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UNICAMP
A anti-democrática consulta à reitoria da Unicamp mostra: precisamos fortalecer a luta
Faísca Revolucionária
@faiscarevolucionaria

Nos dias 10 e 11, 24 e 25 de março, 1º e 2º turno respectivamente, acontecerão as “consultas” para lista tríplice de candidatos a reitor e vice-reitor da Unicamp. Esta é a declaração global da Faísca Revolucionária sobre o processo, explicando nossa posição de voto nulo. Nos próximos dias, sairemos com mais notas e materiais sobre o tema.

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Em um momento em que as federais sofrem com as garras de Bolsonaro com seus interventores e agora absurdamente querendo censurá-las, será a primeira consulta na Unicamp no marco da aguda crise sanitária, desse governo inimigo das universidades e do assentamento do regimento do golpe. Trata-se de um momento em que as universidades e a ciência demonstram seu potencial para enfrentar a crise, mas também os limites orçamentários e de projeto nos quais esbarram para atingí-lo.

Nos últimos 4 anos, a Unicamp foi gerida por Marcelo Knobel, o reitor que se diz “das cotas”, enquanto, na realidade, essa medida foi arrancada por uma dura greve que sua gestão puniu, e que com toda sua demagogia tentou se diferenciar do negacionismo de Bolsonaro, mas iniciou a pandemia impondo o EaD excludente, a canetada, querendo também aprovar um duro corte de bolsas estudantis. Knobel foi inimigo dos trabalhadores e avançou a passos largos na relação da Unicamp com as empresas.

Veja: Fim de gestão: relembre 10 vezes em que Knobel atacou estudantes e trabalhadores da Unicamp

Chegada a hora de passar o bastão da reitoria, ocorrerá a consulta, que é um mecanismo absolutamente anti-democrático, na qual não somente o “voto” de estudantes e trabalhadores (efetivos, já que terceirizados não têm voz alguma na universidade) vale 3 vezes menos do que o dos professores, como quem de fato decide é o golpista João Doria - o mesmo que está obrigando os professores da rede ao retorno inseguro nas escolas.

Com o “voto” valendo 20%, estudantes terão que avaliar sua posição, em meio às férias depois de um ano exaustivo e diante de um pico de mortes. E, na prática, se formará uma lista tríplice (com os 3 mais votados). Será Doria, então, quem dirá qual das chapas assumirá a reitoria. Por isso, trata-se de uma “consulta”: a comunidade acadêmica, privilegiando os professores, que são maioria nos espaços de poder, mas são minoria na universidade, apenas indica sua preferência, mas não de fato vota, estando atrás até mesmo da degradada democracia burguesa.

Conheça quem são os candidatos que pretendem gerir a crise nessa situação difícil do país.

Sergio Salles e Eliana Amaral, chapa "Uma só Unicamp": a continuidade de Knóbel

Sergio é diretor do Instituto de Geociências da Unicamp. Eliana é professora titular da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

“Uma só Unicamp” é a chapa que continuará o legado de Knobel. Partindo disso, já podemos ter uma ideia dos prognósticos: muitos ataques e alguma demagogia com nossas lutas.

Eliana foi, no último período, responsável pela Moradia Estudantil. Era ela quem deveria ter encabeçado o encaminhamento das reformas estruturais, que junto à ampliação, foram conquistas da greve de 2016. Logo, podemos antecipar seu projeto quando analisamos o colapso de falta de energia, alagamentos e riscos de desabamento nas casas da Moradia. Não era de se esperar que fosse largar o osso e admitir o descaso por parte da reitoria com as condições de habitação dos estudantes bolsistas.

Ainda assim, no tema da Moradia, a chapa nem esconde que é contra sua ampliação. Evidentemente, seus argumentos, de que a demanda por vagas é baixa por conta do aumento de solicitações de Bolsa Auxílio Moradia, são mentirosos. A alta demanda pelas bolsas existe devido às más condições estruturais da Moradia e pela dificuldade de se encontrar vaga em tempos de superlotação.

