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MEIO AMBIENTE
Passando a boiada: Salles e agronegócio se reúnem em Goiás para privatizar a SANEAGO
Rosa Linh
Estudante de Relações Internacionais na UnB
Comitê Esquerda Diário DF/GO
Cris Libertad
Professora da rede estadual em Anápolis - GO.

Unindo Salles, militares, o governador Ronaldo Caiado (DEM/GO), centrão, agronegócio e a burguesia do comércio e serviços, ocorreu em Goiânia o simpósio “Desafios ao Equilíbrio entre Preservação Ambiental e Desenvolvimento Econômico”. Na realidade, tratou-se de um grande comício ultrarreacionário a favor das reformas, privatizações e da destruição do meio-ambiente. Dentre os objetivos do evento, estava indicar a privatização da SANEAGO, empresa estatal de saneamento básico goiana.

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Na última terça (1), Goiânia sediou um evento um tanto peculiar no que se refere à coerência. Organizado pelo militar e deputado federal Major Vitor Hugo (PSL-GO) , a FeComércio Goiás (Federação do Comércio do Estado de Goiás), com massiva participação de representantes do agronegócio goiano, promoveu um simpósio intitulado: “Desafios ao Equilíbrio entre Preservação Ambiental e Desenvolvimento Econômico”. Para debater como passar ainda mais a boiada, o evento unificou a burguesia do comércio, os militares, o agronegócio, a ala ideológica dos ministros bolsonaristas com Ricardo Salles, o governador Ronaldo Caiado, o centrão, o SICOOB (Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil) e o SECOVI Goiás (Sindicato dos Condomínios e Imobiliárias de Goiás). Outros participantes a se destacar: a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) que também preside a Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural na Câmara; o deputado federal Evair Melo (PP-ES) que foi presidente da Comissão Especial que analisou o PL 3261/19 para atualização do Marco do Saneamento Básico; a deputada federal Aline Sleutjes (PSL-PR) que é presidente da Comissão do Meio Ambiente na Câmara; os ministros Bento Albuquerque (Ministro de Minas e Energia) e Rogério Marinho (Ministro do Desenvolvimento Regional) também marcaram presença, assim como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM-GO), mas que não foi presencialmente.

Algo que foi amplamente mencionado foi o Novo Marco Legal do Saneamento Básico - uma legislação reacionária que abre as porteiras para a privatização da água e saneamento em meio à uma pandemia! Os sinais evidenciam que a SANEAGO (Companhia de Saneamento de Goiás), esteja sob os radares dos chacais privatistas deste regime golpista. Não é de se estranhar que ontem (2), foi aprovado pela Assembleia Legislativa de Goiás o projeto que enquadra a SANEAGO às regras do novo marco do Saneamento. Entretanto, para esses senhores, a premissa para o fracasso das políticas de saneamento básico brasileiras, se encontram na ausência das privatizações. Um dos principais promotores do simpósio, o presidente da FeComércio, Marcelo Baiocchi já declarou a preocupação dos setores comerciais e industriais com a previsão de seca para o estado de Goiás, que está entre os cinco em alerta de emergência hídrica para os meses entre junho e setembro de 2021. A preocupação de Baiocchi se situa nos lucros de seus filiados, que estão entre os principais responsáveis pela poluição e a degradação ambiental, que têm por consequências secas cada vez mais longas no Centro-Oeste e que atingem em cheio os trabalhadores e o povo pobre, sobretudo, as mulheres, as negras, os negros, trabalhadoras e trabalhadores. A região metropolitana de Goiânia e dos maiores municípios como Anápolis (cerca de 60 km de Goiânia) já esperam todos os anos a constante falta d’água que pode se estender por dias e até semanas e também o aumento das tarifas. A exaltação pela privatização de serviços básicos, como podemos ver através de vários exemplos em Goiás e no Brasil, só vem para penalizar a nossa classe.

O exemplo da recente e criminosa privatização da CEDAE (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro) e agora com a publicação do edital de concessão do sistema de saneamento básico do Amapá liberado pelo BNDES para jogar nas mãos da iniciativa privada, o bem mais precioso da população que é a água, deixando nas mãos dessas empresas que obviamente visam os lucros, o aumento de tarifas e a precarização de serviços que deveriam ser direitos básicos e garantidos. Goiás, já sofre intensamente com os serviços prestados pela companhia de distribuição de energia elétrica (antiga CELG, hoje ENEL), que foi privatizada em 2017 pelo governo do tucano Marconi Perillo e é considerada uma das piores empresas do país na prestação deste tipo de serviço, e pode ver agora, os serviços da companhia de distribuição de água e saneamento, ser privatizada nos marcos de uma crise hídrica.

