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OPINIÃO
Caos no Acre é a nova expressão da barbárie que o regime do golpe conduz no Norte
Vanessa Dias

Talvez todas as tragédias recentes que acometeram as populações do Norte do país - como a falta de oxigênio em Manaus, o apagão no Amapá e as queimadas na Amazônia - não tenham sido ainda consideradas fúnebres o suficiente para os governos e os atores do regime político atual. O retrato da putrefação social da vez se expressa no Acre, novamente na região Norte, onde a população sofre ao mesmo tempo com a pandemia do coronavírus e sua nova cepa, um surto inédito de dengue, as maiores enchentes dos últimos 30 anos e o colapso do sistema público de saúde.

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A cepa manauense do coronavírus não demorou a chegar no estado vizinho e terminou de zerar seus leitos e estoques de oxigênio. As terríveis cenas de familiares correndo carregando galões de oxigênio também foram protagonizadas pelos acreanos, cuja cobertura da vacina atinge menos de 2% da população. Somadas a isso, as recentes enchentes alagaram gravemente 10 das 22 cidades do estado, inclusive a capital Rio Branco, afetando mais de 130 mil pessoas. A cidade de Tarauacá, no interior do estado, por exemplo, chegou a ficar com 90% de seu território tomado pela água. Além de criar todas as condições para o salto ainda maior nos casos de dengue, a situação pode ocasionar salto nos casos de leptospirose, como teve de assumir publicamente o próprio governador Gladson Cameli (PP).

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Cameli afirmou que “os alagamentos nada têm a ver com o desmatamento na região”, e afirmou ainda que era “impossível prever” a catástrofe das enchentes, mesmo o estado tendo passado em 2015 por níveis históricos de alagamentos. Para os que não sabem, Cameli é membro de uma poderosa oligarquia madeireira que atua há décadas no desmatamento ilegal na região amazônica. Seu tio, Oleir Cameli, que foi chefe do Executivo do Estado entre 94 e 98, também atuou ofensivamente na exploração de terras indígenas. A família Cameli, depois de 20 anos de devastação dessas terras, foi obrigada a pagar multa de míseros R$ 14 milhões ao povo indígena Ashaninka - o que não paga uma pequena parcela dos lucros que o desmatamento ilegal extrai da região.

O governador, que está na linha de frente do projeto acreano de crescimento do agronegócio, particularmente a expansão da soja, logo em seu primeiro ano de governo foi responsável pelo maior aumento da taxa de desmatamento na região amazônica - um salto de 364% em relação ao ano anterior. Diante das multas aplicadas pelo Imac (Instituto do Meio Ambiente do Acre) contra as queimadas, Cameli literalmente bateu no peito esbravejando aos produtores rurais: “Não paguem nenhuma multa, quem está mandando agora sou eu!”.

Seu programa de governo foi abertamente ofensivo nos planos de impulsionar o Brasil como o grande celeiro da soja, e suas principais medidas de governo se concentraram nisso, como com o lançamento do Fundo Agropecuário Estadual em 2019. Todos os escândalos sobre os focos de queimadas na região amazônica, que ganharam atenção internacional, vieram à tona logo após sua ofensiva no primeiro ano de governo, e foi justamente dessa forma que abriu largo espaço para o avanço produtivo do setor na região. Tanto as queimadas quanto o avanço do agronegócio não se restringem ao Acre, certamente, mas tem ali em 2019 uma forte expressão de um projeto pensado para o conjunto da região amazônica, erguido em comum acordo com o governo Bolsonaro, com diversos atores do regime político e também com os militares.

Leia: Manaus sufoca, Apagão no Amapá e Amazônia em chamas: o Norte agoniza sob o regime do golpe

O apoio do governo Bolsonaro a esse projeto se deu e se dá diversas vias, seja pela via direta de financiamento, seja apoio político ou mesmo via enfraquecimento dos órgãos fiscalizadores das queimadas.

Mesmo em meio à pandemia, o agronegócio brasileiro seguiu superando suas taxas de crescimento e lucro, com as exportações terem alcançado a cifra de US$ 100,8 bilhões ano passado, segundo maior valor em 10 anos, com crescimento de 4,1% em relação a 2019, gerando balança comercial positiva com saldo recorde de US$ 87,8 bilhões.

Já a realidade dos investimentos de combate às enchentes e os investimentos em saúde pública é completamente oposta - R$ 77 mil para o ano de 2021, que contrastam com os R$ 110 milhões destinados somente à recuperação e pavimentação de ramais para escoamento da produção sojeira no ano de 2020, para citar um único exemplo. E o criminoso governador ainda alerta que, com esse orçamento, em 3 meses, a saúde pública acreana não poderá mais aguentar e os recursos estarão zerados.

A busca para conquistar para o Brasil o selo de a grande fazenda do mundo é um projeto de diferentes atores do regime político fruto do golpe de 2016, onde seguem fincando seu peso e espaço as mais sanguinárias e apodrecidas oligarquias nacionais, profundamente ligadas aos interesses imperialistas, que atuam para sugar completamente os recursos naturais e públicos. Trata-se de um projeto político que procura acabar com qualquer sombra de direitos trabalhistas e serviços públicos. É o que busca fazer a PEC emergencial, dando nacionalmente o golpe de morte na saúde e na educação, o que abre espaço para que barbáries como essas no Norte sejam nacionalizadas; cada vez mais comuns, cada vez mais profundas. Tudo, absolutamente tudo, sob a fachada da “falta de recursos”, da responsabilidade fiscal e do não rompimento do teto de gastos.

Essa barbárie é nada menos do que o projeto do regime do golpe, e tudo aponta para que se estenda como exemplo para o país enquanto não houver uma força social capaz de barrá-la. Agoniza a necessidade dos trabalhadores erguerem uma alternativa política própria, totalmente independente politicamente, totalmente diferente do demonstrou querer o PT e diametralmente oposta aos interesses não somente de Bolsonaro, mas também dos governadores, do STF e dos militares. É a urgente necessidade de os trabalhadores imporem através da luta o seu próprio projeto para o país e barrarem imediatamente o curso dessa tragédia capitalista.

Leia também: Tragédia anunciada: Por que Manaus é um exemplo do que o regime do golpe quer para o Brasil

 
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