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Eleiçõe Chile 2021
Kast: o candidato chileno que reivindica Pinochet e Bolsonaro

Saiba quem é José Antonio Kast, o ultradireitista, ex-senador, atual presidente do Partido Republicano e um dos dois candidatos que passaram ao segundo turno das eleições presidenciais do Chile.

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O advogado e político chileno de extrema direita disputa a presidência pela segunda vez, passando para o segundo turno contra Gabriel Boric, candidato de centro-esquerda da Frente Ampla pela coalizão Apruebo Dignidad. Ultra católico, racista, anti-imigrantes e com um projeto neoliberal, Kast disputou pela primeira vez em 2017, quando na época afirmou que, se Pinochet estivesse vivo, votaria nele.

Após a eleições do domingo passado (14) na Argentina, o chileno aproveitou para saudar o resultado alcançado pelas candidaturas dos autodenominados “libertários”, que incluíam figuras como Victoria Eugenia Villarruel, uma advogada abertamente defensora dos militares genocidas da última ditadura argentina.

Kast já havia mostrado simpatia por Donald Trump e Jair Bolsonaro, e tem importantes laços internacionais com forças como o Vox, da Espanha. O candidato do Partido Republicano aparece entre os signatários da Carta de Madrid contra “o avanço do comunismo” na iberoamérica, também assinado por Javier Milei da Argentina.

Carreira na direita

Kast militou por 20 anos na União Democrática Independente (UDI) - partido ultraconservador e pinochetista - até que em 2016 rompeu e em 2017 se apresentou como candidato às eleições presidenciais, alcançando 7,93% dos votos. Utilizou então a campanha presidencial para agrupar esse setor da direita que já vinha descontente com Piñera, fundando em 2018 o movimento Ação Republicana. No início, esse movimento atuou como força do próprio Kast na direita, pressionando o Chile Vamos, coalizão de Piñera. Com esse movimento, Kast conseguiu agrupar molecularmente, sem grandes rupturas, tudo que caía pela direita do balaio do governismo.

Na mesma época, formou um Centro de Estudos e lançou o livro “Rota Republicana”, onde participaram acadêmicos como Beatriz Maturana (atual encarregada da pasta de habitação do círculo de Kast, que declarou recentemente que moradia não deveria ser um direito), para por fim chegar à forma de partido político em 2019.

Com um discurso agressivamente conservador, xenófobo e criminalizador, são os autênticos e mais consequentes herdeiros da direita pinochetista. É a velha direita da ditadura, com sua linguagem e política. Entre outras coisas, Kast se apresenta como admirador de Bolsonaro.

Kast e Bolsonaro compartilham de uma política ultraliberal de completa subordinação aos capitais imperialistas. Outro aspecto, não menor, que une Kast e Bolsonaro, é sua admiração pelo sistema de AFPs (aposentadorias privadas). Bolsonaro e Guedes nunca esconderam serem partidários de um sistema similar, assim como Temer antes deles, buscando desmanchar o sistema brasileiro de aposentadoria. Kast propõe, sem rodeios, continuar as AFPs e inclusive aumentar a idade de aposentadoria, para explorar brutalmente as e os trabalhadores até os últimos dias de vida.

Pretende reduzir o número de cadeiras do parlamento, os ministérios, reduzir o funcionalismo público, mas também fortalecer e dar mais atribuições ao Presidente, às Forças Armadas e os Carabineros. "Se Pinochet estivesse vivo, votaria em mim”, e tem razão, porque ele e seu projeto representam isso, a mais fiel e consequente cópia do Chile de Pinochet e Guzmán, mas em 2021.

O programa de Kast e dos Republicanos

Existem dois eixos sobre os quais Kast se fortaleceu, o repressivo, ligado à militarização do Wallmapu (das comunidades indígenas Mapuche) e a criminalização das manifestações, e o problema da migração, onde suas propostas se destacam por serem brutalmente xenófobas. Mas esses dois eixos são insuficientes para entender o projeto republicano em sua profundidade.

Já dissemos que ele é pinochetista, buscando fortalecer todas as ferramentas repressivas e bonapartistas do aparato estatal; a proposta de habilitar o Presidente para atuar como monarca durante 5 dias, podendo ordenar as Forças Armadas a reterem, investigarem ou
prenderem a quem quiser, sem tribunais ou controle algum, mostra de corpo inteiro o projeto de Estado dos republicanos de Kast.

Como o melhor representante da direita clássica chilena, seu programa é uma vergonhosa ode ao neoliberalismo dos anos noventa, acoplado à ordem que garantia a ditadura: a mais honesta nostalgia da direita. Até Sichel, o candidato de Piñera, ou os “experts” economistas da direita, se espantam quando Kast propõe uma redução de 20% dos impostos, tamanha sem-vergonhice de seu projeto ultraneoliberal. Porém, ele não está no cenário político por suas aptidões nas ciências econômicas, e sim por sua condição de gendarme, de capataz da ordem e da moral. Contra os direitos das dissidências sexuais e das mulheres, para perseguir e castigar as mobilizações populares, e para desfazer tudo o que a rebelião de outubro desencadeou, por mais inviável que pareça, esses são seus objetivos explícitos.

Kast e os republicanos, embora sejam representantes de um pinochetismo desatualizado, se fortaleceram como reação à revolta de 2019 e suas consequências políticas. De qualquer maneira, ainda que Kast possa vencer na votação, está longe de poder tornar seu projeto viável, o que não seria outra coisa que voltar à constituição dos anos 80. Na verdade, à sociedade dos anos 80. Caso triunfe no Chile, estaremos diante de um governo muito débil e - ao mesmo tempo - muito radical. Uma cisão ainda mais intransponível que a atual se abriria entre o principal organismo de desvio da rebelião, a Convenção Constituinte, e o gendarme da ordem, o Executivo. Um governo Kast seria qualquer coisa, menos as águas calmas que a burguesia necessita para recompor o regime, e seria o presságio de novos embates da luta de classes do outro lado da cordilheira.

 
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