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#VacinaParaTodos
Um breve balanço sobre o 1º mês do Comitê UnB pela Vacinação
Rosa Linh
Estudante de Relações Internacionais na UnB
Luiza Eineck
Estudante de Serviço Social na UnB

Há quase um mês da criação do Comitê UnB pela Vacinação, como está seu andamento? O que foi discutido nas quatro reuniões até agora?

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No dia 29 de janeiro, ocorreu a primeira reunião do Comitê UnB pela Vacinação. A iniciativa foi convocada pelas entidades representativas dos três setores da UnB: DCE, representante dos estudantes; SINTFUB, representante dos técnico-administrativos e terceirizados; ADUnB, representante dos professores - de forma independente da Reitoria. Houveram reuniões semanais desde seu lançamento, chegando a quinta reunião, o que foi discutido nas quatro reuniões até agora? O que foi levado a frente? É exatamente isso que nos propomos a debater nesse texto.

Do que se trata o Comitê UnB pela Vacinação?

Primeiramente, o Comitê se configura no contexto de uma das gestões mais catastróficas da pandemia mundialmente, no qual o Brasil é o segundo país com mais mortes pelo coronavírus. Pelo descaso e falta de um plano racional de vacinação por parte do Governo Federal e do regime do golpe institucional vemos absurdos como é a situação em Manaus. No âmbito distrital, Ibaneis também não tem uma plano que garanta todas as doses da vacina para a população, sobretudo, para os setores mais vulneráveis, pelo contrário, a pandemia avança no Distrito Federal e a população trabalhadora e precarizada do DF segue à deriva. Diante disso, a UnB tem um enorme potencial e papel a cumprir se seu contingente de pesquisa, ensino e extensão fossem tensionados para refletir diretamente sobre a vacina e o combate à pandemia.

Veja também: Vacinação no DF: a demagogia de Ibaneis

Diante disso, retomemos um pouco do objetivo do Comitê a partir de seu Manifesto, também, apresentado no dia 29/01, mas apenas publicado no dia 4/02. Em linhas gerais, o Manifesto afirma a necessidade de conformar um espaço de debate e atuação que estimule a luta pela garantia da vacinação universal imediata da população brasileira, a partir da falta de um plano nacional ou distrital de imunização. Apontando o importante papel que a UnB pode cumprir nesse sentido. Uma das ideias centrais é lutar pela vacinação de todos para que possamos voltar às atividades presenciais de forma segura.

O Manifesto integral pode ser lido aqui

Partindo de reivindicar o espaço com capacidades de fomentar amplos debates democráticos e organização entre a comunidade acadêmica, nós estudantes de diferentes cursos da UnB e organizados no coletivo Faísca - Anticapitalista e Revolucionária estivemos em todas as reuniões participando ativamente, intervindo e propondo encaminhamentos para envolver amplamente a comunidade acadêmica na iniciativa para lutarmos pela vacinação para todos.

As reuniões ocorrem todas as sextas às 11h, normalmente com a seguinte pauta: informes, análise de conjuntura e encaminhamentos. Sendo sempre reiterado que na semana subsequente serão implementadas e divulgadas as ações que foram debatidas e encaminhadas.

Nesse sentido, a questão que colocamos é: o Comitê, desde sua criação, vem se mostrando como um espaço de amplo debate democrático entre a comunidade acadêmica? Inclusive, apontando o papel que a UnB pode cumprir no tema da vacinação? Vem servindo como um espaço de organização de todos aqueles que se revoltam com a absurda falta das vacinas?

O que se fez até agora no Comitê?

O debate político que perpassa o Comitê ilustra seu caráter e também suas potencialidades. Partimos de debater esses pontos políticos para pensar, justamente, se o Comitê aponta na direção que se propunha o Manifesto ou não, e caso contrário, qual Comitê é necessário? Comecemos pelo que foi encaminhado até agora.

O espaço é, na prática, dirigido por militantes do MUP (Movimento por uma Universidade Popular), do PCB, que compõem o DCE com o PT, PCdoB, Levante e PSOL (apenas alguns dirigentes do DCE, reunião sim, outras não, aparecem nas plenárias). Da mesma forma, apenas alguns membros dirigentes da ADUnB, dirigida pelo PT (e inclusive membros do Conselho Universitário da UnB) participaram até agora. Todas as reuniões não passaram das 30 pessoas e em sua maioria os participantes são dirigentes de algumas das correntes políticas mencionadas. O Comitê contou com a participação de um dirigente do SINTFUB apenas na primeira das plenárias.

Esse é um primeiro ponto de crítica: as plenárias são esvaziadas, mais informativas do que políticas e não um espaço real de debate, decisão e organização, e mostram mais a política das direções atuais das entidades do que algo orgânico construído desde e com a base.

