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Apontamentos sobre a situação da indústria no Brasil
Iuri Tonelo
Recife
Flávio Ramos

A grande catástrofe social com a pandemia que vivenciamos no Brasil tem deixado de lado um aspecto dessa crise: a recessão brasileira de 2020 atingiu 4,1% de queda no PIB, expressando uma situação bastante difícil para o mundo do trabalho brasileiro. Os efeitos da crise sobre os salários e os direitos dos trabalhadores têm atingido os mais distintos seguimentos, e também tem levado a movimentos importantes na economia nacional.

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O resultado da crise de 2020 no PIB brasileiro foi que todos os setores entraram em recessão, com exceção do agropecuária e a indústria extrativa (puxada pelo petróleo), expressando o projeto nacional que encontra representantes na bancada ruralista do congresso e hoje conta com o apoio ao governo Bolsonaro. Muitas incógnitas se colocam sobre o futuro da indústria do Brasil: Qual a situação da indústria nos últimos anos e no período da pandemia? Estamos diante de um processo acelerado de desindustrialização? Quais as indústrias incomodam o capital internacional?

Neste artigo, buscaremos abordar essas questões e oferecer um panorama da situação da indústria no Brasil atual a partir de um recorte das últimas três décadas.

Os efeitos da pandemia no trabalho industrial

Do ponto de vista da produção, a indústria brasileira sofreu uma queda importante na pandemia, mas está tendo relativa recuperação. Segundo os dados da Confederação Nacional da Indústria, a queda no faturamento real atingiu o pico no início da pandemia, mas vem em recuperação desde o meio do ano passado e estaria em alta em 2021:

Se o faturamento se recuperou rapidamente, seguindo os fundamentos teóricos da crítica da economia política, não haveria outra forma de isso ocorrer, senão descarregando a crise em cima da massa trabalhadora em geral e, em particular, da industrial. A recuperação do faturamento se dá em V, já a recuperação da massa salarial se dá em U, tendo como causa o aumento das taxas de exploração, influenciado diretamente pelas reformas aprovadas na pandemia, que garantiram aos empresários acordos de suspensão do contrato de trabalho e/ou redução de jornada e de salários, além da chamativa ausência completa de resistência por parte das centrais e da burocracia sindical, com algumas delas, inclusive, (com força sindical e UGT à frente) atuando quase como escritórios de implementação dos ajustes e reformas. O gráfico a seguir demonstra essa recuperação mais lenta da massa salarial:

No gráfico, é possível notar a queda vertiginosa da massa salarial no imediato pós-pandemia e a recuperação mais lenta que o faturamento, ainda tardando a atingir os valores pré-pandêmicos. A situação do emprego é distinta, apresentou queda importante no início da pandemia, mas, pelo trabalho industrial no geral ser considerado essencial pelos governos, esse emprego foi retomado em termos formais ao longo de 2020, mantendo o mesmo patamar desde 2017.

Emprego na indústria do país: um breve panorama

Em 2019, o número total de trabalhadores na indústria, segundo dados da CNI, é de 9 milhões e 700 mil trabalhadores. Isso significa que, dentro do emprego formal, a indústria responde por cerca de 20% dos empregos, os serviços cerca de 50% e o comércio outros 20%.

Em número de trabalhadores [1],entre os dez estados com maior concentração operária, todos têm, pelo menos, 280 mil operários industriais, divididos entre as regiões do país (com exceção da região norte), sendo a principal concentração no estado de São Paulo, com cerca de 2,9 milhões de trabalhadores fabris. As principais concentrações ficam na Grande São Paulo, que comporta um polo industrial formado por 39 municípios, em que se destacam Guarulhos, Osasco e Barueri, além do peso da própria capital. Essa concentração constitui o maior parque industrial da América Latina. Os municípios do Grande ABC, como Santo André, São Bernardo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, também são de grande importância industrial, junto da região metropolitana de Campinas (em que está presente a Honda Automóveis). Concentradas nessa região do ABC estão as sedes de algumas das maiores indústrias do país, como Volkswagen, Toyota, General Motors e Mercedes-Bens; as químicas e petroquímicas Basf, Syngenta e Bayer; na siderurgia, a CSN e a Novelis; e, na alimentação, a JBS (15° maior empresa brasileira) e a cervejaria Ambev, além de gigantes da indústria de construção como Saint-Gobain e a Klabin, de papel e celulose.

