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ARTE E POESIA
Poesias TRANS: A arte da resistência I
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Neste dia da Visibilidade TRANS, publicamos dezenas de poesias sobre vivências e experiências para transformar em arte e em resistência a luta diária pela vida e pelos nossos direitos.

Inconfortável

Inocência
Desprotege
Não vê, não percebe
Descobre-se estranho
Pelo outro
E doí
Ver em outros olhos
Sua caricatura
Quem entenderia
Tamanha loucura
Acreditar ser
O que realmente se quer ser
Não lhe o que está (im)posto
Pois, se desperta desgosto
Melhor
Pois sigo do lado oposto

Virgínia Guitzel

Transfobia

Risadas sem graça
Incômodo próprio
Imagina ou entende?

Riem dele
Porque riram de mim
Disseram algo,
Mais ou menos assim
Onde já se viu
Rapaz tão bonito
Com aquele traveco ali?

Se ouviu
Não sei, também não importa
A coragem que lhe faltou
Eu não tive escolha
Sempre por conta
Sei
Ha que resistir

Virgínia Guitzel

Colorir

Faltará tinta
No dia que o céu for livre
Pra todos serem o que são
Cobertos pelo sol, sem nenhum tipo de opressão
Faltará nomes
Pra descrever o mundo sem as misérias
O que sentimos, o que nos tornamos
O novo ser sem medo de viver
Faltará a falta que nos entristece
Que hoje enche o peito de vazio e fumaça
Não faltará amor, não faltará sonhos
O novo mundo se abrirá para o futuro
Onde o presente dominará o passado
E nossos corações enfim serão salvos

Virgínia Guitzel

Se o futuro nos pertence

Se o amor fosse livre
Talvez não houvesse o medo
Curioso sonho
Viver sem este mal desespero

Se as pessoas fossem livres
Talvez não houvesse o receio
Ardilosa vontade
Viver a vida por inteiro

Se o mundo fosse livre
Poderíamos reiventa-lo
Seríamos então seres humanos
Melhor preparados
Menos frustrados
Mais amados

Se este poema fosse lido
Talvez lhe trouxesse um sorriso
Em troca de um desabafo perdido
Encontraria um antigo sonho de um oprimido

Virgínia Guitzel

Suicídio da Alma

Nem tempo pra suspiro
Só o ódio
Pra nos manter vivos
Hoje, só o ódio

No chão, a travesti morre
Ninguém jamais saberá seu nome
Nos jornais, fala-se de outra morte
De tal homem que ninguém conheceu
A versão dos verme é de suicídio ou qualquer crime que cometeu

No peito já não cabe mais
Atada das mãos a voz
O revide parece tão pequeno perto do mal que nos traz
Só sobreviver, não satisfaz

O ódio vai consumindo
Cada dia mais subtraindo
Não existiu paz até então
Nos levantamos e lutemos irmão

Desejo é de vingar
E de morrer em seguida
Dar um fim nestes vermes
Sem legitimar essa vida

Nem tempo pra suspiro
Só o ódio
Já não pode nos manter vivos
Hoje, só o ódio
É tudo que sinto

Atiro-me
Na cabeça
Fim de festa
Senão deu pra ir mais longe
Fui só mais uma, apenas essa
Satisfeita, mas longe do sonho que carreguei
Quem dera fosse o amor o sentimento que despertei

Mas a vida é concreta, não me esqueço
Senão pude concluir nosso plano
Torço pelos que seguirão lutando
A morte será meu alívio, tão necessário
É... Fim de papo

Virgínia Guitzel

Dívida Eterna

Minha vida
É uma luta política
Sobrevivi com pouca de vida
Que foi deixada pra garantir o capitalismo

Metade da vida roubada
Por uma ciência falsa
Que não se preocupa com nossa identidade
Desfarça no sofrimento uma desigual igualdade

Aos negros e negras
Lhes devem a alma
Séculos de patriarcado
Não nos pagam nunca
Aumentam apenas nosso ódio

As minhas irmãs e irmãos
Sem identidade e corpos saudáveis
O futuro é lindo, porque deixará no passado
O gosto amargo do transfeminicidio
Do infinito labirinto
Que esconde a mais linda flor
Que no caminho broxou
Por não ter padrão

Dívida permanente
A morte não é recompensa
Na guerra entre as classes
Seremos a linha de frente
É um campo de batalha
Todos os dias nosso ódio reacende
Contra o Estado e a polícia
Somos conscientes

Virgínia Guitzel

Foda-se?