Apesar disso, nós da Faísca, entendemos que esse é um espaço importante para a organização e mobilização dos estudantes aliados aos trabalhadores de forma independente da Reitoria. Desde a primeira reunião, colocamos a importância de confiarmos apenas na força da nossa mobilização para garantir a vacinação da população. Principalmente para todos os trabalhadores que são linha de frente, começando por exigir a vacinação imediata para um setor que não parou durante toda a pandemia na própria UnB: o Hospital Universitário (HUB) e os terceirizados, que continuaram trabalhando em condições precárias, sem o mínimo garantido pela Reitoria que são os EPIs ou a liberação de todos com remuneração. Dessa forma propusemos que o Comitê apoiasse ativamente a luta das e dos trabalhadores do Hospital Universitário da USP que paralisaram até que todos fossem vacinados (tanto os efetivos quanto os terceirizados), a paralisação ocorreu dia 4/02 e acabou ficando datada a proposta de apoio, pois ela terminou e os dirigentes do Comitê que aprovou apoiá-la não levaram isso a frente, portanto que segue sendo um exemplo de luta e força.

Viemos reiterando as nossas propostas em todas as reuniões que foram acatadas pelo Comitê desde a 1ª reunião: 1- Campanha de fotos pela VACINAÇÃO PARA TODOS JÁ; 2 - Ato unificado dos 3 setores pelo direito à vacinação de todos os trabalhadores da UnB da linha de frente imediatamente (terceirizados, HUB) ou liberação dos mesmos com remuneração e sem nenhuma perda de direitos. Ambos encaminhamentos não foram divulgados nem implementados até hoje. Na penúltima reunião (12/02), fechamos a seguinte consigna: “Vacina para todos, já! Pela vacinação imediata dos trabalhadores efetivos, terceirizados e estagiários do HUB e todos da área da saúde!” E o ato que havia sido marcado no Comitê para o dia 10/02, mas que não ocorreu, seria remarcado para os próximos dias.

Veja também: UnB: Por uma campanha de vacinação imediata dos trabalhadores linha de frente

A Faísca já deu o pontapé inicial da campanha, mande sua foto também para o Whatsapp: (61) 99903-2711

Consideramos essas propostas importantes no sentido de mobilizar a comunidade acadêmica para a luta, construir um Comitê amplo e ativo. Isso é, primeiro de tudo, tarefa da direção política das entidades.

Desde o começo, expressamos claramente o que defendemos. Por outro lado, a direção política do Comitê, até agora, pouco fez e parece não mostrar uma direção concreta do que quer, manteve um espaço morno e pouco condizente com o próprio intuito de seu Manifesto, o qual, aliás, nunca foi debatido amplamente por ninguém.

O debate político no Comitê e seu próprio sentido de existência

Das questões tratadas nas reuniões, cabe questionarmos duas: por que defender um Comitê independente da Reitoria - algo que a direção da ADUnB não vê necessidade, mas o DCE também nada questiona - e qual saída política o Comitê deve defender.

Primeiramente, de qual lado está a Reitoria? Certamente não é do nosso lado: ela representa os interesses dos de cima; não esqueçamos que foi a gestão de Márcia Abrahão que demitiu mais de 500 terceirizados em 2018, não os liberou com remuneração meio pandemia, inclusive muitos foram demitidos, a gestão da universidade não garantiu nem EPIs para os trabalhadores, além de aprovar o Ensino Remoto sem a participação dos estudantes na decisão, que precariza e excluiu vários estudantes, e não pagou a assistência estudantil do mês de fevereiro, dificultando a permanência dos estudantes precarizados na universidade.

Com isso tudo, a Reitoria coloca um entrave e é a principal responsável dentro da UnB para que a universidade não se ligue, de fato, às demandas da população e que agora a luta por garantir o direito à vacinação é uma das mais latentes. Exigindo a vacinação imediata para os setores da linha de frente que são trabalhadores da saúde, do HUB, e os serviços que não pararam de trabalhar na UnB durante a pandemia, como os terceirizados e vigilantes.

Isso, na verdade, não está desligado de como as direções atuais do Comitê organizam o espaço, mas em última instância para que direção ele aponta no sentido político.

É a partir desse elemento que, nos pontos sobre “análise de conjuntura”, na maioria das falas se expressa um grande rechaço à política negacionista e nefasta de Bolsonaro no combate ao vírus, porém, ainda com ilusões de que a resposta para todo este caos virá de dentro das instituições do regime que foram atores fundamentais do golpe institucional em 2016. Como é expressado na exigência do último parágrafo do Manifesto: “(...)Que os poderes executivo, legislativo e judiciário abandonem o imobilismo e assegurem a vacinação para todo o povo brasileiro!!”, e no debate que se abriu, principalmente, na 1ª e 2ª reunião pela integração do Comitê na campanha pelo FORA BOLSONARO e impeachment, no qual pensamos diferente e na seguinte forma.