Em seguida, vem o estado de Minas Gerais, com enorme concentração operária de 1,4 milhão. São Paulo e Minas são os dois estados que atingem a cifra de milhão de trabalhadores na indústria. MG possui duas das 20 maiores empresas brasileiras, a FCA Automobiles (fusão da Fiat e Chrysler) em Betim e a ArcelorMittal Brasil, em Belo Horizonte, a maior siderúrgica do país. Conta também com a Usiminas, além de grandes empresas no interior, como CBMM (maior produtora de Nióbio) em Araxá e Gerdau Açominas em Ouro Branco. Na indústria extrativa, tem destaque a CNS Mineração com sede em Congonhas.

A segunda região do país mais industrializada é o Sul. Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul juntos está entre as cinco maiores concentrações fabris, somando 2,3 milhões de trabalhadores. É possível destacar gigantes indústrias em Santa Catarina, como Bunge em Gaspar e as alimentícias BRF em Itajaí e Aurora Alimentos em Chapecó. No RS, há a química Yara Brasil em Porto Alegre e, em São José dos Pinhais (PR), a Renault.

O Rio de Janeiro vem na sexta posição com 580 mil trabalhadores, embora, na produção de valor, ocupe a segunda posição graças ao valor agregado de sua indústria de energéticos e complexos, ligados ao petróleo. Além da Petrobras e da Vale, que são as duas maiores empresas brasileiras, e a Shell Brasil, o estado conta com outras gigantes, como a siderúrgica Gerdau Aços Longos e a Ternium Brasil.

A terceira região com maior número de trabalhadores na indústria é o Nordeste. Bahia, Ceará e Pernambuco possuem os três maiores polos industriais, totalizando, juntos, 954 trabalhadores; possivelmente, chegará a atingir 1 milhão em breve. A principal companhia industrial, a Suzano Papel e Celulose, tem sede em Salvador (BA), estado onde também se encontra a Braskem em Camaçari – 10° maior empresa do país do setor químico e petroquímico. Em Pernambuco, destaca-se o Complexo Industrial e Portuário de Suape (entre os municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho), além da planta da FCA Automobiles na região metropolitana de Recife. No Ceará, a região metropolitana de Fortaleza abriga as principais fabricas, com destaque para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, a 60 quilômetros de Fortaleza, e o Distrito Industrial de Maracanaú.

No centro oeste, Goiás ocupa hoje a oitava posição, com 318 mil trabalhadores. Destaca-se o Distrito Agroindustrial de Anápolis (DAIA), que possui o polo da indústria química e instalação de montadoras, como Hyundai e CAOA Chery, além da Mitsubishi na cidade de Catalão, ao sul do estado. No norte do país, é importante destacar o polo industrial de Manaus, que conta com a Sansung e a Moto Honda, ambas com sede na cidade e estando entre as 100 maiores empresas no Brasil.

Os limites tecnológicos do Brasil e a indústria 4.0 no país

Em termos gerais, vemos que o país possui uma estrutura industrial em que prima baixa tecnologia, maquinário obsoleto e produção com baixo valor agregado – salvo alguns polos particulares, que, atualmente, estão sendo minados ou privatizados, como a indústria automotriz, a aeronáutica e a de petróleo, duramente atacada pela Lava Jato e a ofensiva de privatizações advindas do golpe institucional. Mas como se insere na estrutura industrial de um país dependente toda a onda de propaganda da indústria 4.0?