Pare de procurar em mim outro corpo
É este que me fiz pra mim
Senão agradas meu ser
Aceitemos que é o fim

Foda-se?
Não fala, não se importa, não sente
Foda-se
Não vê além dos seus próprios interesses

Encarar a vida e as relações de frente
Desafia a coragem, o sentimento e a mente
Mas se quero me impor como independente
Sua escolha já se entende

Nenhum passo amais de humilhação
Não me reduza pra caber neste formato
Não se esforce pra ser gentil
A corrente seguirá em silêncio
Nenhuma palavra, suspiro ou tabaco

Está é a escolha que fizemos
Viver sem ter um diálogo
Triste é saber que dos amores
O meu é sempre o mais raso

Virgínia Guitzel

Orgulho Trans

Bate no peito e grita

O peito também se constrói
A fortaleza não ignora o choro
Mas levanta pra buscar o novo

Parecia ser pra se completar
Encontrar-se em si
Mas não me basto em mim
Há um mundo afora pronto a explodir

Eu compraria as flores eu mesma
Para dizer que me fiz assim
Ousar ser sem deixar de sonhar
Escolhi não ser metade
Construí em mim o que fui capaz

Luta diária
Menos uma Laura
Ou seria mais uma Laura?
Nenhuma trans a menos
Ou pra nenhuma trans amais?

Viver
Plenamente
A busca que não se desfaz
Corre dentro de mim
Mais que Hormônios e sonhos

Viver plenamente
Com orgulho da luta
Da vida
Carregando em mim
Cada uma trans vitima
Cada camarada amiga
Cada verso que descobre a escrita
E grita
A travesti também quer fazer poesia

Virgínia Guitzel

Um brinde

Meu corpo
Um campo de batalha
Chora, grita e sente
Combate de forma valente
Todo o dia
A mesma e nova transfobia

Me constroi
Cada dia mais uma batalha
Venço, perco, segue empatado
Do lado de ca me fortaleço
Mas eles crescem, não me esqueço

Na mira, sigo perseguida
O corpo, as regras, as normas
Evidência
Hetero, cis, burguês
Essa moral em mim se desfez

Corta, mutila, hormoniza
Transforma a cada dia
De forma desigual é impedida
De ser plenamente reconhecida
Da miséria destinada
À insurreição organizada
Se levanta, me levanto

Sei, nasci pra ser sujeito
Escolhi, decidi, quis ser eu mesma
Me tornei abjeto
Parece comum
Um ser que não parece merecer afeto

A nós, um brinde
Guerreiras sobreviventes
Mais um dia
No campo de batalha
Da vida
Do corpo
Da alma

Virgínia Guitzel

Amor Trans

Sinto, mas prefiro negar-me
Sou apenas um terço de realidade
O resto é sonho e a saudade
Dos momentos que tive coragem

Você me penetrou
Com os olhos, a boca, as mãos
Tirou-me a roupa, o ar e a dor
Fiquei então, só por inteira

Da minha auto negação
Vi de dentro a própria opressão
Não há saída , nem acompanhante
Não te quero em risco, doce amante

Sempre a outra, iludida com minha poesia
Não sai do caderno, não te chega a rima
O gosto da invisibilidade não amortece
Todos os dias, meu coração aperta e nunca se esquece

Não devo amar
Não devo amar

Virgínia Guitzel

Cordel – Travesti não é bagunça

Por Jarid Arraes

Quase todo mundo sabe
O que é uma travesti
Mas se faz de ignorante
Pra xingar e pra agredir
Porque sente intolerância
Por quem sabe transgredir.

Travesti não é uma coisa
Nem um bicho anormal
É somente uma pessoa
Com força fenomenal
Que se assume como é
E que vive tal e qual.

Muita gente vai pensando
Que é dona da verdade
Sai julgando a vida alheia
Com muita facilidade
Com nóia de pode-tudo
Em toda oportunidade.