Entendemos que não basta apenas tirar Bolsonaro e trocar de general para o Mourão, há uma debilidade estratégica ao confiar em uma saída institucional que é o impeachment. Acreditamos que precisamos combater o regime de conjunto, não podemos confiar nos poderes desse regime golpista que vêm operando uma agenda neoliberal de ataques sistemáticos à classe trabalhadora e ao povo pobre, que se aprofunda ainda mais na pandemia. Sabemos que Bolsonaro e Ibaneis são nossos inimigos declarados, assim como todo o regime do golpe institucional instalado e consolidado nos últimos cinco anos. O STF, o Congresso Nacional, os governadores e militares, junto a Bolsonaro, tiveram participação ativa na organização triunfal da catástrofe econômica e sanitária, que nos fez chegar até aqui.

O governo já se mostrou incapaz de garantir um plano racional ou minimamente efetivo de vacinação da população, assim segue ceifando a vida dos trabalhadores, deixando ainda mais explícito que a saída não virá das mãos dos políticos burgueses ou da indústria farmacêutica, comprometidos, ambos, acima de tudo, com a manutenção de seus lucros. Dessa forma, a solução da crise sanitária e do caos da vacina só pode vir do combate das forças organizadas da classe trabalhadora, da juventude e dos setores oprimidos (mulheres, negros, LGBTs), tomando essa tarefa nas nossas mãos. A irracionalidade da produção capitalista é absurda, com as patentes e a propriedade intelectual a serviço apenas do lucro, sendo um entrave constante para o livre intercâmbio do conhecimento científico e suas pesquisas.

Para isso, defendemos uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, imposta pela luta, cuja dinâmica intensifica os choques entre os interesses das classes, que exige a auto-organização e autodefesa dos trabalhadores contra os poderes do Estado capitalista. Esse é o caminho independente para que toda população possa decidir os rumos do país, pelos métodos da luta de classes, só assim será atendida as reivindicações dos setores em luta, o fim do teto de gastos, revogação a reforma administrativa, a PEC emergencial, além de, também, poder organizar, com o protagonismo das massas, um plano racional e nacional de imunização, com a estatização de todo sistema de saúde, das empresas farmacêuticas e dos laboratórios sob controle dos trabalhadores e a quebra das patentes das vacinas, para sua ampla produção e distribuição, como viemos colocando nos debates do Comitê.

Leia mais: A Constituinte de massas e sua força material e também As disputas entre o STF e as Forças Armadas reatualizam a luta contra o regime do golpe institucional

O que isso tudo tem haver com o Comitê?

O potencial que a UnB pela Vacinação tem de organizar os estudantes, trabalhadores e professores é tremendo, porém a coordenação do Comitê, por parte dos estudantes (em particular o PCB, através do MUP, mas também todo o DCE e as atuais direções das demais entidades) têm de fazer um balanço e primar pela independência de classe.

Ou seja, o Comitê ainda não se tornou um espaço de amplo debate democrático entre a comunidade acadêmica, de forma a organizar os três setores da UnB e apontar o papel que a universidade pode cumprir na distribuição universal da vacina no DF. E mais: diante da atual direção do Comitê ele aponta para não se tornar um espaço político de luta, de deliberação ampla e democrática, uma faísca para a auto-organização dos três setores da universidade.É preciso que os estudantes tomem esse comitê e a luta pelo direito à vacina em suas mãos!

A UnB não existe separada do DF, do país, dos governos e seus representantes dentro dela, do modo de produção capitalista. Se queremos que o Comitê seja espaço de luta, precisamos defender que ele seja independente e aponte no sentido da auto-organização dos três segmentos da universidade, a fim de estimular o mais profundo questionamento sobre o papel da universidade frente a crise da pandemia e para a sociedade, sua relação com a da estrutura de poder atual da universidade, e em última instância, da ordem capitalista.

Saiba mais: UnB, Ensino Remoto e pandemia: uma visão crítica

***

Por fim, reforçamos que as reuniões e decisões do Comitê sejam amplamente divulgadas, com um chamado amplo e sistemático para todas as categorias, especialmente os estudantes que são maioria massiva na universidade e podem dar um novo fôlego aos demais setores, e não dois dias antes da reunião, a partir do DCE, de cada CA, sala de aula, grupos de Whatsapp.

A Faísca convida a todos, todas e todes estudantes e demais trabalhadores e professores da UnB a participarem ativamente das reuniões. Tomando em suas mãos essa luta fundamental para a comunidade UnB, especialmente para os trabalhadores que nunca tiveram quarentena, e toda a população. Chamamos todos os estudantes a tomar para si a construção dessa ferramenta de luta tão importante, retomando um movimento estudantil combativo e revolucionário, meio a esse cenário totalmente controverso e meio a todos os ataques que viemos sofrendo.

 
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