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8 de março, dia de que?
Andrea D’Atri
@andreadatri

Por que não há dia do homem? O dia da mulher deveria ser todos os dias. Compre flores para sua namorada. Eles não vão nos dar nada no escritório? Não é um dia de festejar, é um dia de luta, pois lembra as trabalhadoras que morreram em um incêndio. Que incêndio?

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Muitas coisas são ditas. A verdade é que na origem do Dia Internacional da Mulher encontramos uma campanha política. O proposto pelos delegados ao Congresso Nacional do Partido Socialista dos Estados Unidos, realizado em 1908, a favor do voto feminino. Elas propuseram que o último domingo de fevereiro de 1909 fosse designado como o Dia da Mulher (Women’s day) e atos fossem realizados para lançar a campanha pelo direito ao voto.

No ano seguinte, em 1910, realizou-se em Copenhague a Segunda Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, onde os principais debates foram sobre o voto feminino, a proteção social das mães e a necessidade de estabelecer uma relação mais assídua entre socialistas de diferentes países. Lá, as delegadas alemãs Clara Zetkin e Kate Duncker propõem a seguinte moção: “De acordo com as organizações políticas e sindicais do proletariado, as mulheres socialistas de todas as nacionalidades organizarão um dia especial da mulher em seus respectivos países, cujo objetivo principal será promover o direito de voto para as mulheres. Será necessário debater essa proposição em relação à questão das mulheres a partir de uma perspectiva socialista. Esta comemoração deve ter um caráter internacional e será necessário prepará-la com muito cuidado”.

A proposta não estabelecia uma data precisa para aquele dia especial da mulher. Apenas sugeria que os Partidos Socialistas de diferentes países difundissem esta campanha pelo direito ao voto das mulheres - assim como os norte-americanos haviam feito antes - demonstrando que o socialismo internacional estava na vanguarda na luta por direitos políticos iguais para as mulheres. Porem desta vez falaram do Dia Internacional da Mulher, no plural, para enfatizar o caráter global da convocação.

Em 19 de março de 1911, os socialistas alemães celebraram o Dia Internacional da Mulher. Os suecos fizeram isso em 1º de maio. Foi só em 1914 que os socialistas da Alemanha, Suécia e Rússia concordaram em comemorá-lo em 8 de março. E o fizeram nos anos seguintes também.

Mas um dia, as mulheres deram à luz uma revolução

Em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro, segundo o antigo calendário ortodoxo russo), os trabalhadores russos comemoraram com manifestações, greves e motins pelo pão, pela paz e contra o regime czarista: uma centelha que, em meio às agruras da a Primeira Guerra Mundial, começou a revolução com a qual a classe trabalhadora tomou o poder oito meses depois, sob a liderança do Partido Bolchevique. “23 de fevereiro foi o Dia Internacional da Mulher. Os sociais-democratas propuseram celebrá-lo da maneira tradicional: com assembleias, discursos, manifestos etc. Nunca passou pela cabeça deles que o Dia da Mulher pudesse se tornar o primeiro Dia da Revolução” [Na época, a Rússia usava o calendário Juliano, onde 23 de fevereiro era na mesma data que o 8 de março do Calendário Gregoriano, NdT]. Assim começa um dos capítulos da História da Revolução Russa, escrito por Leon Trotsky.

Tal fato fez com que, a partir de então, o movimento operário e o socialismo internacional deixassem aquela data inabalável.

Não foi um incêndio?

Na internet e em livros, muitas vezes constatamos que, nesta data, se comemora um incêndio intencional em uma fábrica de tecidos em Nova York, supostamente ocorrido em 8 de março de 1908. Conta-se que as trabalhadoras protestaram e o proprietário trancou as portas da oficina e incendiaram-na, causando a morte de 129 trabalhadoras.