Antes de responder essa questão vale observar um pouco mais como o capital internacional vem promovendo a propaganda da indústria 4.0, chamada por alguns economistas de “a quarta revolução industrial”. Esse foi o nome dado ao livro de Klaus Schwab, um dos precursores a tratar desse tema nos fóruns econômicos mundiais. Em seu livro, o autor analisa os desenvolvimentos atuais da tecnologia – particularmente a internet das coisas, a inteligência artificial, robótica avançada, nanotecnologia e impressoras 3D – não como um desenvolvimento da computação e das conexões de internet, que foram o marco da “terceira revolução industrial”, mas sim como uma nova fase em que os frutos dessas tecnologias levariam a uma quarta revolução industrial, em que a automação chegaria a tal ponto que o trabalho humano estaria questionado. Pensado em 2011 e publicado em 2016, a obra afirma que o futuro próximo seria parecido com um cenário virtuoso de antigos filmes de ficção cientifica.

A experiência da indústria 4.0 pode ser desenvolvida em alguns países do capitalismo, como a Alemanha de onde se originou , mas esteve distante de se manifestar como uma “revolução industrial”. A realidade é que pensar uma transformação desse tipo em uma economia pós-crise de 2008 com recessão, baixa produtividade do trabalho, baixos níveis de investimento, caracterizada por economistas, como Laurence Summers, como “estancamento secular”, era realmente um pouco mais de otimismo imaginar uma revolução industrial . Na realidade, tratou-se de uma grande publicidade tecnotimista, mas que escondia a realidade do significado da indústria 4.0 no país: a busca por um maior e mais complexo controle do trabalho. Conforme argumenta Geraldo Augusto Pinto sobre o tema:

O estabelecimento de uma infraestrutura de TI que conecta toda a fábrica, dos níveis gerenciais aos operacionais, tem por objetivo formar uma via de mão dupla. Por um lado, preveem-se de informações os postos de trabalho, seja por meio de monitores de computador ou por equipamentos vestíveis no chão da fábrica (como óculos de realidade aumentada – também chamados de óculos de dados, tradução de data glasses). Por outro lado, coletam-se dados de toda as operações realizadas nesses postos, dados que são acumulados. Organizados e utilizados em análises das condições de produção num intervalo de tempo cada vez menor, o que é do interesse da gestão capitalista, que prima pelo planejamento e pelo controle do trabalho humano quando posto a operar os meios de produção. [2]

O texto citado versa sobre um estudo da implementação da indústria 4.0 na área automobilística brasileira, particularmente o caso da Mercedes-Bens em São Bernardo. Trata-se de alguns nichos industriais brasileiros em que se buscou maior inserção das tecnologias.

Um vídeo sobre a indústria 4.0 no Brasil pode ser acessado neste link, em que se pode ter uma ideia de como se expressa a propaganda dessa forma industrial no país, em que fala-se em capacete 3D, óculos de realidade virtual, exoesqueleto e outras “promessas” da indústria 4.0->].

No entanto, a exceção de certos nichos, no mar de empresas industriais, das grandes às menores, o que se expressou mais claramente foi o incremento dos métodos de controle do trabalho, que consiste essencialmente na coleta de dados da produção para oferecer relatórios e análises ao processar esses dados , além de mecanismos mais simples de leitura de pontos específicos do processo por via de sensores, gerando dados que garantem uma maior capacidade de controle da produção em tempo quase real, possibilitando controle das velocidades de produção e também a produtividade de cada setor, equipe ou, inclusive, de trabalhadores individualmente.

No contexto da pandemia, com a extrema dependência demonstrada pelas sociedades do setor industrial, se esvaiu o discurso de “revolução industrial” e restou os ajustes e maior controle. Há poucos anos, instrutores dos colégios técnicos como SENAI só falavam das máquinas inteligentes alemãs, palestras foram organizadas na FIESP para dizer aos CEOs as vantagens de subir todo o processo produtivo da planta na nuvem e não depender mais daquele trabalhador brasileiro que gera tanto custo. No entanto, os apologistas da tecnorevolução se calaram totalmente frente à situação atual do país. E os CEOs, que já não estavam muito empolgados em colocar seu capital nos robôs milagrosos, viram que o importante era reduzir encargos trabalhistas e não deixar as máquinas enferrujadas pararem, mesmo que o custo seja a vida dos trabalhadores. Outros, como os líderes da Ford, abandonaram o barco falando que aqui não é lugar de produzir carro autônomo. Esse é um pouco o marco do projeto que o capital imperialista vê para a indústria no país, muito distante de qualquer retórica da quarta revolução industrial.