Diante da crise universitária, a chapa também propõe captar recursos complementares, estimulando e aprimorando formas de parcerias, convênios, contratos e doações aos fundos patrimoniais. Afirmam a "positividade" dos resultados alcançados com a administração anterior, falando que são um sinal de “resiliência, competência e capacidade da comunidade”. Apenas escondem que junto à política privatista de Knobel, em base à austeridade, aos cortes milionários, aos fundos patrimoniais, à política de Inovação e maior abertura às empresas, o projeto de extensão que Knobel levou à frente incluiu o fim da gratuidade na pós-graduação lato sensu, sendo mais uma porta aberta às empresas na universidade.

Em relação ao trabalho na universidade, seu programa vai no sentido de precarizar ainda mais. Reivindicam a manutenção do teletrabalho permanentemente, para após a pandemia, o que a princípio poderia parecer uma boa, mas, na prática, acarreta ampliação da jornada e desarticulação das lutas. Também reivindicam a terceirização, responsável pela superexploração de centenas de mulheres negras na universidade, que não são reconhecidas como trabalhadoras da Unicamp e frequentemente enfrentam assédio, cortes de salários, ataques aos direitos e demissões arbitrárias. Fazem demagogia dizendo que há necessidade de “humanizar” e fiscalizar as condições de trabalho às quais esses trabalhadores estão submetidos, mas escondem que a terceirização existe justamente para precarizar, humilhar e dividir, como foi ao longo de toda a gestão Knobel, mesmo em meio à pandemia. É a ferramenta perfeita para aumentar os lucros e o controle dos patrões, e foi o que Eliana apoiou para gerir os problemas de manutenção da Moradia, via empresa privada.

Assim, não existe “valorização da diversidade” quando os setores mais precários da universidade, estudantes pobres, negros, mulheres mães da moradia e terceirizadas, não tem condições de vida e trabalho dignas.

Pode interessar: "Corríamos o risco de ter princípios de incêndios na moradia" diz bolsista da Unicamp

Mário Saad e Marco Aurélio Zezzi Arruda, “chapa Harmonia, ousadia e responsabilidade”: braços abertos às empresas

Mário é médico, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Zezzi é diretor do Instituto de Química da Unicamp, conhecido por sua perseguição aos estudantes da greve de 2016 e votante declarado de Bolsonaro. O nome mais apropriado a essa chapa de direita deveria ser “Bem-vinda, privatização”.

É com bastante “ousadia” que mesmo frente ao rechaço dos estudantes em relação ao EaD excludente que vem representando exclusão e um déficit formativo principalmente aos estudantes mais pobres, que esta chapa apresenta uma proposta de implementar o ensino híbrido, combinando ensino presencial e remoto, permanentemente na universidade (ou seja, mesmo após a pandemia). Vimos na última semana que o mesmo aconteceu na USP; a pró-reitoria apresentou um edital em que abria para reformulação os critérios dos cursos para implementação do ensino a distância.

Isso quando o movimento estudantil da Unicamp se posicionou diversas vezes contrário a esse modelo de ensino, entendendo a importância que o espaço da universidade, as trocas e vivências que proporciona aos estudantes tem. Mascarado em uma proposta de modernização, flexibilização e independência, o ensino híbrido é a porta de entrada para a precarização do ensino e do trabalho docente e para a maior inserção das grandes empresas privadas do ramo da educação na universidade pública. Anteriormente à pandemia, estudantes das estaduais paulistas travaram fortes lutas contra projetos similares e barraram medidas como essas (como Univesp).

Como se não bastasse, a chapa também defende como programa que as bolsas possam ser financiadas por empresas privadas, com o argumento de que os estudantes possam ter “tutores” que cuidem das suas demandas financeiras. Ou seja, pretende desvincular a permanência das responsabilidades da universidade. Além disso, se hoje já lutamos por bolsas-estudo, sem a contrapartida do trabalho, faltou dizer que os tutores seriam “patrões” preocupados com as metas e resultados dos bolsistas; um controle absurdo da vida pessoal e acadêmica desses estudantes, uma maior pressão para cumprir as expectativas produtivistas daqueles que o sustentam, e também o aumento da competitividade por bolsa.

