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Centrão
União Brasil: entre a terceira via e o protagonismo no "presidencialismo de coalizão"
Mateus Castor
Cientista Social (USP), professor e estudante de História

O centrão ascendeu ao governo Bolsonaro e ocupa posições de direção política no regime como nunca o fez antes. Diante da crise do PSDB e a sede por um governo alinhado ao mercado e à mais reformas e ataques, um partido como o União Brasil pode tornar-se a “nova sensação” nos círculos dirigentes capitalista.

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Foto: Wellington Hanna/TV Globo

É mais do que óbvio que um dos fatores fundamentais na formação do União Brasil é ter acesso a uma parcela gigantesca do fundo partidário. São 158 milhões de reais, para ser exato, que esperam receber em 2022, se levarmos em consideração os 82 deputados somados do PSL e DEM. Uma bancada que, mesmo com a inevitável debandada dos bolsonaristas, tornaria este novo partido em uma força política que rivalizaria a disputa interna do centrão com PP e PSD.

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Aqui não há porquê chover no molhado. Um breve comentário cumpre sua função: não há uma mínima novidade do ponto de vista de conteúdo nessa nova sigla. Um novo partido burguês, clientelista, regionalista, dependente dos privilégios e acesso às verbas públicas pagas esmagadoramente pela população pobre e trabalhadora. Até aí, alguns comentaristas de jornais, ex-bolsonaristas, possuem toda a capacidade de notar a razão clientelista, como é o caso de Marco Antonio Villa, embora as movimentações do União Brasil em busca de Sérgio Moro possam causar um nó na cabeça conservadora e uma rápida mudança de opinião a respeito desse novo partido.

A coisa complica quando olhamos para além de questões como o fundo partidário e eleitoral. ACM Neto em diversas entrevistas, e também durante a convenção de fusão na última quarta-feira, afirmou a ambição da nova legenda em lançar candidatura própria, se projetando como o partido que teria mais força para bancar uma terceira via. Diante da chance de fugir da polarização entre Lula e Bolsonaro, jornais como o Estadão já demonstraram um enorme contentamento. “Será a primeira vez, em 20 anos, que a direita reúne tantos parlamentares em uma única agremiação”, enfatiza o Estadão.

De fato, a sigla teria 82 deputados, um sinal de governabilidade e estabilidade em um futuro governo sustentado no chamado “presidencialismo de coalizão”. Há, no mínimo, 3 pré-candidatos: o ex-ministro de Bolsonaro, Mandetta, o presidente do Senado Pacheco e Luiz Datena. Ocorre que a incerteza ainda sobrepuja a esperança para a direita não bolsonarista. O apresentador é paparicado pelo PDT, da mesma maneira Kassab busca atrair o senador para o PSD. Além desses, há quem diga que Moro pode ser seu candidato, o que poderia dar mais fôlego para as perspectivas eleitorais da legenda, porque ele, ainda que debilitado pela reversões das condenações ao Lula, e por tudo que significou a Vaza Jato, é uma figura que consegue angariar um eleitorado anti-petista.

Porém, diante do fracasso vergonhoso da terceira via no dia 12 de setembro, a formação de um novo partido da proporção do União Brasil busca dar algum alento para a terceira via. Com os 158 milhões de reais de fundo partidário, mais o fundo eleitoral, além da vinda de políticos da direita para esse novo gigante clientelista, haveria algo concreto para que um nome da direita golpista surja para 2022. Um verdadeiro sonho, que para a direita seria a continuidade dos ataques intensificados em 2016 com Temer e depois potencializados pelo governo Bolsonaro, só que agora sem a figura do ex-capitão e a estabilidade.

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O centrão ascendeu ao governo Bolsonaro e ocupa posições de direção política no regime como nunca o fez antes. Diante da crise do PSDB e a sede por um governo alinhado ao mercado e à mais reformas e ataques, um partido como o União Brasil pode tornar-se a “nova sensação” nos círculos dirigentes capitalistas, com exceção, obviamente, do jornal oficial do governo, Jovem Pan, que já mobilizou sua tropa de comentaristas para atacar qualquer ameaça a seu amado presidente Jair Bolsonaro.

Merval Pereira, voz forte da Globo, pode nos ajuda a sintetizar o impacto desse novo partido na intelligentsia burguesa: “(...) a partir da fusão do DEM com o PSL, de que nasceu o União Brasil, um partido feito para ter posição de protagonismo na sucessão presidencial e no Congresso que nascerá das urnas em 2022.” Coloca também que a nova legenda poderá romper com a polarização, mas que será preciso ter menos nomes da direita.

Há elementos de fato para caracterizar que pelo menos há a ambição de fazer o União Brasil um “super partido” para dar mais poder a uma ala do Centrão, que quer mais condicionantes diante do projeto de Bolsonaro, e busca rivalizar com o PP que hoje é um partido fundamental para Bolsonaro ter sustentação e com o PSD para ser a base forte de um futuro governo.

O líder na Câmara do DEM, Efraim Filho (PB), afirma que a aposta é que o surgimento desse partido dinamize as mudanças de partido, e que a perda do bando bolsonarista seja compensada pela entrada de outros bandos, interessados nos grandes recursos da legenda. “Na janela, a expectativa é de que a gente consiga um partido que dessa união, um mais um seja igual a três”, afirmou. Caso o novo partido contorne as disputas regionais pela direção, como ocorre em SP e no RJ, poderá ser de fato um peso grande na disputa de 2022.

Ainda que a terceira via não vingue, e ocorra um segundo turno entre Bolsonaro e Lula, o União Brasil poderá cumprir um papel importante para o regime no disciplinamento seja de quem vencer, de qualquer forma a nova sigla é um novo passo do centrão em manter suas posições no novo regime. No cenário pouco provável, se levarmos em conta as pesquisas eleitorais, com uma vitória débil de Bolsonaro, o União Brasil cobraria o seu preço para manter a governabilidade e a implementação da agenda governista. Com o cenário mais possível indicado pelas pesquisas de hoje, se Lula vencer, além da inexistência das mesmas condições de crescimento econômico de seu governo passado, a nova legenda poderá ocupar a posição de sustentação do governo e garantir que Lula cumpra com as promessas que vem realizando desde já para a burguesia.

De qualquer forma, Merval Pereira está certo, o União Brasil será um novo e importante “player” no jogo político desse regime político degradado, projetado para cumprir o mesmo papel no presidencialismo de coalização que o PFL cumpriu para FHC e que o MDB de Temer cumpriu nos governos do PT. Isso, logicamente, caso não venha a implodir por causa das disputas regionais, por recursos, cargos e parlamentares antes de sua regularização.

 
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