Essa gente amargurada
Desconhece a realidade
Não sabe que a travesti
Enfrenta a dificuldade
Passando por violência
Sem receber caridade.

Muitas não podem estudar
Pois na escola vão sofrer
Com deboche e exclusão
De pequena até crescer
Porque a tal educação
Só uns poucos podem ter.

As famílias não aceitam
E as expulsam de casa
Muitas que vão para a rua
Foram antes deserdadas
Sem saída e sem carinho
Acabaram abandonadas.

Tantas ficam sem escolha
Vão pra prostituição
Pois só assim tem dinheiro
Pra comprar a refeição
Não que isso seja errado
Mas não há muita opção.

O estigma é criado
Faz-se o dito popular:
Travesti é tudo puta
Não se pode respeitar
E o povo pra agredir
Chega até a espancar.

Muitas são assassinadas
Sem a chance de viver
Só porque não são iguais
Aos que querem prescrever
Um jeito certo pra tudo
Sem a nada compreender.

Isso tudo é lamentável
É tão triste e revoltante
Travesti também é gente
Ser humano e importante
Quem não pensa desse jeito
É que é intolerante.

Não há nada nesse mundo
Que possa justificar
A falta de sentimento
De quem deseja matar
Seja o corpo que se toca
Ou a gana de sonhar.

Não tem nada horroroso
Em querer ser diferente
No mundo tem muita regra
Que não se faz coerente
Ser homem ou ser mulher
Não é marca com patente.

E por isso as travestis
Podem ser como quiserem
São livres desimpedidas
Onde quer que estiverem
Para mim são bem mulheres
Se isso também proferem.

O que temos que fazer
Para paz proporcionar
É ensinar nas escolas
Que se deve respeitar
E acolher com afeto
A travesti que estudar.

Pois não há nada melhor
Do que a pura educação
Para despertar carinho
E passar informação
Além de proporcionar
Caminho pra profissão.

Com acesso ao ensino
Travestis podem escolher
O que desejam da vida
Qual emprego querem ter
Se for prostituição
Então também pode ser.

O que importa é gerar
Várias possibilidades
Não apenas para poucos
Que tem mais facilidade
Mas pra todas as pessoas
Lá no campo ou na cidade.

Travesti também merece
Uma digna existência
Pois os direitos humanos
Não são de ambivalência
Valem para todo mundo
Com muita polivalência.

Se você abrir os olhos
Na internet pesquisar
Acabará encontrando
Muitos fatos de assustar
E verá por conta própria
Tanto pra se lamentar.

É espancamento e morte
Preconceito e exclusão
É um ódio muito extremo
Chega dói no coração
Isso tudo é crueldade
Essa é minha conclusão.

Se você não compreende
Não consegue aceitar
Vou te dar alguma dica
Para então facilitar
O seu puro raciocínio
Que deve se iniciar.

Travestis são como eu
Também são como você
Gostam de felicidade
Nisso você pode crer
Vivem procurando paz
Para enfim sobreviver.

Travestis são talentosas
Alegres e inteligentes
Criativas e esforçadas
Com espírito insurgente
Sabem vencer a batalha
Contra o ódio incoerente.

Não há nada de errado
Não há nada de anormal
Cada um deve ser livre
De sua vida o maioral
Porque liberdade plena
Sempre é primordial.

Quando vir uma travesti
Tenha muita gentileza
Ponha-se em seu lugar
Aja assim com esperteza
Só quem sabe respeitar
É que vive com grandeza.

Também vou lhe convocar
Para se juntar à luta
E falar aos sete ventos
Provocando essa escuta
Pelo bem, pela igualdade
Pelo fim dessa labuta.

Quando tiver uma chance
Fale em prol da travesti
Diga que aprendeu comigo
E sem medo de insistir
Não aceite preconceito
Que não deve coexistir.

Pra acabar o meu cordel
Uso uma chave de ouro
Pois nessa literatura
Travesti é um tesouro
Pra nossa diversidade
Trazem muito bom agouro.

Se não concordar comigo
Deixe logo de furdunça
Pois não tenho paciência
Pra trepeça, nem jagunça
O recado é muito claro:
Travesti não é bagunça!

FIM

 
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