Cerca de 250 trabalhadores da saúde se reuniram na orla do Pina, em Recife, para exigir melhores condições de trabalho e homenagear os colegas que morram pela covid19 na linha de frente do combate à pandemia.
No dia Internacional da Enfermagem, 12 de maio, as trabalhadoras e trabalhadores da saúde de Pernambuco saíram às ruas para expor as condições de precarização de trabalho da categoria, os baixos salários, as mortes em decorrência do combate a Covid19, e exigir a aprovação do Projetos de Lei 2564/2020 que institui um piso salarial, e o 744/2020 que regulariza a jornada de trabalho. Nas palavras de Edivânia:
“O salário da gente é vergonha. A gente trabalha muito e não é remunerado. (...) Um vereador o salário é uma fortuna. Um jogador de bola ganha uma fortuna. E aí você passa dois anos estudando pra ganhar o que, setecentos e pouco que é o salário mínimo? Ganhar o que, mil e duzentos reais, é justo isso? Você trabalha final de ano, você trabalha no dia do seu aniversário, você perde totalmente o contato com a sua família, né, pra trabalhar na área da saúde, e o que você ganha com isso? Meia hora de palma? Um minuto de silêncio? Não, a gente quer um salário digno. Somos trabalhadores, a gente merece salário digno”.
Manifestação dos trabalhadores da saúde em Recife: Trabalhadora da Saúde denuncia condições de trabalho precária, baixos salários e jornadas de trabalho sem fim. pic.twitter.com/Jzl3J6J3fJ
Os atos aconteceram por todo estado de Pernambuco, Recife, Pesqueira, Caruaru, Arcoverde, Petrolina e Garanhuns, além de Juazeiro, na Bahia. As manifestações foram organizadas pelo pelo Fórum das Entidades da Enfermagem.
Em Recife o ato começou com uma carreata saindo de Olinda, passando pela Avenida Agamenon Magalhães, Viaduto Capitão Temudo, Ponte Governador Paulo Guerra e Avenida Herculano Bandeira. O ato se encerrou com uma manifestação na orla do Pina, ao lado de Brasília Teimosa, onde reuniram- se em torno de 250 trabalhadores da saúde em um homenagem aos profissionais da categoria que morreram devido a pandemia. Solenemente os trabalhadores cravaram cruzes nas areia da praia simbolizando as vidas perdidas de seus colegas e companheiros de trabalho e luta. O Esquerda Diário participou de toda a manifestação, se solidarizando com a luta dessas trabalhadoras e trabalhadores e coletou depoimentos dos manifestantes.
De acordo com o Observatório da Enfermagem, do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), do início da pandemia até esta terça-feira, 11 de maio, foram notificadas 778 mortes de profissionais da categoria por causa da Covid-19. O Brasil é o país em que mais morrem profissionais da saúde em decorrência da pandemia.
Infelizmente não é de se espantar, com um um governo federal gerido por Bolsonaro e Mourão, que passaram toda a pandemia negando a gravidade da covid19, negando todos os tipos de medidas preventivas, enquanto os empresários e patrões obtiveram todos os tipos de auxílios milionários para proteger seus lucros. E na área da saúde, onde o combate a pandemia estava sendo feito dia após dias por trabalhadores que foram a linha de frente em salvar vidas da população, tão pouco o descaso foi diferente. Em plena pandemia, Bolsonaro e seu governo genocida cortou verbas da área da saúde e do SUS. Não à toa há poucos dias batemos a marca nacional de 426 mortos pela covid.
Porém, Bolsonaro não é o único responsável pelas mortes desnecessárias e descaso com a população. Os governadores, se aproveitaram do negacionismo de Bolsonaro para fazerem uma imagem de “responsáveis”, quando na verdade mantiveram as condições precárias nos hospitais e postos de atendimento, inclusive as péssimas condições de trabalho e os baixos salários do enfermeiros e técnicos de enfermagem, para não falar das trabalhadoras terceirizadas da saúde onde muitas se virem com salários atrasados por meses.
Em Pernambuco, governado por Paulo Câmara (PSB), não é diferente, o único estado em que permanece a alta de mortes por covid em todo o Brasil, ao passo em que a cada nova semana, a grande mídia e prefeitos como João Campos, de Recife (PSB), buscam restaurar a normalidade ignorando os leitos de UTI lotados.
Dentre os depoimentos registrados durante a manifestação de Recife pelo Esquerda Diário, as trabalhadoras da saúde denunciam as péssimas condições de trabalho. A maioria dos trabalhadores da enfermagem nem sequer ganham um salário mínimo, previsto na constituição. Há relatos de trabalhadores que chegam a ganhar em torno de R$700,00, sendo obrigados a atingir metas de hora extra e platão para conseguir alcançar o salário mínimo ao final do mês.
Também foi recorrente a denúncias de extensas jornadas de trabalho, sendo obrigadas a trabalharem ininterruptamente, feriados e finais de semana, perdendo qualquer tipo de convívio social, tempo para lazer e até mesmo para ficarem com seus familiares. Muitas relataram também o adoecimento emocional e psicológico de colegas causado por essas condições de trabalho e agravado pela pandemia e medo constante da contaminação.
Por isso para essas trabalhadoras e trabalhadores da saúde de Pernambuco é tão importante a luta por um piso salarial nacional e pela regulamentação da jornada de trabalho. Porém essa realidade não é exclusiva deste estado, ao contrário, pelo Brasil todo vemos manifestações acontecendo em hospitais e UPAs, por condições mínimas de trabalho, até mesmo para terem acesso a vacina e EPIs, ou contra atraso dos salários. E não é possível imaginar que poderia diferente em regime que é fruto de um golpe institucional, que tem Bolsonaro e Mourão no topo e sendo sustentado pelos militares sujos de sangue da ditadura, pelo STF que quer atualizar a Lei de Segurança Nacional também da ditadura, e que compartilha os mesmos objetivos da grande mídia, como a globo, a câmara de deputados e governadores, de aplicar reformas como da previdência e a trabalhista, PEC de gastos e congelamento de salário dos servidores públicos, para jogar a crise econômica e social nas costas dos trabalhadores, enquanto salva as grandes empresas que lucram nas casas dos bilhões.
Por isso é preciso antes de mais nada, unificar nacionalmente a luta dos trabalhadores da saúde, efetivos e terceirizados, enfermeiras e técnicos, através de assembleias de base, onde todos tenham direito a voz e voto. Ao mesmo tempo buscar confluir com as demais lutas incipientes por direito à vacinação que estão ocorrendo com os trabalhadores dos transportes, rodoviários e metroviários, assim como os professores que se mobilizam contra o retorno inseguro às salas de aula. Dessa forma é possível colocar os sindicatos e grandes centrais sindicais em movimento para enfrentar esse governo genocida, e cada uma das variantes de governos estaduais e regionais. Assim como impor a quebra da patente das vacinas e garantir a vacinação para todos os trabalhadores o mais rápido possível.
Nós do Esquerda Diário nos solidarizamos com cada um desses trabalhadores que perderam colegas e amigos enfrentando a pandemia na linha de frente e nos colocamos ao lado da luta dos trabalhadores da saúde por suas demandas e por seus direitos. Que os capitalistas paguem pela crise, nossas vidas valem mais que o lucro deles.
Confira a baixo outros relatos colhidos na manifestação:
Manifestação dos trabalhadores da saúde em Recife: Trabalhador da Saúde fala sobre a luta de direitos e a manifestação por piso salarial. pic.twitter.com/uxInCYMJFe