagrande e de Wladimir, a Democracia Corinthiana, que virou o clube de cabeça para baixo. E fez, com a conexão deste sentimento, ele próprio como figura nacional, e também o Corinthians.

Vale, claro, a nível de debate, a ressalva do papel da Democracia Corinthiana, que, mesmo se ligando a um sentimento das massas brasileiras de rechaço a Ditadura, também cumpriu - e talvez seja este o papel histórico do Corinthians na época - um papel de auxiliar a política de direções reformistas para a saída pactuada da Ditadura.

Mas, debates à parte, o legado de Sócrates ao futebol, ainda mais nos tempos atuais, onde no Brasil o Bolsonarismo ganha espaço dentro dos clubes, os altos salários imperam, junto com uma enorme passividade de jogadores e treinadores, é o da lembrança de que futebol e política andam sempre juntos. De que o futebol, por mais que o tentem roubar dos trabalhadores, é ainda o esporte das massas operárias.

Magrão não só entendeu o espírito do Corinthians, mas foi quem melhor definiu o clube que foi sua casa de 1978 a 1984. “O Corinthians é muito mais do que um clube de futebol (...) O Corinthians é uma voz, uma força, uma forma de expressão que sua população tem. Num país em que os mais fracos, social, política e economicamente, não tem voz nunca, neste caso tem. Através do Corinthians eles conseguem se manifestar. Quer dizer, a torcida corinthiana utiliza seu clube, seu time, sua expressão fisica, como forma de contestação de tudo aquilo que não lhes é dado de direito.

Sócrates vive hoje, 10 anos depois, como a memória que faz a vontade dos punhos erguidos, da indignação com tudo aquilo de mais podre da sociedade capitalista que ainda é expresso no esporte. Seu legado tem de ser o da luta política em todos os campos da vida. Sem medo, e com a categoria que seu calcanhar deu de presente ao futebol.

 
Izquierda Diario
Redes sociais
/ esquerdadiario
@EsquerdaDiario
[email protected]
www.esquerdadiario.com.br / Avisos e notícias em seu e-mail clique aqui