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Eleições
Argentina: com mais de um milhão de votos, a esquerda anticapitalista agrupada na “Frente de Izquierda” é a terceira força
Fernando Scolnik
Buenos Aires | @FernandoScolnik

Em um marco de derrota do Governo nacional do peronista Alberto Fernández, que foi capitalizado no primeiro lugar pela oposição de direita, a esquerda anticapitalista e revolucionaria nucleada na Frente de Esquerda Unidade (FIT-U) avança como uma referencia nacional para lutar por outra saída para a crise. Um contundente apoio à unidade da classe e da esquerda socialista e daqueles que apóiam todas as lutas dos trabalhadores e da juventude oprimida. A melhor eleição na Cidade de Buenos Aires desde que existe a FIT, a terceira força na província de Buenos Aires derrotando a extrema direita de Espert e ao kirchnerista Randazzo, e um resultado histórico na província de Jujuy (no extremo norte do país ) com 23%. Uma batalha aberta para novembro pela obtenção de cadeiras de deputados nacionais para fortalecer as lutas dos trabalhadores, mulheres e jovens.

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Foto: La Izquierda Diario

No marco de uma eleição cruzada devido ao ajuste e à pandemia, por volta das 22h (horário de Brasília) deste domingo, começaram a conhecer-se os resultados oficiais das PASO 2021 (primárias abertas e obrigatórias), que deixaram como dados centrais uma importante derrota do governo nacional peronista-kirchnerista, com seu epicentro na província de Buenos Aires, Capital Federal, Córdoba, Santa Fé, Mendoza e outros distritos. Ao todo, o partido governista perdeu em 17 províncias e venceu apenas em 7.

“Algo não fizemos bem”, disse o presidente Alberto Fernández por volta da meia-noite ao admitir a derrota, em ato que contou também com a presença da vice-presidente Cristina Kirchner, do governador Axel Kicillof, do presidente da Câmara dos Deputados Sérgio Massa e dos candidatos Victoria Tolosa Paz e Leandro Santoro, entre outros.

Nesse contexto, e enquanto o principal vencedor é a oposição de direita do Juntos por el Cambio, do ex-presidente e empresário Mauricio Macri, a Frente de Esquerda Unidade fez uma ótima eleição. Esse resultado expressa na esquerda uma parte da insatisfação com o ajuste de um governo que em 2019 havia gerado expectativas em milhões que não cumpriu, e com seus escândalos como a foto da residência presidencial em Olivos ou a “vacinação VIP “(casos de políticos, empresários e figuras da mídia que foram vacinados furando a fila). Com mais de um milhão de votos, a FIT-U continua a ser a terceira força nacional acima dos autodenominados "libertários", derrotando estes últimos - que só têm representação eleitoral em alguns distritos - por mais de 250.000 votos.

A FIT-U é uma aliança política eleitoral da extrema esquerda argentina que reúne as principais forças da esquerda trotskista: o Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS) - organização irmã do MRT no Brasil e impulsiona a rede internacional La Izquierda Diario-, o Partido Obrero (PO), Izquierda Socialista (IS) e o Movimento Operário Socialista (MST).

Este grande resultado da FIT-U mostra que não estamos presenciando um giro unilateral à direita da situação política, como sugerem algumas leituras, mas que há tendências de polarização política e social no calor da crise, e uma força que com essa grande votação se prepara para lutar para emergir por outra saída, com novos deputados e uma grande força militante em todo o país.

Alguns dos mesmos meios de comunicação que estimularam uma campanha de direita, hoje, não por acaso, buscam diminuir a existência desse grande resultado da Frente de Esquerda.

Contra os aparatos dos poderosos, a FIT-U fincou uma bandeira para lutar para “transformar a decepção em luta”: a relativa apatia observada durante a campanha eleitoral (e um comparecimento de 67%, um pouco menor do que nos anos anteriores) , tem a ver não apenas com a pandemia, mas também com o fato de que, após quatro anos de ajuste macrista, a Frente de Todos decepcionou muitos ao continuar com políticas que deterioraram as condições de vida de milhões.

Essas políticas de ajuste e a desmobilização geral que impulsionou as lideranças sindicais alinhadas à Frente de Todos, longe de enfrentá-la, estimularam o triunfo da oposição de direita.

Pelo contrário, o avanço da Frente de Esquerda Unidade expressa um apoio significativo à esquerda classista e socialista que se une e esteve presente apoiando todas as lutas e propondo um programa de fundopara fornecer uma solução operária e anticapitalista para a crise.

Como temos refletido no Esquerda Diario, desde 2020, com altos e baixos, uma onda de lutas percorre o país, desde ocupações de terras e moradias em Guernica (zona sul da Grande Buenos Aires) e outros lugares, a luta dos "elefantes" (trabalhadores docentes) da província patagônica de Neuquén, dos vinicultores de Mendoza e de outras províncias, dos citricultores de Tucumán, dos terceirizados da ferrovia e da energia e muitos mais.

