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MÉXICO - ELEIÇÕES
México na encruzilhada: voto útil, voto crítico, voto nulo ou abstenção?
Óscar Fernandez
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Foto: REUTERS
Artigo traduzido por Val Lisboa para Esquerda Diário.

Os partidos se mostram otimistas apesar de estarem deslegitimados. Com candidaturas como a do ex-jogador de futebol Cuauhtémoc Blanco, a atriz Carmen Salinas e o palhaço ”Lagrimita”, pretendem se consolidar. A frase “circo, pirotecnia e teatro” jamais foi tão literal.

Se por um lado a candidatura de “Lagrimita” tenha sido negada pelo Instituto Nacional Electoral (INE) em parte por denunciar os partidos por serem praticamente iguais – o que revela mais uma vez o caráter extremamente restritivo desta democracia para os ricos –, por outro, é importante assinalar que as outras candidaturas de “celebridades” são apenas uma medida populista para obter a porcentagem mínima de votos para não perder o registro. Chama a atenção, certamente, que a candidatura de Carmen Salinas seja para o sistema proporcional [1]; seguramente estará apadrinhada por algum peixe grande do PRI [2] .

Há pouco, debatemos contra um artigo de Octavio Rodríguez Araujo, no qual declarava (como dizia o título) que “a abstenção eleitoral beneficiará o Partido Revolucionário Institucional (PRI)”.

Parece que a paranoia afeta a cabeça da intelectualidade centro-esquerdista mexicana, notavelmente aquela que está ligada a López Obrador e seu Movimiento de Regeneración Nacional (Morena). Dissemos neste diário que não foi em todos os casos em que houve eleições polarizadas que resultaram em vitórias para a (centro)esquerda.

No entanto, isso não impediu amplos setores do Morena e do perredismo [3] (antigos ou atuais) sofrer de histeria temendo que o PRI obtenha a maioria no Congresso devido ao abstencionismo que faria “o jogo da direita” e escondendo-se atrás de argumentos como afirmar que os que defendem o voto nulo (ou o boicote às eleições) não consideram o “custo político”.

De outra parte, a recente iniciativa de reforma da Lei de Águas que tratava da privatização é uma mostra a mais de que o PRI e seus capachos têm o objetivo de vender ao imperialismo os recursos naturais do país.

As previsões econômicas para 2016 não indicam nada bom para a economia global e em especial para a economia do México, vulnerável a fatores como a queda dos preços do petróleo (uma das principais atividades econômicas do país). Isso já foi anunciado por Luis Videgaray, secretário da Fazenda, ao falar em 18 de março sobre a volatilidade da economia nacional no próximo ano.

Considerando isso, mesmo se o PRI obtiver uma “derrota” relativa nas eleições de 2015 (ou uma “vitória” relativa, como indicam as pesquisas) e o Congresso resultante seja “equilibrado” entre as forças, não podemos descartar o mesmo cenário de 2013, quando os partidos do Congresso anunciaram o “Pacto pelo México”, isto é, uma aliança dos partidos tendo à frente a figura e o programa de Peña Nieto para poder aprovar as reformas determinadas por Washington, como a reforma educacional e energética.

Boicote, voto nulo, crítico ou útil?

Estas quatro opções são as que se colocam à sociedade mexicana diante de um regime desacreditado.

Alguns atores sociais, como os pais de família dos normalistas de Ayotzinapa, junto com organizações sociais e populares (e que têm forte presença nos estados Guerrero e Oaxaca) propõem o boicote às eleições e impedir que se realizem nesses lugares; no entanto, contra isso o governo mexicano conspira, como se demonstra com a contínua onda repressiva lançada pretendendo garantir um espaço que “blinde” as eleições (como disse Gustavo Madero, dirigente do PAN [4] ).

De outro lado, surgem duas posturas que são faces de uma mesma moeda. De um lado estão os que pretendem dar um voto “crítico” à organização Morena e, de outro, os que, mesmo sem encarar esta organização (ou qualquer setor de “esquerda” dos partidos do Congresso) como uma alternativa, desejam outorgar-lhe um voto “útil” ou “consciente”. Ou seja, desejam “conscientizar-se” de como os partidos menores (ou o Morena) fazem política para dar-lhes o voto e equilibrar o Congresso.

Entretanto, ambas posturas são parte da lógica do “mal menor”. Dissemos antes que nada descarta um cenário parecido ao da formação do “Pacto pelo México”, mas mesmo que não ocorra essa variável os partidos arranjariam formas de golpear as massas mexicanas.

Pouco importa como o Movimento Ciudadano, Morena, Partido Humanista ou o Partido Encuentro Social justifiquem suas adesões ou rechaços às leis nas câmaras; todos velam pelos interesses dos empresários e da casta política, e nenhum deles questiona a fundo esta democracia bárbara. Somente diferem nos ritmos em como aprovar as reformas, mas tanto o PRI e seus aliados (Partido Nueva Alianza, Partido Verde Ecologista de México etc.) como a ala “esquerda” (Partido de la Revolución Democrática, Morena, Partido del Trabajo, Movimiento Ciudadano) e os novos partidos (Encuentro Social e Humanista) [5] não questionam que o México continue subjugado econômica e politicamente ao imperialismo estadunidense.

Com o pretexto dos altos e baixos da economia mundial é provável que o Congresso aprove leis contrárias aos trabalhadores e as massas mexicanas, mesmo que com um “balanceamento” em seu conteúdo contra o “setor privatizador”.

Por isso, nesta coluna temos insistido em impulsionar o repúdio às eleições que se está expressando no arco opositor aos partidos tradicionais; ao mesmo tempo em que considerarmos válidas outras propostas de oposição à enganação eleitoral, propomos a anulação do voto como forma de expressar o descontentamento que se viu nas ruas e por uma campanha militante.

Diante da falta de alternativas independentes e que respondam às necessidades reais dos trabalhadores e das massas mexicanas, nestas eleições, o setor que encara com desconfiança todas as instituições e partidos políticos deve construir sua própria ferramenta a serviço dos trabalhadores, para a vitória de suas lutas.

 
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