No entanto, o curioso é que o dia 8 de março de 1908 foi um domingo e não há jornal que tenha divulgado a notícia do incêndio, como de costume, já que os incêndios acidentais eram muito frequentes nessas antigas fábricas. Houve um grande incêndio acidental em Nova York? Sim! Mas foi em 25 de março de 1911, na Triangle Shirtwaist Company. Muitos, muitos trabalhadores morreram lá. Mas se compararmos as datas, descobrimos que as alemãs já haviam comemorado o Dia Internacional da Mulher proposto por Clara Zetkin.

A esquerda exige que se diga que é um dia das trabalhadoras, é verdade?

Se a revolução que as trabalhadoras têxteis deram à luz na Rússia em 1917 abriu as portas às mulheres para muitos direitos impensáveis, a chegada de Stalin ao poder na ex-União Soviética abalou a luta pela emancipação feminina. O aborto foi proibido e a contribuição das mulheres - como mães e donas de casa - para o engrandecimento nacional foi destacada. Em meados da década de 1930, o Dia Internacional da Mulher tornou-se o equivalente ao Dia das Mães nos países capitalistas: presentes e buquês de flores eram dados às mães.

E em 1965, por decreto da burocracia stalinista, o dia 8 de março foi declarado dia não útil e rebatizado como Dia Internacional da Mulher Trabalhadora. Uma boa manobra a da podre burocracia stalinista: despojaram as mulheres dos direitos que conquistaram durante a revolução, mais uma vez exaltaram os estereótipos incutidos pelos patriarcas de boas mulheres que têm filhos a serviço do país, mas deram-lhe um nome que soa mais de esquerda. Se os socialistas que queriam um dia estabelecer os direitos políticos de todas as mulheres tivessem visto, teriam dito: Não em nosso nome, seus canalhas!

O que está escondido atrás de um nome

Para muitos grupos feministas, 8 de março é um dia de luta por apenas alguns direitos das mulheres dentro dessas mesmas democracias capitalistas. Outros setores, cada vez menores, continuam a propor o mesmo que os stalinistas disseram: que a emancipação das mulheres é algo de pouca importância na luta pela revolução social e que desvia a atenção da batalha central do proletariado, que é contra a burguesia.

Pelo contrário, o marxismo revolucionário reconhece que não apenas as mulheres trabalhadoras, mas as massas femininas mais amplas são vítimas da desigualdade, falta de direitos, violência e subordinação imposta pela opressão patriarcal. Ser 80% das vítimas das redes de tráfico, não ter o direito de decidir sobre o próprio corpo, ganhar 30% menos que os homens ou ser 75% dos analfabetos do mundo são alguns sinais evidentes dessa desigualdade. E assinalamos, abertamente, que devemos também combater o veneno do machismo com que, nesta sociedade capitalista, também se dividem as fileiras dos explorados.

Denunciamos que o sistema capitalista legitima, reproduz e garante a subordinação das mulheres. Por isso, não basta exigir mais equidade em uma sociedade que trabalha com base nas mais profundas iniquidades, como a concentração de propriedades e grandes riquezas em um punhado de famílias que acumulam fortunas à custa da exploração. De milhões de salários. assalariados, que a única coisa que eles têm é sua força de trabalho e sua prole.

Um feminismo socialista, pelo pão e pelas rosas

Por isso, consideramos nosso dever inalienável promover, na mais ampla unidade, as lutas das mulheres pelas melhores condições de vida possíveis. Mas nossa luta não se limita à expansão dos direitos formais na estrutura estreita das democracias capitalistas; nem às demandas corporativas ou econômicas da classe trabalhadora. Promovemos a organização, mobilização e luta das mulheres na perspectiva da revolução socialista, para acabar com este sistema de exploração e lançar as bases para a emancipação total das mulheres e a libertação da humanidade.

Nesse caminho, apostamos que as trabalhadoras - as mais exploradas dos oprimidos, as mais oprimidas dos explorados - encabecem a luta pela própria emancipação, convencendo seus irmãos de classe da importância de erguer a luta entre suas bandeiras. Contra o machismo e, para as massas femininas mais amplas, para se juntarem às suas fileiras para derrubar o capitalismo patriarcal.

 
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