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COLUNA
Perspectivas da economia brasileira
Seiji Seron
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A pandemia provocou uma retração ímpar do PIB brasileiro. A “prévia” divulgada pelo Banco Central na última sexta (12) é de um tombo de 4,05% em 2020. Este seria o pior resultado desde que o cálculo passou a ser feito pelo IBGE, em 1996 (antes era a FGV) mas nem parece tão mal se comparado às previsões do FMI e do Banco Mundial de junho e julho do ano passado, de -8% a -9,1%.

O setor de serviços, que é o principal componente setorial do PIB, encolheu 7,8%. Este setor é o mais diretamente afetado pela pandemia e, portanto, o que mais depende da vacina para a retomada de suas atividades. É por isto também que o desemprego continua no patamar recorde de 14%, apesar da geração líquida de 142.690 empregos formais no ano passado. O mais surpreendente é que a indústria criou 95.588 novos postos de trabalho formais, menos apenas que a construção civil, que gerou 112.174. Porém, metade de todos os postos formais criados no ano passado são de trabalho intermitente, uma modalidade sem salário e jornada fixas, estabelecida pela reforma trabalhista.

Apesar de ter caído 4,5% em 2020, a produção industrial teve oito meses consecutivos de crescimento, acumulando neste período uma alta superior às perdas de março e abril. O resultado da indústria em dezembro também foi 8,2% maior que o do mesmo mês de 2019. Tal desempenho beneficiou-se da desvalorização do real, que barateia as exportações, tornando-as mais competitivas, e encarece a importação de produtos estrangeiros que possam competir com os de fabricação nacional. Beneficiou-se ainda das facilidades de financiamento propiciadas pela baixa histórica da taxa básica de juros, a Selic. Atualmente, esta taxa é negativa em termos reais, ou seja, é menor que a inflação. Todavia, o principal responsável pela contenção dos efeitos negativos da pandemia sobre a economia foi o auxílio emergencial, que estimulou o consumo e tornou as taxas de pobreza e de extrema pobreza as menores do país desde a década de 1970 O que isto evidencia é não a suposta “excessividade” do valor do auxílio, mas a dimensão da miséria do povo, já que se considera “pobreza” uma renda familiar mensal de R$ 457,00, e “extrema pobreza”, de R$ 154,00, enquanto o Dieese calcula que o salário mínimo deveria ser R$ 5.403,00 para satisfazer as necessidades constitucionalmente reconhecidas de uma família trabalhadora. Hoje, a pobreza e a extrema pobreza são maiores do que antes da pandemia.

No último mês de auxílio, o varejo ampliado caiu 3,7% com ajuste sazonal, e o restrito (que exclui automóveis e materiais de construção), 6,1%, consideravelmente mais que o previsto. Mas os estoques estão baixos, e há uma defasagem temporal entre o crescimento e o aumento do emprego (entre os capitalistas decidirem contratar e as contratações ocorrerem). Isto, mais a possibilidade de um novo auxílio, mesmo que de menor valor e para menos pessoas, implica que o consumo deve cair, mas não despencar, em 2021.

O câmbio desvalorizado também favoreceu o agronegócio, que exportou US$ 100,8 bilhões em 2020, o segundo maior valor em dez anos e 4,1% maior que em 2019. Desde o final do ano passado, o preço das commodities tem subido, o que está relacionado a retomada da atividade econômica na China e em outros países, de modo que o desempenho desse setor não deve piorar. Há até quem fale em um novo super-ciclo das commodities como o dos anos 2000, embora isto ainda seja incerto. Além da desvalorização cambial, o aumento dos preços internacionais dos alimentos e do petróleo têm provocado uma aceleração da inflação, o que motivou o BC a anunciar que irá aumentar gradualmente os juros ao longo do ano. Este aumento também deve estimular o influxo de capitais de curto prazo (bursáteis) para o Brasil, e tanto isto quanto a demanda mundial de commodities irão tornar mais confortável a situação das contas externas do país, que possui, além disso, um estoque de reservas internacionais de US$ 342,6 bilhões, um dos maiores do mundo.

Tudo isso aponta para uma recuperação da economia brasileira em 2021. “Recuperação”, entenda-se bem, não significa que a crise ficou para trás e estamos no começo de um novo ciclo ascendente, mas simplesmente que este ano não deverá ser pior que o anterior, salvo na hipótese nada descartável de choques causados, por exemplo, pela maior proliferação de novas cepas do coronavírus ao redor do mundo ou pelos riscos de um endividamento global que já 3,5x maior que o PIB mundial. É uma recuperação assentada sobre patamares elevados de desemprego, inflação e pobreza, enfim, sobre a degradação das condições de trabalho e de vida das massas populares. Evidentemente, esta degradação não será revertida por privatizações ou reformas, como a administrativa, a tributária ou a PEC emergencial, que visam apenas assegurar ao capital financeiro que o Estado continuará pagando a dívida pública. Nunca estamos todos no mesmo barco; o preço das crises capitalistas sempre é pago por alguém. Lutemos para que não seja o povo trabalhador, e sim os próprios capitalistas que paguem.

 
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