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Editorial MRT
Fila do osso é símbolo da barbárie capitalista: por um plano de luta já
Diana Assunção
São Paulo | @dianaassuncaoED

Bolsonaro mergulha no Centrão com indicação de Ciro Nogueira e flerta para entrar no PP; o Congresso Nacional em recesso prepara novos ataques para agosto e a pandemia que segue somando mortos também escancara a discriminação dos bairros populares na vacinação. Enquanto isso, vimos uma das cenas mais chocantes dos últimos tempos: a fila do osso na luta contra a fome.

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São quase 550 mil mortos pela pandemia no Brasil e quase 20 milhões de brasileiros passando fome. Mas a agenda de todas as instituições do regime político é outra: O que há de comum entre todos, desde o Congresso Nacional, o STF, a maioria dos governadores, os militares, Bolsonaro e Mourão é o plano de ajustes para descarregar ainda mais a crise nas nossas costas. As reformas administrativa e tributária estão esperando terminar o recesso para dar novos passos, assim como as privatizações em curso que atingem os Correios e a Eletrobrás, além da ofensiva de medidas contra os povos indígenas.

Contra estes ataques vimos ao longo dos últimos meses manifestações reunindo dezenas de milhares em centenas de cidades pelo país para rechaçar o governo Bolsonaro. A última manifestação no dia 24J expressou, entretanto, uma diminuição de tamanho em relação aos atos anteriores. Parte dos organizadores dos atos (da Frente Povo Sem Medo) explicam essa diminuição falando do recesso no Congresso e a interrupção dos trabalhos na CPI da Covid, provocando certo desgaste das manifestações. Todavia, na realidade, a diminuição é fruto direto da política das direções das centrais sindicais e organizações que burocraticamente dirigem e controlam essas manifestações.

O descontentamento social com a situação pandêmica, os ataques, a fome e os escândalos de corrupção envolvendo o governo Bolsonaro-Mourão obrigaram essas direções a convocar manifestações, mas sempre o fizeram de forma espaçada, com datas distantes entre os atos - apenas aos finais de semana - dividindo trabalhadores e juventude e sem nenhum tipo de organização de base. Tudo é decidido em reuniões de cúpula com o objetivo de fortalecer a CPI da Covid, uma instituição cheia de golpistas, e pressionar pelo impeachment, o que não derrubaria o governo de Bolsonaro e Mourão - no máximo trocando um pelo outro.

Além disso, é preciso apontar que a presença da direita nos atos, que tem o aval do PT e PCdoB, e é defendida veementemente por organizações de esquerda como o PSOL, o PSTU e o PCB, aumentou na mesma proporção em que a última manifestação diminuiu. Com a promessa de amplitude, a presença da direita na realidade enfraquece a nossa luta porque se trata de interesses opostos aos dos trabalhadores e da juventude: hoje se opõe a Bolsonaro porque consideram que ele já não serve para implementar a quantidade de ataques necessários para garantir os lucros dos empresários e capitalistas que querem seguir “a vida boa” enquanto a população passa fome e sofre com o trabalho precário e o desemprego. Porém, agora mesmo estão juntos votando as privatizações, reformas e ataques aos indígenas.

Essa política, que na prática busca subordinar a nossa luta contra Bolsonaro e Mourão a uma estratégia eleitoral para a candidatura de Lula em 2022, torna-se ainda mais criminosa quando vemos as cenas chocantes de famílias inteiras em uma fila do osso em Cuiabá e outras cidades do país para poder comer algum retalho de carne. É a pura barbárie capitalista num país em que o agronegócio lucra bilhões e onde recentemente Bolsonaro ostentou uma picanha de quase 2 mil reais.

Enquanto isso, os militares, reagindo à crise política aberta com a corrupção das vacinas, fazem ameaças golpistas, endossando o discurso de Bolsonaro e reafirmando sua sustentação ao governo. Ao mesmo tempo, Bolsonaro mergulha no Centrão com a indicação de Ciro Nogueira e a possibilidade de filiação no PP, mostrando que vai precisar mais uma vez se disciplinar aos partidos fisiológicos para continuar no poder e manter essas mesmas instituições como um verdadeiro balcão de negócios dos capitalistas. Eles gerenciam cada um dos lucros e avançam sobre a Amazônia e os povos indígenas, inclusive com militares que impunemente falam de "meter fogo" nos indígenas, frase que inevitavelmente faz reviver a asquerosa morte do Índio Galdino há 24 anos, assassinado por 5 jovens de classe média que atearam fogo em seu corpo e tiveram como advogado ninguém menos que Ibaneis Rocha (MDB) hoje governador do Distrito Federal.

