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OPINIÃO
O que fazem os militares nos esportes olímpicos?
Thiago Flamé
São Paulo

O Ministério da Defesa está disputando uma competição à parte em Tóquio. No site do MD podemos acompanhar o desempenho dos atletas militares em comparação com os atletas civis. Justamente as forças armadas, que combatem toda luta contra o machismo, o racismo e condenam a luta da classe trabalhadora, que acusam de dividir a “nação”, não titubeiam em segmentar atletas civis de militares. Mas em função do que está essa disputa?

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Até agora os atletas militares não tiveram o desempenho esperado pelos comandos militares ao fazer esse quadro próprio de medalhas. Ainda esperam a medalha masculina e feminina no boxe para se equiparar aos atletas civis. Se os milicos ainda correm atrás do resultado, quem já fez história em Tóquio foram as mulheres – ou na verdade meninas – negras, que trouxeram o ouro inédito para a ginastica artística feminina, além da prata também no skate.

Alias, não fosse o ouro no surf e as duas pratas do skate, a delegação brasileira não teria mais chances de equiparar ou superar o desempenho brasileiro nos jogos de 2016, a maior marca da história, com 19 medalhas sendo 7 de ouro. Ou seja, modalidades novas em que o Brasil é uma potência graças a juventude preta e pobre das periferias e litorais que encontra na prancha ou no shape do skate suas únicas opções de lazer. São por esses e essas jovens que, se se confirmar o ouro no volei feminino e nas duas disputas do boxe, o Brasil terá alcançado sua melhor marca na história dos jogos. Sob o som de “baile de favela”, esse mesmo baile sistematicamente reprimido pelos militares, Rebeca moradora da cidade de Guarulhos na grande São Paulo, trouxe a prata no individual geral e depois o ouro no salto, e praticando o esporte da juventude das periferias que já foi até proibido em São Paulo e até hoje é reprimido pela PM, que a Rayssa, com apenas 13 anos, trouxe a prata. Foram os pontos altos da participação olímpica do Brasil, com destaque para a recusa da “fadinha” do skate em posar para fotos com políticos locais, que não tiveram nenhuma participação nessa conquista.

As forças armadas, desde 2008/09, ainda sob o governo Lula, passaram a ter seu próprio programa de incentivo ao esporte. Só que na verdade, mais do que impulsionar o esporte, o que está por trás da iniciativa das forças armadas é a esperança de provar a superioridade dos métodos militares e de caserna, reforçar a lenda da superioridade dos militares em todos os terrenos. Já a lenda da capacidade administrativa dos militares brasileiros caiu por terra com a gestão do general Pazuello na saúde e Tóquio está golpeando a autoestima dos militares nos esportes.

No programa Paar, as forças armadas pagam um soldo de R$3800 reais ao atleta de alto rendimento, que ao entrar no programa se tornam sargentos, se submetem a disciplina militar e se comprometem a concorrer nos jogos olímpicos militares. Além desse programa, as forças armadas também têm um programa para jovens carentes, de incentivo à prática esportiva. Não faz sentido nenhum que as forças armadas se envolvam em programas esportivos e que os atletas tenham que carregar nas costas o peso da disciplina militar. As continências no pódio olímpico e as declarações de atletas militares como Arthur Zanetti, de que se os governos investissem mais nos esportes poderiam investir menos no combate à pandemia por que isso diminuiria a obesidade da população (sim, ele falou isso!), são consequências da militarização em curso no Brasil em vários âmbitos da vida. O espírito de caserna e a burrice militar são um desastre, na política, no esporte ou em qualquer âmbito. Os valores dos soldos e todos os benefícios que têm os atletas de programa Paar, todos esses recursos deveriam ser revertidos para o incentivo ao esporte em geral, e não para fortalecer o enorme peso dos militares na sociedade brasileira.

É verdade também e não podemos nos esquecer que como dissemos, a militarização do esporte de alto rendimento no Brasil não começou com Bolsonaro, ou com Temer. Começou com Lula, que esperava que satisfazendo as vontades dos comandos militares teria garantida sua simpatia. Mas esse programa, que nada tem a ver com o incentivo ao esporte, foi utilizado para fortalecer o prestígio dos militares e a lenda da sua eficiência superior. Não será o PT no governo que vai dar marcha atrás nesse processo.

São nossas Rayssas e Rebecas que continuam sendo reprimidas pelos militares nos bailes e praças das periferias, é a juventude, que em aliança com a classe trabalhadora e todos os povos oprimidos do Brasil que com a força da sua luta, da sua organização e da sua mobilização podem para o curso da militarização dos esportes e da política no Brasil. Se queremos mais Fadinhas e menos “Zanettis” nos nossos esportes olímpicos, também isso precisaremos conquistar com a nossa luta.

 
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