Desindustrialização: uma nova fazenda no mundo?

Se podemos partir então de que não existe e nem poderia existir, em um nível de crise econômica e do capital como estamos vivenciando, condições de investimento que poderiam levar a um incremento substancial de tecnologia nos parques fabris brasileiros que pudessem os colocar dentro dos ditames da chama indústria 4.0, a tendência geral é observarmos uma indústria de baixo valor agregado, com pressões de obsolescência em alguns setores e ligada aos setores de energia, extrativismo e alimentação . Mas a questão poderia ir além e se manifestar da seguinte forma: estamos vivenciando um processo de desindustrialização? Podemos rumar a uma economia agrícola no país, sendo o Brasil uma nova fazenda do mundo?

Quando analisamos os dados da indústria, constatamos que existiram no período da Nova República dois momentos em que a indústria despencou em seu peso relativo no PIB brasileiro: o primeiro, durante os anos neoliberais, particularmente a partir do final dos anos 1980 e com forte queda ao longo dos anos 1990. Conforme o gráfico:

Fonte: CNI, com base em dados das Estatísticas Econômicas do Século XX, do Sistema de Contas Nacionais e das Contas Nacionais Trimestrais – IBGE

Como se pode ver, o peso da indústria no PIB ao longo das décadas após 1988 tem queda de cerca de 15% na década de 1990. A segunda baixa acentuada se deu nos governos de Dilma Rousseff e avança até os anos pós-golpe, quando se mescla com as contra-reformas, que consolidaram não só essa queda como a retirada dos direitos trabalhistas.
Esse processo se observa também graficamente quando analisamos o papel do Brasil no PIB da indústria mundial. O país se manteve entre os dez países mais industrializados do mundo – a lista por valor adicionado da indústria no PIB mundial inclui, nessa ordem, China, Estados Unidos, Japão, Alemanha, Índia, Canadá, Reino Unido, Rússia, França e Brasil. No entanto a participação brasileira vem caindo drasticamente e pode ser observada no gráfico a seguir:

Fonte: Banco Mundial

O crescente peso que vem adquirindo o agronegócio na economia brasileira se manifesta em efeitos políticos: essa afirmação de integração brasileira ao sistema internacional pela via da agropecuária foi expressa internacionalmente no último discurso de Bolsonaro na ONU, quando afirmando claramente um projeto de país do agronegócio o presidente disse que “O Brasil desponta como o maior produtor mundial de alimentos [3], louvando esse setor e sem uma palavra sobre a indústria (aliás a única que mencionou foi a indústria 4.0, fazendo demagogia aos investidores). A verdade é que o setor vem ganhando um forte peso na economia brasileira, com destaque particularmente para o centro-oeste, o que funciona também como um polo de atração para tipo de indústria que recebe investimento, com gigantes ligadas ao setor, como Louis Dreyfys Company, Coamo, Copersucar-cooperativa, Marfrig, C. Vale, Minerva Foods, para citar as maiores da produção agropecuária do país. Daqui, é possível analisar um processo que combina desindustrialização relativa com reprimarização, se entendermos essa categoria como o aumento do agronegócio no PIB (que passou de 20,5% para 26,6% no PIB de 2020 [4]) e da indústria extrativa (petróleo e minério de ferro em particular).

É bem é notável o papel que o neoliberalismo teve nesse processo. O que chama a atenção e deve ser notado é que, durante os governos petistas, não houve nenhuma grande alternativa a esse processo. Ao contrário, foi precisamente no governo Dilma em que o peso da indústria no conjunto da economia despencou, mas já nos governos Lula não observamos nenhuma reforma estrutural ou implementação de polos tecnológicos significativos e um plano de investimentos que pudessem mudar a localização do Brasil na esfera internacional. E as centrais sindicais ligadas ao governo, como CUT e CTB, mantiveram-se completamente adaptadas à lógica da conciliação, levando, pouco a pouco, a aceitar os ataques empresarias e o PT a perder força nas concentrações industriais, o que se evidenciou com a completa ausência de reação dessas centrais durante o processo de impeachment. Em realidade, o que se demonstrou é que o jogo da conciliação termina sempre com os dominantes como vencedores, e que mudanças substanciais não poderiam se dar nos limites do capitalismo e da conciliação petista, menos ainda em sonhados ensaios precários de desenvolvimentismo como propõe Ciro Gomes e outros políticos.