Por tudo isso, todos os trabalhadores, jovens, mulheres, negros, LGBT´s que saíram às ruas em todas as últimas manifestações precisam debater o rumo da energia que dedicam em cada um desses atos. Ninguém vai nas manifestações “a passeio”, portanto é preciso refletir, pensar e lutar pelo rumo que têm as manifestações. Se continuarem sendo como as direções burocráticas querem, essas manifestações tendem a diminuir gradativamente e será desperdiçada a disposição de luta que veio se expressando nas ruas. Mas se conseguimos batalhar por um plano de luta concreto, as manifestações podem combinar diversas ações que poderiam realmente fazer a diferença no embate contra o governo.

E o que seria um plano de luta concreto? Para além das manifestações de rua, que deveriam ser durante a semana para golpear os capitalistas e empresários, um plano de luta começaria por assembleias de base em todos os locais de trabalho e estudo, a organização de uma greve geral, paralisando os grandes bastiões da classe operária brasileira, como a indústria, o transporte e as estatais ameaçadas de privatização, em aliança com todos os trabalhadores, efetivos e terceirizados ameaçados pelas reformas, combinando a luta política contra o governo Bolsonaro-Mourão ao enfrentamento a todo o plano de ajustes e defendendo os direitos dos trabalhadores e da população pobre, como um auxílio emergencial de pelo menos um salário mínimo. Com um plano de luta assim, não haverá espaço para a direita que quer cada vez mais ataques contra nós.

Para que isso se efetive, é preciso batalhar pela frente única operária, ou seja, a unidade de todos os trabalhadores e sindicatos em um enfrentamento comum contra os ataques em curso. Há uma parcela importante de trabalhadores e jovens que consideram que Lula irá resolver todos os problemas em 2022. Nós acreditamos que não: por um lado os ataques estão ocorrendo agora e exigem uma luta imediata, por outro lado Lula está negociando com toda velha direita como Sarney, Kassab e FHC para administrar esse mesmo regime do golpe institucional de 2016, perdoando esses golpistas que encabeçaram o impeachment e voltando a ter a direita como base do governo, mesma política que abriu espaço para o fortalecimento do agronegócio, das Forças Armadas, da bancada evangélica e do judiciário, símbolos deste golpe institucional que pavimentou a entrada de Bolsonaro no poder.

Mesmo com essas diferenças, consideramos fundamental a unidade dos trabalhadores para enfrentar os ataques que estão em curso agora, por isso consideramos que a esquerda precisaria colocar de pé um Comitê Pela Greve Geral para se dirigir aos trabalhadores que estão na base dessas grandes centrais sindicais, como a CUT e a CTB dirigidas pelo PT e pelo PCdoB, para mostrar a necessidade de exigir de suas direções um plano de luta agora, efetivo, real, pela base. Os sindicatos dirigidos pela CSP-Conlutas e Intersindicais poderiam votar esse plano de luta: imaginem milhares de sindicatos pelo país aprovando a necessidade de uma greve geral com plano de luta pela base? Nesse processo, o nosso programa para derrotar Bolsonaro e Mourão é pela força da mobilização, já que um impeachment dependeria de um grande acordo nacional no Congresso e terminaria, na prática, colocando o racista general Mourão no poder.

O alento que faltou para que as mobilizações dessem um novo salto de qualidade, também não está descolado dos objetivos. Enquanto setores da esquerda se preocupavam em defender a presença de burgueses e golpistas no ato, como o PSDB em SP, faltou uma alternativa que chamasse a juventude e os trabalhadores para varrer todo o regime do golpe. Por isso, para derrotar todos os ataques, consideramos que a força da nossa luta deve impor uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, dissolvendo todas essas instituições atuais que nos atacam e exercendo a soberania popular diante dos grandes problemas do país, congelando o preço dos alimentos e confiscando os estoques do agronegócio, proibindo as demissões, revogando todas as reformas anti-operárias e projetos de leis contra os indígenas. Todas medidas que expressariam a vontade da maioria da população e que para se efetivarem exigiria a auto-organização das massas, a fim de se enfrentar com toda repressão estatal que está disposta a nos massacrar para garantir os lucros dos capitalistas e sua propriedade privada. Desse enfrentamento ficariam evidentes os interesses de cada classe e a necessidade de lutar por um governo de trabalhadores de ruptura com o capitalismo. Essa é a batalha que nós do MRT e do Esquerda Diário levamos adiante e por isso convidamos você a lutar por essas ideias conosco e ser parte da nossa Comunidade.

 
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