A Frente de Esquerda não só fazia parte e apoiava cada uma dessas lutas, mas também dezenas desses lutadores eram candidatos em suas listas e centenas faziam parte dos milhares e milhares que construíram a campanha desde baixo em todo o país contra os aparatos dos poderosos.

A importante votação da Frente de Esquerda Unidade em muitos bairros populares, por exemplo, na Grande Buenos Aires nos bairros operários de La Matanza, Moreno, Berisso e outros bairros, bem como em Jujuy ou em bairros da Grande Mendoza, expressar essa tendência.

Por outro lado, dentro da esquerda, prevaleciam aqueles que sempre apostaram na unidade, tanto dentro da aliança, quanto contra outros grupos menores que optaram pela divisão e não passaram nas PASO ou estavam bem abaixo do FIT-U. Face às eleições gerais, o PTS e a FIT-U apelam a toda a esquerda para apoiar a Unidade Frente de Esquerda como alternativa que pode obter novas bancas para a esquerda no Congresso Nacional e nas legislaturas.

Muito bons resultados da Frente de Esquerda em diferentes províncias do país

Na estratégica província de Buenos Aires, a FIT-U, com 94,5% dos votos apurados, obteve 5,21% dos votos, vencendo as listas da extrema direita José Luis Espert e do ex-ministro de Kirchner Florencio Randazzo. Na FIT-U interna, a lista encabeçada por Nicolás del Caño (PTS) obteve 80,2% dos votos, e a de Alejandro Bodart (MST) 19,7%. A aliança de esquerda lutará pela renovação das cadeiras de Nicolás Del Caño (PTS) e Romina Del Plá (PO) no Congresso Nacional, o deputado provincial para a Terceira Seção e a luta pelos vereadores em diferentes municípios foi deixada em aberto.

Na Cidade de Buenos Aires, a FIT-U, com 98,64% das pesquisas apuradas, a obteve 6,23% dos votos, na melhor eleição do distrito desde que existe a Frente de Esquerda, e posicionada para lutar pela uma bancada nacional e cadeiras na legislatura em novembro. Nas PASO do espaço, a lista encabeçada por Myriam Bregman (PTS) obteve 86,2% dos votos e a de Celeste Fierro (MST) 13,7%.

Em Jujuy, no extremo norte do país, a Frente de Esquerda Unidade realizou uma eleição histórica, permanecendo em terceiro lugar e na perspectiva da luta pelo ingresso no Congresso Nacional. Com 97,15% dos votos apurados, o espaço obteve 23,37%. A lista encabeçada por Alejandro Vilca (PTS) alcançou 79,5% dos votos contra Betina Rivero (MST), que obteve 20,48% dos votos internos.

Em Neuquén, a FIT-U fez uma grande eleição com 7,9% dos votos, impondo no interno a lista encabeçada pelo líder histórico da cerâmica Zanon sob controle operário, Raúl Godoy (PTS), com 75% dos votos.

Em Córdoba, a FIT-U, com 99,3% dos votos apurados, obteve 4,32% dos votos. No espaço interno, a lista encabeçada por Liliana Olivero e Laura Vilches (IS-PTS) com 50%, enquanto Luciana Echevarría (MST) obteve 28,84% e Soledad Díaz (PO) 20,65%.

Em Mendoza, a FIT-U ficou em quarto lugar, com 4,97% dos votos, com a lista interna encabeçada por Noelia Barbeito (PTS) com 69,7%. A esquerda esteve muito próxima do Partido Verde lutando para ser a terceira força provincial e vencendo essa força na Primeira Seção, onde segue aberta a luta para conseguir que o camarada Edgardo Videla, trabalhador e delegado da fábrica de Cuyoplacas, seja eleito deputado provincial.

Em Chubut, a FIT-U obteve 9,4% dos votos, prevalecendo na lista interna encabeçada por Gloria Sáez com 54,39%.

Em Santa Cruz, a FIT-U obteve 7,85% dos votos, ganhando as PASO a lista “Unidade da Esquerda” por 61% dos votos.

Em Santa Fé, a FIT-U, com 97% das pesquisas apuradas, obteve 1,69% dos votos, com Irene Gamboa e Octavio Crivaro (PTS) vencendo no voto interno por 67,8% dos votos. eleição complexa com um grande número de listas e internas.

Em San Juan, a FIT-U obteve 6,89% dos votos, vencendo a lista "Revolucionemos a esquerda" com 53% dos votos internos.

Os dados completos da Frente de Esquerda em todo o país:

 
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