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AERONAUTAS
O que o Comunismo ensina para os trabalhadores da Aviação
Antonia Ramos
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Em todos os lugares nos quais se pesquisa sobre comissários de voo, encontramos promessas de que a profissão te permite realizar o sonho de voar. É com este discurso que o futuro tripulante se prepara, numa escola que oferece o curso de comissário de voo, para trabalhar numa companhia aérea.
Gostaria de mostrar aqui como a ideologia burguesa atua para impedir a categoria de se reconhecer como trabalhadores.

Se o candidato vai realizar o sonho de voar, ele não é uma pessoa comum, e sim um vencedor, de acordo com os setores de contratação e mais adiante, os que ministram os treinamentos necessários. E, se quem entra são os “vencedores”, os demais, que não conseguem entrar numa cia. aérea, são “perdedores”. Ou seja, é como se os tripulantes de aeronaves fossem seres superiores.

É exatamente este o tipo de narrativa que divide a classe trabalhadora e serve apenas aos interesses dos patrões para atacar os direitos, os nossos e os de todo o resto da nossa classe. Se o sistema capitalista permite dar a uma parte da classe trabalhadora mais do que a outras, não é porque os patrões são bonzinhos, e sim para que esses trabalhadores se embriaguem com o discurso patronal e com um salário mais alto e, assim, pensem que cada um pode ascender individualmente e que basta “se esforçar” e “merecer” para melhorar de vida.

Na verdade, quem colhe os frutos desses esforços são só os patrões. Ser comunista é, antes de mais nada, se opor a essa divisão, a essa concorrência entre nós, e entender que não conseguiremos nada nessa lógica do “cada um por si”, porque temos interesses em comum e estes interesses são contrários aos interesses dos patrões. Temos visto isso na pandemia, quando eles não tiveram o menor pudor de atacar nossos direitos e até nos demitir, mesmo tendo recebido auxílio financeiro dos governos.

Mas esta não é uma realidade só dos trabalhadores da aviação, mas de toda a classe trabalhadora. Nas fábricas, em serviços essenciais como a saúde e outros setores dos transportes, nas escolas e etc. Ser comunista é saber que nossa realidade é a mesma de todos esses locais. O que une a todos nós é o mesmo que nos opõe a toda a classe capitalista e a este Estado que é dela e não nosso: o fato de que vivem às custas do nosso trabalho. Somos nós, trabalhadores, que movemos o mundo, arriscando as nossas vidas dia após dia, inclusive, enquanto eles não fazem a menor falta, quarentenados nas suas mansões. E se somos nós que movemos o mundo, podemos movê-lo sem eles, gerindo nós mesmos os aeroportos, os hospitais, as escolas e as fábricas, e de um jeito que tudo isso sirva não para que alguns poucos enriqueçam, mas para atender as necessidades reais da gente. Isto é o comunismo!
Temos medo do vírus. Tememos por nós mesmos, por nossos familiares e entes queridos. Mas também tememos o desemprego e a fome. Não precisaríamos ter medo de nenhuma destas coisas se controlássemos nossos locais de trabalho se diminuíssemos a jornada de trabalho, dividindo todo o trabalho a ser feito entre todos que queiram trabalhar, diminuindo a sobrecarga de trabalho e aumentando a rotatividade, para que cada um de nós fique menos exposto ao vírus. Assim, todo mundo trabalharia, e trabalharia menos! Não faz sentido termos que passar tanto tempo da nossa vida no trabalho enquanto tem tanta gente que quer trabalhar e não consegue. Mas os patrões preferem nos espremer até a última gota de suor porque é mais lucrativo.

Para alguns, isso tudo pode parecer distante ou utópico, ainda mais neste momento ultrarreacionário do país, e também porque os sindicatos e os partidos de esquerda, mesmo aqueles que se dizem comunistas, não estão organizando a resistência contra os ataques dos patrões, que aumentam a cada dia. Mas os trabalhadores não têm pátria, como diziam Marx e Engels no Manifesto Comunista. E são os trabalhadores que têm deixado os patrões amedrontados na Argentina, na Bolívia, no Paraguai e, mais recentemente, na Colômbia, enfrentando o governo do reacionário Iván Duque, aliado de Bolsonaro. O que acontece nesses e nos outros países do mundo também afeta o Brasil e vice-versa, e ser comunista é também acompanhar essas lutas, sabendo que nada impede uma revolta como esta de acontecer aqui, no nosso país, ainda mais com o aumento da fome.

