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COLUNA
Crise Ecológica: Ecossocialismo ou Marxismo Revolucionário
Jojo de Paula
estudante de Design da UFRN e militante da Faísca

Diante a crise climática, a emergência para construir uma alternativa que responda a necessidade de superar o modelo de exploração e destruição do planeta. Esse é o motor que levou milhões de pessoas às ruas desde setembro de 2019, quando foi deflagrada a greve mundial pelo clima, que se iniciou com a indignação de jovens diante da insuficiência dos Estados capitalistas de implementar um plano global para responder à crise. As próximas linhas são algumas reflexões iniciais para debater com a teoria do ecossocialismo, com base em Bellamy Foster, defendido por intelectuais como Sabina Fernandes, a partir de uma perspectiva marxista revolucionária.

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Os capitalistas são incapazes de resolver a crise que eles mesmos criaram. Vivemos hoje uma crise sanitária sem nenhum precedente na história, com a pandemia do coronavírus, que aprofundou a crise econômica que iniciou em 2008 e deixou evidente as desigualdades sociais e a violência policial racista, com o autoritarismo estatal, que matou João Victor no Rio de Janeiro e George Floyd nos EUA e gerou uma forte onda de luta antirracista ao redor do mundo, questionando profundamente e se enfrentando com a repressão do Estado no coração do imperialismo.

O capitalismo tem prosperado nos últimos séculos com a exploração da natureza, seja como fonte “inesgotável” de recursos transformados em mercadorias ou como depósito de resíduos. Esse processo de produção irracional do capitalismo está levando o planeta a chegar ao seu esgotamento, o que gera um rompimento no ciclo natural desenvolvido no planeta ao decorrer dos milhões de anos, o que Marx e Engels definiram como “fratura do metabolismo”.

Diante disso, é importante refletir: como destruir esse sistema de exploração e opressão, que só pode oferecer miséria, fome, desemprego e destruição do planeta, dominado pela burguesia, que tem como bases importantes o racismo e o patriarcado, expressa pelo machismo e LGBTfobia? Como vamos construir uma sociedade com livre associação de trabalhadores, uma produção racional que atenda as necessidades dos trabalhadores ao invés do lucro da patronal, sistema de saúde, educação, de transporte que atenda a todos, sistema energético que não seja destrutivo, garantia da liberdade sexual e de gênero e expropriar o latifúndio?

A perspectiva ecossocialista afirma que enquanto não é possível fazer a revolução é necessário tomar medidas urgentes, propõe a teoria de revolução ecológica, partindo de uma “transição justa”, com sustentabilidade, descarbonização da matriz energética, “bem viver”, por que segundo essa perspectiva “não é possível fazer revolução em terra arrasada”. Mas é possível realizar essas transformações nos marcos do capitalismo? Qual é o sujeito que vai batalhar por derrubar esse sistema? Segundo essa perspectiva, “seria a construção de organizações dos oprimidos capaz de destruir esse sistema”. É necessário refletir a centralidade de se enfrentar com a burocracia nos movimentos operário, estudantil e sociais, responsáveis por separar as demandas em setores, como de mulheres, negros, LGBTs, ambiental, e avançar para a construção da Frente Única Operária, para impor às burocarias que superem as divisões dos movimentos, na perspectica de que a classe trabalhadora tome para si um programa transicional anticapitalista para evitar a catástrofe ecológica.

Um exemplo de tática ecossocialista é a economia solidária, que busca transformar as relações de produção e consumo inseridas no capitalismo com a preocupação na remuneração do pequeno produtor. Isso tem limitações, pois cai nas próprias limitações do Estado capitalista e passa por fora de organizar a massa de trabalhadores para ferir os lucros dos grandes empresários. Esse exemplo, de fundo, não responde a um objetivo revolucionário. É necessário refletir sobre os trabalhadores da grande indústria alimentícia também como sujeito pra se enfrentar com o interesse de lucro dos latifundiários e dessa indústria. Faço um resgate do Programa de Transição de Trotski: é central que “a atuação dos revolucionários tenha o objetivo de encontrar uma ponte entre as reivindicações imediatas do proletariado, suas demandas mais facilmente sentidas, e o programa revolucionário socialista.” Para enfrentar a crise ecológica é necessário envolver, na luta, a maioria da população com a classe trabalhadora na linha de frente, por que a contradição capital-trabalho não é apenas mais uma que caracteriza o modo de produção capitalista, mas sim a contradição fundamental que o estrutura.

Em janeiro de 2021, se iniciou um processo de luta contra as demissões de 700 trabalhadores da refinaria de Grandpuits da Total, na França, um grande monopólio petroquímico e energético. A empresa argumentava que as demissões faziam parte de um plano de transição ecológica, seguindo a cartilha ecocapitalista e imperialista de Macrón, presidente da França. Os planos da empresa são, na verdade, fechar as refinarias na França para refinar em lugares mais próximos possível de depósitos de petróleo bruto, como Dubai, Índia, China e também em países da África, onde as condições de trabalho e os padrões ambientais têm pouca regulação.

Os trabalhadores responderam com greve, e os militantes da Corrente Comunista Revolucionária (CCR), seção francesa da Fração Trotskista (FT) batalharam pela auto-organização para que os trabalhadores decidissem os rumos da greve, se enfrentando também com a burocracia sindical com sua estratégia perdedora de negociação com a patronal, formaram comitês de greve com delegados eleitos em cada turno e fizeram a direção se submeter às decisões das assembleias gerais. Com essa forte luta dos trabalhadores, denunciando o que é conhecido por “greenwashing” - uso do ambientalismo para o marketing, mas que não representam nenhum efeito contra a produção predatória - ainda que seja um pequeno exemplo, conseguiu o apoio de estudantes, trabalhadores de outras categorias, movimentos ecológicos e ambientais e alcançaram uma repercussão nacional, os trabalhadores das refinarias de toda França entrara em greve em solidariedade, e também receberam apoio internacional de trabalhadores do Brasil, Argentina e dos trabalhadores em greve do Mianmar que começavam a lutar contra o golpe militar.

Os trabalhadores na greve de Grandpuits deram um exemplo no qual se colocaram como tribunos do povo ao levantar as bandeiras da crise ambiental, se colocaram não apenas na luta pelo seu direito de continuar trabalhando, mas para dar uma resposta que vai além, dá uma resposta para todos os setores, é um exemplo de hegemonia operária que demonstra que fazem parte da classe que deve estar a frente do enfrentamento com todo o modelo predatório capitalista.

 
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