Mas para Mário este não é um problema, muito pelo contrário, pode ser a solução. Entendendo o período de crise que o país enfrenta, ele vê o financiamento privado como a saída para tudo. Saadi busca novas fontes de financiamento para aliviar os ajustes dos governos e avançar com um projeto privatista de educação - algo similar pretendia o Future-se, pelo governo Bolsonaro. A “harmonia” dessa chapa é unicamente com os governos que cortam da educação e da saúde.

Não à toa, em um momento em que os trabalhadores e o povo pobre pagam pelos anos de precarização na saúde, que vêm desde o PT e foram aprofundados pelo golpe, também vemos o papel que o SUS poderia cumprir, ainda mais 100% estatal e sob controle dos trabalhadores que estão na linha de frente. Entretanto, Saadi, como médico, não esconde que busca financiamento privado para o HC.

Antonio José de Almeida Meirelles e Maria Luiza Moretti, chapa "Unicamp construindo o amanhã": quais os limites dessa proposta?

Tom Zé é professor titular da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp. Luiza é professora da FCM Unicamp. Contra candidaturas abertamente liberais e de direita, essa é a chapa que parte de se dizer defensora da permanência estudantil, da progressão de carreira dos trabalhadores e mais contratações de professores, com um discurso de “inclusão”. Mas Tom Zé admite nos debates que, diante de todas as suas propostas, o grande entrave é o orçamento da universidade.

Aí está a questão: como saída, a chapa defende com bastante convicção a necessidade de buscar “fontes alternativas de financiamento”, junto à sociedade civil. O fato é que, enquanto sistematicamente os filhos dos trabalhadores são barrados pelo filtro do vestibular aos milhares, precisamos lembrar que a população mais pobre já sustenta a universidade todos os dias, por meio do imposto que recai mais fortemente sobre o seu bolso. O discurso de buscar a “sociedade civil” nada mais é do que outra forma de chamar a iniciativa privada a financiar a universidade mais uma vez, quando sabemos há anos que quem paga a banda escolhe a música, e direciona os interesses da universidade.

Nesse sentido, com essa saída, não existe defesa da “autonomia intelectual”, como eles seguem insistindo. Estamos na universidade querecentemente renovou seu Convênio com a Vale assassina e onde uma de suas empresas-filha, criou a Móvile - da qual os reitoráveis se orgulham - que gere o iFood, responsável pela precarização brutal da juventude trabalhadora e negra. Também é justamente pela lógica das patentes e das “propriedades intelectuais”, das quais a Unicamp é recordista, que alguns monopólios no mundo hoje lucram milhões com as vacinas, garantindo acesso aos países imperialistas que podem pagar, e deixando continentes inteiros amargando o drama da continuidade e aprofundamento da pandemia. Além disso, também é uma chapa que defende mais terceirização, citando em seu programa a respeito da creche da Dedic.

Por maior demagogia que se faça, tudo isso apenas mostra que para alcançar seu programa, é impossível conviver pacificamente com ataques contra o orçamento da educação e reformas que rebaixam as condições de trabalho no país. Esses ataques de Bolsonaro, do MEC e dos governadores, como Doria, servem para aprofundar um projeto de universidade que está no vértice oposto aos dos interesses dos trabalhadores e da população pobre.

Não à toa, quando questionado sobre sua posição em relação aos limites impostos pela Lei 173 (que aplica congelamento de salário, cortes de vale alimentação, bloqueio da progressão dos funcionários, suspensão de concurso, e diversos outros ataques aos servidores), Tom Zé propõe medidas jurídicas para convencer contra essa lei e uma “reorganização” que libere verbas. Ou seja, a busca por “financiamentos alternativos” passa pela aceitação dos atuais ataques e vias institucionais de como “contorná-los” determinadas por um judiciário que ataca as universidades (o STF recentemente referendou até mesmo que Bolsonaro não deve escolher o número 1 das listas tríplices) e toda população, ou seja: jogar com as regras dos nossos inimigos. Assim, aceita-se o programa dos que querem aprofundar um projeto de país “fazenda do mundo”, com ainda menor peso para a ciência, e maior relação das empresas com a universidade.