Por terem um salário comparativamente maior que o de outros trabalhadores, muitos tripulantes não se veem como parte da mesma classe trabalhadora e se identificam com o discurso do “vencedor” que realizou um sonho. Vejam, não é errado sonhar, tá? Precisamos identificar a quem serve o discurso. Por isso, é muito valioso cada tripulante que se identifica e sonha com o comunismo.
Alguns desses tripulantes sequer falam abertamente sobre sua posição política no ambiente de trabalho, mas uma frase solta aqui e outra ali acabam revelando. Alguns temem que os setores da chefia descubram. Mais comum é dizerem que se identificam com a esquerda. Assim fica mais leve e evitam ser expostos politicamente. Certa vez, um tripulante fez muitos rodeios para dizer que leu o Manifesto Comunista e gostou. Mas nem todos são assim. Outros são mais ousados e falam abertamente. O motivo não se sabe ao certo, mas uma tripulante relatou que um cliente a chamou de comunista no avião, ao que ela respondeu agradecendo e disse ser um elogio.

Infelizmente, a chefia que persegue é ajudada nessa perseguição, muitas vezes, justamente por quem deveria estar defendendo os trabalhadores: a direção do sindicato. Ao longo da história, a classe capitalista aprendeu que precisa corromper essas direções com privilégios para nos dominar melhor. Se muitos trabalhadores não sabem o que é o comunismo além das mentiras que a burguesia conta para nos confundir, os culpados disso são também aqueles sindicalistas que atuam quase como “policiais infiltrados” no nosso movimento, delatando os comunistas e os que, para a patronal, são inconformados. Eles também dividem a nossa classe, nos impedindo de unificar a nossa luta com a de outras categorias ou de lutar por qualquer coisa que não tenha a ver com salários e com as condições de trabalho. Muitas vezes, em vez de nos defender, eles ajudam os patrões a atacar os nossos direitos, argumentando que “temos que ser razoáveis”, dialogar, negociar, sem nem terem organizado nenhuma medida de luta contra os planos nada razoáveis que os patrões têm para nós.

Os comunistas precisam ajudar os trabalhadores a recuperarem o controle dos seus sindicatos, expulsando esses ajudantes dos patrões, que são o que se chama “burocracia sindical”. Esta burocracia é o primeiro obstáculo com que nos deparamos quando decidimos lutar pelo comunismo, por uma sociedade mais justa e igualitária, sem patrões vivendo às nossas custas enquanto as pessoas passam fome e vivem na miséria. Depois vêm outros, como o Estado capitalista e as suas forças repressivas, como a polícia. Para chegarmos ao comunismo, não há outra maneira a não ser a revolução. Não que os comunistas sejam violentos, violento é o capitalismo e os sofrimentos que este sistema nos impõe, a humilhação no trabalho, a fome, a necessidade, mas porque os capitalistas nunca irão aceitar perder seus privilégios e sua propriedade, e vão fazer de tudo para defender o seu sistema, por mais retrógrado e irracional que ele seja para a maioria da humanidade.
Nós trabalhadoras e trabalhadores comunistas, precisamos nos organizar politicamente, precisamos construir um partido revolucionário, que lute nos aeroportos e em cada lugar de trabalho contra as traições da burocracia e contra a influência da ideologia burguesa, para mostrar a todos que estão desesperançosos, ou que ainda acreditam no discurso do sucesso individual, que o nosso sonho comunista não é uma fantasia ou uma utopia, e é muito mais alcançável do que todas as falsas promessas de ascensão pelo mérito e pelo “esforço”. Nosso esforço estará sim direcionado a libertar as nossas organizações de classe do controle da burguesia para, com a nossa força, derrotá-la.

 
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