A realidade é que a foto do desenvolvimento pela via do Estado no capitalismo brasileiro é aprazível, mas o filme é de terror, vide o golpe institucional. Por mais subordinado que estivesse o governo petista, a lógica de “nunca os bancos lucraram tanto”, nos dizeres de Lula, ao menor sinal de incremento tecnológico, como os navios sonda (tecnologias de prospecção de petróleo na Petrobrás) já foram motivo para uma enorme operação internacional imperialista, a Lava Jato, que afetou outros setores com desenvolvimento tecnológico inicial no país [5]. Não só para frear qualquer desenvolvimento, mas para desgastar e desestabilizar as chamadas global players brasileiras, como a Petrobrás, Odrebrecht, Camargo Correia, JBS, entre outras. Daqui a base da explicação das raízes do golpe institucional.

Assim, uma necessidade vital que se coloca é a organização das concentrações operárias brasileiras, dos serviços estratégicos e da produção no campo, em partido político. E com um projeto de ruptura com os laços de dependência ao capital estrangeiro e com a dominação da burguesia nacional (herdeira dos 300 anos de escravidão). Sem um programa que se enfrente com os lucros patronais e as sanhas imperialistas, que coloque a massa trabalhadora do país à frente de planificar a industrialização do país, estaremos diante do eterno retorno do ciclo de um país subordinado, que tarda muito para dar passos de tartaruga e ao menor desses passos é esmagado pelas forças imperialistas e do capital estrangeiro. Até aqui, as duas experiências “reformistas” no país, pré-64 e pré-2016, embora não chegassem nem perto de ameaçar estruturalmente as bases de dominação do capitalismo brasileiro, terminaram em golpes (guardadas as devidas proporções). A única força que pode oferecer um curso distinto é a classe trabalhadora organizada, começando por irromper contra o pagamento da dívida pública e rompendo os laços de dominação imperialista no país, com a perspectiva de uma revolução social.

*

Podemos concluir que assistimos ao longo das últimas 3 décadas um processo substancial de desindustrialização, tomando nessa definição o peso que a indústria tem no PIB nacional e internacional. Isso não significa a terra arrasada da indústria brasileira: mantem-se um número grande de plantas fabris, algumas enormes em volumes de trabalhadores, e em muitos estados brasileiros ocupando, em termos gerais, mais de 20% do PIB e da ocupação de emprego formal. Embora se expressem hoje (o próprio governo Bolsonaro) setores que buscam com a força do agronegócio, por vezes ligados ao capital financeiro, modificar as bases hegemônicas do país (e concorrem contra a indústria em geral, em particular a do sudeste), podemos dizer que esse processo ainda exigiria modificações de enorme envergadura e, mesmo sob o ângulo do capital imperialista, não seria possível desmantelar completamente a indústria brasileira e tornar o país terra arrasada ou a fazenda do mundo, no sentido de diminuir qualitativamente a produção industrial – isso porque o país ainda oferece força de trabalho barato para produção industrial (que atrai setores do capital estrangeiro internacionalmente, em especial com as mudanças que vão ocorrendo pelo novo papel da China na economia mundial) e também possui um enorme mercado interno, que não deixa de ser uma determinação relevante nesse quesito. Pelo contrário, o país ainda figura entre dez países com indústria mais forte do mundo e a exploração da força de trabalho brasileira continua sendo de importância relevante no plano internacional, um dos pilares da precarização do trabalho mundial. O que a política imperialista controla com mãos de ferro é a subordinação tecnológica, impedindo desenvolvimentos nesse sentido em setores ou a constituição de global players que ameacem as empresas estrangeiras em determinados ramos. Diferente dos que também se arvoraram pelas categorias de “sub-imperialismo” brasileiro, o que se expressa é um país bastante dependente e subordinado à economia mundial.

 
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