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Filmes de terror: demarcação de tendências a partir da crise capitalista
Laura Sandoval

No começo dos anos 2000, vimos nas telonas uma nova aposta nos filmes de terror do gênero psicopata “slasher”. Estes agora ocupam lugar de referências passadas e cult, frente a uma nova onda do terror, expressa, por exemplo, em Round 6.

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Desde o fim do século passado, vemos exemplos como “Halloween”, “O massacre da Serra Elétrica” e “Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado”, que retornaram com a virada de século, com remakes e sequências. Além disso, novos exemplos como “Pânico”, “Jogos Mortais”, “Espantalho” despontaram como filmes do gênero slasher. Esse tipo de filme de terror abarca obras em que um assassino psicopata persegue e mata um grupo de pessoas.

Até anos atrás, esses eram os principais exemplos que vinham à mente das pessoas quando se falava de filmes de terror. Justamente porque eram parte da corrente cultural dominante na sociedade da sua época. Porém, atualmente vemos surgindo no imaginário coletivo uma nova noção do gênero em questão. Como exemplos de terror nos dias de hoje podem ser citados “Black Mirror”, “Uma noite de crime” (ou “The Purge”,) “Nós”, “O Poço”, e a própria série “Round6”, que se tornou um fenômeno em 2021. Essa nova concepção do terror que despontou com maior força entre o senso comum nos últimos anos revela a popularização de filmes distópicos, que determinam um futuro de catástrofe para a humanidade.

Mas de onde podem estar vindo as causas de tal popularização?

Para entender essas obras, também devemos analisar materialmente a realidade a que elas pertencem. Por isso, pode-se ver a crise capitalista de 2008 como um marco nessa transição gradativa em relação ao gênero popular do terror. No período pré-crise, víamos mundialmente uma perspectiva de futuro de avanços e melhorias, trazendo um sentimento geral de estabilidade para a população. Este foi destruído com a profunda crise em 2008, que tem claramente efeitos até os dias de hoje. Com ela, foi instaurada uma perspectiva de retrocessos e desmoralização frente ao futuro, justamente pelo pessimismo que a miséria da realidade coloca para nós.

Assim, os filmes slasher da virada do século dialogam com a sociedade global pré-crise, uma vez que colocam o “mal” desde uma perspectiva individual: o psicopata é uma deturpação social. Nesse mesmo caminho, podemos analisar as tendências cinematográficas de agora como muito mais coletivas. O que dá medo é pensar sobre o futuro colocado à nós, representado pela barbárie e por uma catástrofe tida como iminente. Inclusive, o que, muitas vezes, vem acompanhado de várias críticas que atingem também a própria realidade de agora.

Nesse cenário, explodem obras como o próprio “Round6” ou “Uma noite de crime”, que tem como expoente e fazem refletir sobre a miséria capitalista e a irracionalidade do sistema de classes. São, portanto, uma expressão que deriva do mundo que já conhecemos hoje, e do sofrimento que ele causa. Justamente por isso o gênero distópico veio se popularizando nos últimos anos de crise: porque dialoga profundamente com o que a população está vivendo e seus medos em relação ao futuro.

Além disso, nos filmes de terror vemos um salto de qualidade estético nas produções do gênero terror. Muito se pode relacionar isso à potencialização das contradições do capitalismo pós-crise. Isso porque os artistas, sujeitos de expressão do sentimento do mundo, encaram frontalmente a miséria da realidade nesse momento e expressam isso de modo mais profundo. Isso também se expressa na inserção de temáticas de opressões nessas obras, como questões de gênero e raça, que dialogam com o que é sentido pela sociedade atual, principalmente a juventude.

O terror é um gênero que trata da sociedade, desde reafirmações de arquétipos como nos filmes populares nas décadas passadas, até perspectivas distópicas sobre o que virá depois da barbárie capitalista vivida nos dias de hoje. Ainda assim, em contraposição a essa visão catastrofista do que está reservado para nós, vemos, não tanto nas telas, mas na vida em si, exemplos diários de luta da classe trabalhadora, que é o único sujeito capaz de determinar qual futuro vai ser o nosso, e batalhar para que seja de liberdade plena.

 
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