O simpósio, nesse sentido, foi um grande comício de diferentes alas do regime golpista de como atacar a classe trabalhadora e destruir o meio-ambiente - mas com um verniz ambiental cínico. Com discursos demagógicos sobre fome e emprego - no estado com produção agropecuária recorde em 2020 e com 10% da população vivendo com R$ 10/dia - biocombustíveis (poucos dias depois da greve da Petrobras Biocombustível) e o tom anti-esquerda e antipetista de sempre, Salles foi o grande entusiasta da barbárie ambiental que o agronegócio racista promove. Basta lembrarmos dos garimpeiros que perseguem e matam os indígenas Yanomami. Todos, sem exceção, exaltaram a importância das reformas implementadas pelo governo Bolsonaro e impulsionadas pelo Chicago boy, Paulo Guedes. Além disso, o agro foi amplamente reivindicado como sendo o principal setor responsável pela economia nacional e o possível “salvador” da crise no pós-pandemia, por isso a defesa de mais agrotóxicos, regularização fundiária e o FIAGRO - fundo de investimento que visa ampliar ainda mais a mamata e a devastação do agronegócio. Na verdade, se trata de um projeto racista e o ecocídio de transformar o Brasil na fazenda do mundo ainda mais subserviente ao imperialismo. Aqui reside inclusive o valor da presença de Ricardo Salles em tão distinto evento, foi comum entre os convidados a exaltação da política implementada por Salles e Bolsonaro na pasta do meio-ambiente. “Por décadas o Brasil estaria estacionado e impedido de seguir com o crescimento expansivo do agronegócio em razão da existência de ONG’s”, disse um dos palestrantes. O que sabemos é, sobretudo, da atuação de Salles para o desmonte dos órgãos de fiscalização de desmatamento ambiental, que permitiu ao agronegócio seus recordes.

A lei de licenciamento ambiental, foi profusamente citada, como um entrave para todo o agronegócio nacional. Estabelecida pela lei nº 6.938 de 1981, o licenciamento ambiental é um instrumento que tem como principal objetivo assegurar "condições de desenvolvimento socioeconômico". Tal procedimento objetiva-se à liberação pelos órgãos ambientais, licenciar a instalação, ampliação e a operação de empreendimentos que utilizem recursos ambientais, que possam potencializar a poluição do meio-ambiente. Por isso, é considerada um empecilho para os grandes produtores no país. Ontem (2), a Comissão de Meio Ambiente do Senado (CMA), iniciou os debates para as mudanças nas regras de licenciamento ambiental de um projeto de lei antigo, o PL 3.729/2004 que já foi aprovado na Câmara dos Deputados e vinha sendo bastante comemorado nos discursos do simpósio. Afinal, barreiras que ainda possam existir para a total degradação do Cerrado e demais biomas nacionais são um atraso para o agronegócio, que nas falas do evento, demonstra bem os seus principais interesses que se situam na célebre frase de Salles, de passar a boiada.

A reunião de tantas figuras reacionárias ligadas ao espectro bolsonarista também não poderia deixar de ter o governador Ronaldo Caiado, que foi eleito em 2018 na esteira da onda bolsonarista e ainda que no início da pandemia tenha ensaiado um rompimento com o genocida, jamais se afastou do governo, ou mesmo aplicou quaisquer medidas de combate à pandemia. Mas, nada fora do esperado de um político demagogo e parasita da política goiana e brasileira há décadas, o que podemos analisar dessa aproximação - embora o governador em pessoa não tenha comparecido ao evento, enviou um representante -, é em razão de uma pesquisa publicada recentemente que aponta a satisfação dos empresários goianos com a gestão de Bolsonaro, algo em torno de 60% enquanto a gestão de Caiado tem a desaprovação de quase 58% desse setor, e visando as eleições de 2022, o democrata busca ampliar a sua aceitação junto à esses setores.

Esse evento odioso demonstra o quanto são asquerosos os projetos bolsonaristas de Salles e o agronegócio. Mas também indicam que não podemos confiar em nenhuma ala desse regime golpistas! Bolsonaro, Mourão, militares, Congresso e STF estão todos juntos com o agronegócio quando o assunto é acabar com o licenciamento ambiental, privatizar, aprovar reformas e descarregar a crise nas costas da classe trabalhadora. Depois da manifestação do agronegócio bolsonarista no começo do mês passado, apenas a organização da classe trabalhadora por cada local de trabalho se aliando com os estudantes que protagonizaram o 29M é que podemos retomar as ruas pela esquerda e dizer em alto e bom som: a boiada não vai passar! Por isso é fundamental que a CUT, a CTB e a UNE unifiquem a luta e mobilizem uma paralisação nacional contra os cortes nas universidades, as privatizações e reformas.

Leia mais: Por uma nova Constituinte para pôr abaixo a “festa” de Bolsonaro, Centrão e do Agronegócio

 
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