Sem a mobilização da universidade, unificando os efetivos (que os defensores da Reforma Administrativa querem pintar como privilegiados) e terceirizados, estudantes e professores, é impossível barrar o que reserva o atual regime brasileiro na crise e a degradação das universidades. Mas como buscamos a unificação com reitores que já anunciam mais precarização, como gestores dos ataques?

É por isso que Tom Zé não só se apoia na impotência das medidas judiciais, como não concorda nem mesmo com a insuficiente paridade (peso igual aos três setores) na estrutura de poder, hoje em dia absolutamente antidemocrática. Hoje, o Conselho Universitário da Unicamp dá mais peso proporcionalmente à golpista FIESP, avalizadora das reformas, que em nada deveria ter a ver com os rumos da Unicamp, do que aos estudantes e trabalhadores que são maioria da universidade. E Tom Zé concorda com esse modelo, assim já anunciando que suas propostas dependem de seguir calando uma parcela da universidade.

Pelo voto nulo, o movimento estudantil precisa ter uma posição independente nesse processo e fortalecer sua organização pela base

Partindo de desmascarar o caráter anti-democrático dessa “consulta”, na qual não só não elegemos nada, mas o voto de estudantes e trabalhadores vale menos, precisamos utilizar esse momento para desmascarar que essa estrutura de poder que mantém uma casta burocrática, com seus altos salários, que decide tudo e tem diversas relações com empresas, está a serviço de um projeto de universidade que é incapaz de enfrentar Bolsonaro e seu negacionismo, o MEC e golpistas como Doria. Pelo contrário, demonstra mais uma vez que o cargo de reitoria serve para garantir que se passem os interesses dos grandes empresários na universidade, e quando não pelo CONSU, por canetada.

Por isso, nesse processo, não podemos confiar em nenhum dos candidatos que já prometem ataques contra a permanência estudantil e/ou querem aprofundar a relação da universidade com as empresas, pela via do financiamento privado e da precarização do trabalho (terceirização), nosso voto deve ser nulo e nossa saída passa por batalhar para que o movimento estudantil volte à cena, superando a fragmentação que o EaD busca impor, lutando, lado a lado aos trabalhadores, fortalecendo nossas entidades pela base, contra as burocracias como o DCE da UJS que dirige nossa entidade.

O financiamento da universidade passa por enfrentar os lucros dos grandes empresários que recebem isenções no estado e levantar a taxação progressiva de suas fortunas, e só vai ser levado até o final no país não pagando a dívida pública que rouba nossos recursos para os bolsos dos grandes banqueiros.

Temos que ser uma voz por um programa de universidade que queira voltar nosso conhecimento aos trabalhadores e à população pobre em um momento de luto e fome, e não aos que seguem lucrando, que defenda a quebra das patentes e a liberação das pesquisas. Precisamos exigir reforma e ampliação da moradia de acordo com a demanda, bolsas sem a contrapartida do trabalho de acordo com a demanda e, defendendo as cotas, lutar pelo fim do vestibular que exclui milhares, ainda mais na pandemia. Não podemos aceitar nenhuma proposta de ensino híbrido, que ataca estudantes e professores e também vem para desarticular permanentemente o movimento estudantil, fragmentando a nossa força.

Frente a propostas como essa, precisamos decidir os rumos da universidade e defender uma Estatuinte Livre e Soberana que debata a forma como as decisões são tomadas na universidade, com o real peso de estudantes, trabalhadores e professores na realidade, e a quem de fato ela serve, questionando os privilégios da burocracia universitária, avançando ao fim do atual CONSU e da reitoria.

 
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